quarta-feira, 25 de julho de 2012

Zarayland 19 começa agora:

Minha gente é com grande emoção que escrevo este Zarayland 19. Fui ao Rio no início deste mês e pude participar de grandes eventos por lá. Primeiro o 77º aniversário de minha mãe: Dona Mira e depois o reencontro na festa do Daniels Bar. Perdi o aniversário de Dandara Guerra, mas fui no do Bigode. Perdi a festa junina da Gisela mas fui na festa junina do colégio de minha filha Luisa. E assim escrevi esta nova edição, que conta um pouco de:

1) A festa no dia 12 de julho do Bar do Daniels bar, numa “desculpa” do documentário revivemos e vivemos grandes momentos ali;

2) Falo sobre o livro 25 Contos de J.Marujo feito inteirinho com contos criados a partir de nossos EnContos em Nova Iguaçu;

3) Escrevo sobre o bar EL CHICANO aqui de Recife, bar que hoje é meu espaço preferido por estas plagas;

4) Orgulhosamente na coluna MEU POVO desta edição escrevo sobre minha mãe: Zulmira Nobre de Oliveira. Ou para os amigos: Dona Mira

5) Inauguro a coluna do Buraco Virtual do Desenrolo Filosófico que é um grupo criado pelo poeta Allima (Anderson Leite Lima) no Facebook, onde uma nova galerinha vem postando textos bastante interssantes. Resolvi então abrir espaço no Zarayland para pescar o que mais curto por lá. Para começar esta nova coluna, selecionei um texto do criador do “BVDF” chamado “Meu Casaco Velho” uma pequena obra prima que me lembrou os quadrinhos de Jacques de Loustal;

6) E para fechar, como de costume, a Coluna DMV de Marlos Degani sobre um disco de um programa dos anos 80: Cometa Loucura.

Divirtam-se!

Um beijo um queijo e um beliscão de caranguejo

A Festa do Daniels Bar – 12 de julho de 2012


Foi mais ou menos assim: Criaram uma comunidade chamada Documentário Daniels Bar e de repente toda uma galera que não via há anos estava lá trocando lembranças, postando fotos e histórias sobre um bar que foi o berçário criativo e ponto de encontro de toda uma geração de artistas e de pessoas interessadas em cultura. (ver aqui o texto que escrevi sobre o bar para entender melhor)

Se não me engano numa conversa com Jamaica, Stela Guedes e Ronaldo Paz veio a idéia de um reencontro físico desta turma. Sugerimos o antigo espaço onde fucionava o bar, mas o poeta Allima foi lá pessoalmente e constatou que agora funcionava uma boate de strip e sugeriu que fizessemos este encontro no Bar Estação Floresta do amigo Flavinho que prontamente se prontificou a ceder toda a infraestrutura luxuosa do bar.

Para escolher a data nada melhor do que um argumento forte. Este argumento quem deu foi o ator Marcos Serra que sugeriu uma quinta-feira véspera de seu aniversário. E como num passe de mágica tudo estava encaminhado e sacramentado.

A Dalvanéria criou o evento e começou a divulgação.

Uma ansiedade por esta data começou a rolar por todos que por ali postavam suas aventuras. Ressuscitados apareciam para confirmar presença, de longe amigos faziam esforços para poderem estar presentes na data marcada e no dia 12 de julho de 2012, rolou a grande festa.
Rever aquela trupe foi algo que dificilmente conseguirei descrever em linhas só com palavras. Foi poesia pura. Foi o revival de uma época em que sonhos se construiram onde a liberdade era total e por mais que naquela época fossemos - na maioria – duros (lisos, sem grana), viviamos intensamente.

Alguns momentos me marcaram indelevelmente, como rever a Eva Morenna, ver o Gabriel (filho de Fernanda Morais e Wanderley Santos) substituindo o pai maravilhosamente ao lado da mãe e do tio Beto Rocha (Grupo Elemento) cantando entre outras músicas “Barcaça”, o poeta Jr. Júnior declamando “Sexo em Moscou” de Mano Melo emocionado como nunca e levando a galera ao delírio, Daniel Guerra puxando o hino do bar “Viajando” e ver todos cantando juntos, Robson Luy revivendo o Karaokê Showcante, Bia e Marília (filhas nossas) dublando e inaugurando a nova geração...

E teve mais, muito mais... Teve Negretti, Cassia Cabral, Nelson Freitas, As Meires, Cris Amaral, Tuninho, Eliane de Austin, Eud Pestana, Moduan Matus, Roberto Lara, as “Tinocos” e herdeiro, André Luz com sua gaita mágica, Laranja e seu macacão – marca registrada – de 20 anos atrás e ainda com a mesma cara de menino.

Se fosse escrever tudo...

Muitos não puderam ir e já pensamos num segundo encontro, por hora para registro, deixo aqui alguns comentários emocionados que algumas iluminadas pessoas deixaram no grupo:

Por Stela Guedes
Muitos de nós ansiavam nosso reencontro, eu era uma. Nasci em Nilópolis e sempre amei a Baixada. Sempre quis escever. Quando era pequena enrolava uma folha de papel que, depois de desenrolada se armava em espécie de maquininha de escrever. Eu desenhava teclas e ficava tlec, tlec, tlec o dia inteiro. O lápis na boca era um cigarro porque eu achava que todo mundo que escreve fuma. Nunca fumei, mas virei jornalista para "mudar o mundo". Antes de conseguir meu primeiro emprego no Jornal de Hoje, ainda na faculdade, fundei o Baixada Notícias (o Baixadinha como todo mundo chamava) e foi aí que comecei a conhecer o bar e todo o mundo do bar. Eu tinha 25 anos, dois filhos e recém separada. Eu queria falar da dureza, das dificuldades e das alegrias, belezas e sonhos, tudo junto. O "Baixadinha" durou até o Globo lançar o Globo Baixada. Nossos anunciantes nos deixaram. Eu já estava no "O Dia" e continuei fazendo a mesma coisa. Ontem, uma pessoa muito querida, me disse "eu não lembro de você no Daniel". Não faz mal. Acho que isso tinha muito a ver com o fato de eu sempre estar atrás da máquina fotográfica e de, nas madrugadas, mais fechar matérias e jornal do que qualquer coisa. Acho que escrevi sobre todos os grupos de cultura, enquanto denunciava grupos de extermínio e chacinas. Eu não sabia dançar, cantar, nem recitar poesia. Mas achava que o meu ofício era escrever. Era a nossa vida que eu narrava, não a de ninguém estranho, a nossa. Eu não sabia trocar filme de máquina fotográfica, mas saía fotografando. Encontrava o Walter Filé nas atividades, pedia pra ele trocar o filme e aprendi muito sobre fotografia com ele. Aprendi o que precisava naquele tempo para fazer o que eu mais desejava. Não sou daquelas que diz que "a melhor época é a que se vive hoje".

Eu sou nostálgica sim. Mas invento um motivo: a época em que alimentamos os sonhos é a melhor época da vida. Aquela foi a minha época mais querida. Porque escrevia e alimentava, escrevia e alimentava. Falando do que se lembra e do que não se lembra. Eu adoro ser chamada de Stelinha. Mas o Daniel Guerra sempre me chamou de "Sterzinha", desde aqueles tempos. Ele nunca disse como todo mundo "Stelinha". Quando ele falou ao microfone "Sterzinha" foi a primeira vez que chorei no nosso reencontro. A segunda foi quando eu falava ao Nelsinho "Puxa, faltou o Trio Hora H". E Nelsinho disse: "Porra tua amava eles, não perdia um show". É verdade, eu amava e não perdia. Mas o que me emocionou foi o Nelsinho lembrar disso. As outras vezes foram, claro, ver filho de gente amada espalhado por ali, impregnados de poesia e música.

Tudo o que escrevi, de ruim e de bom, vinha, eu sentia, quando era crianças, mas começou a tomar cara de gente mesmo, ali, nas mesas do Daniel, nos bloquinhos dos jornais em que trabalhava e nos guardanapos. Eu comecei sendo ali. E tenho tanto amor a isso que não dou conta.

Os famintos, como somos, devoramos o que vemos e já querendo mais. Faltou muita gente, muitos abraços guardados.

Estranho é ódio, ruim é ódio, esquisito é ódio. Que beleza é poder dizer: amo todos vocês!

Por André Jamaica
Ontem comentava com a Stela Guedes que estava muito feliz porque numa conversa dentro do grupo formado nesta rede social manifestamos o desejo de nos reencontrarmos, eu, ela, Cézar Ray Oliveira e Ronaldo Paz. Tudo deu-se de maneira quase furtiva. Anderson Leite Lima viabilizou o espaço, Dalvanéria Santos se empolgou e deu força, Daniel Guerra já estava na pilha do documentário, Marcos Serra Nulo oportunamnete sugeriu a data e de repente estávamos ali, tudo real, tudo de fato e de direito, tudo de verdade. Emocionei-me em vários momentos. Cantar o Reggae do Zé Pereira era algo que não fazia praticamente desde o fim do bar . Fechei os olhos e me senti entrando num túnel do tempo. As lágrimas de Eva Morenna me fizeram mais uma vez acreditar que tudo, tudo o que vivemos valeu a pena! Como se tudo o que eu vivesse naquele bar só fizesse sentido depois daquelas lágrimas. E a minha maneira, chorei com descrição. Ver o Gabriel, filho de Fernanda Morais, cantando com ela e Beto Rocha é o que chamo de legado, de herança, de continuidade. Ouvir as poesias do Desmaio Públiko, as músicas que foram a trilha sonora dos nossos sonhos de uma sociedade libertária, justa e feliz recarregaram minhas energias para muitos anos mais. Choro agora, escrevendo essas palavras, Um choro libertário, justo e feliz! Tal qual nossos sonhos! Não consigo parar de chorar, não consigo mais escrever...

Por Alex Freitas
Depois de tanta emoção veio o silêncio, qualquer indagação seria mera redundância a alegria extasiante foi profunda demais. A alma daquele instante foi aprisionada, e ganhou a liberdade naquele momento, viajou milhares de km no tempo caindo assim naquele instante. No fundo da minha inspiração, e no trajeto do meu interior estará pra sempre registrado e devidamente guardado na biblioteca do meu acervo. Me perdoe minha individualidade é que eu vejo tudo como todo, meu intocavel e indivisível nessas historia vocês me pertecem como se fossem personagem da minha história. Agradecido!

Por Eva Morenna
Eu ficava o tempo todo repetindo a mesma coisa: "É muita emoção para uma noite só!!!!!". No retorno pra casa, eu só pensava em uma música: “Emoções”. Sei que a mesma já foi usada diversas vezes na mídia pra demonstrar emoções. Mas não teve jeito, ela não saiu da minha cabeça. E é exatamente isso que estou sentindo!

Faltaram os lindos textos de Rogéria Freitas, Hugudão Guimarães, Cris Amaral entre outros mas você pode encontrar tudo e muito mais (muito mais fotos e histórias) aqui:

25 Contos – J.Marujo



Me orgulho muito de alguns movimentos dos quais participei. Em alguns tive idéias que acabaram por redirecioná-los. Os encontros para leitura de contos de escritores consagrados organizados por Lafaiete Suzano, Mauro Almeida e Henrique Souza foi um deles. Quando participei da terceira edição, sugeri a criação de nossos próprios contos baseado em uma antiga idéia, também iniciada por mim, Eduardo Oliveira, Ricardo Siciliano, Marton Olympio e Odervan Santiago. Não esperava que esses encontros, batizados de EnContos fossem tão longe e dessem tantos frutos.

Um deles é o livro 25 Contos de J. Marujo (Mauro Almeida) lançado em 2008 com capa fantástica de Sil e auxílio luxuoso de Moduan Matus, com as primeiras vinte e cinco criações deste escritor, artista-plástico e advogado!!!

Mauro é um expressionista nato. Marujo que navega muito bem em mares violentos e caudalosos ou ainda quando aporta em lugares libidinosos e amorais. A realidade em viagens quase sempre ilustradas com violência e sexo é sua matéria prima. Mauro cria imagens poéticas com visões pessoais, quase de parágrafo em parágrafo, as vezes líricas outras cruas e reais. Lafayete Suzano, que escreveu seu prefácio, escolheu belos momentos para ilustrá-las, como:

“Interessa-me o som quase inaudível do silêncio”
“Parecendo carregar nas costas o enorme peso da culpa dos mortos”
“Quanto mais brigava, mais batia. E quanto mais batia, mas brigava”
“Nessas horas, nuves cinzentas são como mortalhas: requer silêncio”
“Dúvidas amontoadas são como nuvens cinzentas de chuva e trovoadas, não tardam a mostrar a que vieram”

Acho que não foi proposital, mas na metade do livro encontra-se o único conto doce com o sugestivo nome de “Por um Dia de Paz”. Como um oásis no meio do caos. Como um intervalo para comer um doce e tirar a fel da boca. Como um respirar de ar fresco, no meio de tanta fumaça. O conto não divide o livro mas cria um certo parâmetro em sabê-lo na metade.

Citar qualquer conto é trabalho hercúleo, pois o livro funciona, meio, como uma máquina em que cada peça tem papel fundamental. E mesmo que tenha sido criado a partir de temas sugeridos vindo de diferentes pessoas e em diversas épocas, parece um livro conceitual. Daria até para ter outro título mais adequado se o mesmo, não fosse uma sacada tão genial.

Eu tive o prazer de ouvir muito desses contos em primeira mão em nossas reuniões e um prazer redobrado, depois, quando os li eternizados no livro. E entre gargalhadas, surpresas, raivas e tantas outras emoções, posso garantir que 25 Contos é um retrato expressionista de um dos movimentos dos quais mais tive orgulho em participar: O EnContos de Nova Iguaçu!

O El Chicano

O El Chicano é um bar temático que fica quase na esquina da minha casa aqui em Recife. Decorado com todos os excessos que a cultura mexicana pode proporcionar, o bar tem um clima todo próprio e hoje em dia é onde facilmente podem me encontrar.

A primeira vez que o visitei, se não me engano, foi durante um caranval quando fugia do calor escaldante do bloco “Acorda para Tomar Gagal” que trasformava a rua “tal” em um caldeirão de foliões ensandecidos. Entrei com Denise Dantas e ficamos na área climatizada comendo Burritos e tomando tequila (o calor que nos permitíamos).

Fui algumas outras vezes até lá, mais por falta de opção do que por gosto. Coisa que só veio acontecer quando conheci o Chico, dono do estabelecimento e figura fácil em suas mesas. Chico é “o cara” e a cara do El Chicano (e eu ingênuo concluí quando o conheci: Ah legal, Chico! El Chico! El Chicano). Bobagem! O bar já tinha este nome antes de ele virar sócio. Mas para mim ele é o “El Chicano”!

Com comidas apimentadas (pero no mucho) e cerveja gelada (ainda que seja a Devassa, cerveja que hoje manda nos bares recifences) garçons atenciosos como Lucas, Anderson e o famoso “Pancho Villa”, música boa (quando o DJ Thiago toca e não quando o Chico sisma em colocar aqueles DVDs de música brega mexicana) o El Chicano é um bar com alma.

Cada cantinho tem peculiaridades e decorações criativas. De cartazes antigos de refrigerantes e cervejas mexicanas às suas milhares de caveiras e seu banheiro com dezenas de espelhos de camelô (aquele mesmo com moldurinha laranja) que formam um espelho único e gigante (obra de Chico). Muitos panos, muitas cores, cactos, elementos religiosos, pimenta de todos os tipos, sombreiros e muito mais fazem deste bar, meu atual boteco afetivo aqui em Recife.

Diferentemente dos bares que costumo eleger “para mim” o El Chicano não é bem um bar para se fazer amigos. Seus frequentadores são pessoas bacanas, mas não fazem “meu tipo”. Chegam, já, com suas turmas e estão mais interessados em desfrutar o lugar com sua galera que conhecer gente nova. Mas nem por isso deixa de ser um lugar para eu marcar com os meus amigos, comer bem, beber muito e sair de lá feliz da vida. E ainda, sem medo da Lei Seca.

Já me ofereci para ser Dj nos dias de baixo movimento e o Chico me cobra sempre: “E aí? Quando vai colocar um som?” Mas fico protelando, imaginando os assíduos frequentadores ouvindo os sons doidos que EU gostaria de ouvir. Uma hora isso vai acontecer. Por hora deixo a dica, o El Chicano é um lugar de alto astral para jogar você para cima! Bem para cima! Arriba Arriba Arriba!

Rua Sebastião Alves, 45 Bairro: Parnamirim Telefone: 3269-5311 Horário: 18h/0h (qui. a sáb. até 2h)

terça-feira, 24 de julho de 2012

Meu Povo: Dona Mira


Não via a hora em que iria começar a escrever sobre minha família. Achei que escreveria primeiro sobre meu pai: Raymundo de Oliveira, mas inaugurarei escrevendo sobre esta guerreira que comemorou no último dia 1º de julho, 77 anos de idade. Zulmira Nobre de Oliveira, ou simplesmente, Dona Mira, ou para mim: Mãe.

Dona Mira nasceu em Água Preta, Itabuna, Bahia em 1935. Morou em Ilhéus e em Salvador, onde seus pais tinham uma pensão. Passei minha infância ouvindo histórias maravilhosas sobre sua infância e sua adolescência na Bahia. Do medo de passar nos “pontilhões” e do trem vir, às travessuras que aprontava. Dos hóspedes viajantes que passavam pela pensão aos hospedes moradores que viviam por lá. Histórias de fantasmas e de como cantava nas noites boemias da pensão ou ainda quando acompanhava seu pai a igreja só para cantar o hinário e ser aplaudida por todos os crentes.

Depois que seu pai separou de minha avó, a índia patachó Donice Martins, minha mãe teve que largar - a contra gosto - os estudos para trabalhar e ajudar nas despesas. Seu sonho de ser a advogada teve que ficar nos sonhos para que seus irmãos pudessem estudar.

Por volta de 1955, veio para o Rio e trabalhou como telefonista do hotel Flórida onde conheceu meu pai e daí casaram-se começando assim a minha história neste planeta.

Desde que me entendo por gente, lembro de minha mãe na máquina de costura. Fazia desde meus uniformes de colégio às minhas fantasias de carnaval. Meus terninhos para casamentos até meus shorts reforçados para brincadeiras num quintal/floresta onde morávamos.

Eu adorava vê-la costurando, ver como os tecidos deslizavam na máquina (primeiro uma Singer preta de pedal e mais tarde uma outra, branca motorizada) e quando menos esperava aquilo havia se transformado num vestido ou numa camisa já quase pronta. Era mágico!

Em muitas dessas vezes ela cantava e eu a ouvia como se o barulho da máquina fossem os instrumentos que acompanhavam sua bela voz em canções tão lindas que até hoje me encantam quando ouço nas vozes dos cantores originias.

Foi Dona Mira quem conseguiu a bolsa integral para eu estudar num colégio bom quando era pirralho. Foi Dona Mira quem me carregou nos braços e atravessando a passarela das Casas Sendas quando tive um princípio de febre reumática e que por conta do peso e do esforço acabou ficando com sequelas que precisaram ser corrigidas anos mais tarde. Foi Dona Mira que através de seus amigos (Maria e Jorge Gama) conseguiu meu primeiro emprego na Embelleze. Foi Dona Mira quem sempre esteve ao meu lado em todos os meus momentos felizes ou tristes me dando força e torcendo por mim. Me repreendendo nas horas em que errei ou me aplaudindo quando acertei.

Dona Mira adora uma conversa, pode passar horas e horas conversando. E é bem legal ver como ela reage as histórias. É cada espanto! Parece que você está contando a coisa mais inesperada do mundo, pois ela se surpreende de verdade! Fica com tanta raiva - de mudar o humor pelo resto do dia - se contam alguma injustiça feita a alguém que talvez ela nem conheça. Mas fica tão feliz quando vê o bem, que não sei se contagia-se ou se reconhece-se nas histórias de generosidade.

Quando eu vim morar em Recife e tive a possibilidade de ver a Paixão de Cristo em Nova Jerusalém lembrei que um dos sonhos de minha mãe era um dia poder assistir de perto este espetáculo. Lembrava dela dizendo: “Será que um dia vou poder assistir ao vivo?”. Não pestanejei, comprei uma passagem para ela e consegui realizar - ao menos - um de seus sonhos. E para mim foi o meu sonho realizado, vê-la tão emocionada ali. E tão pertinho de mim...

Dona Mira pode parecer uma mãe como tantas outras mães. Mas tem uma coisa que faz toda a diferença. Ela é a minha mãe. E por mais que você possa pensar que mães fazem sacrifícios pelos filhos, foi ela, Dona Mira quem fez por mim. E meu orgulho por ser filho desta mulher corajosa, justa, carinhosa, generosa é tão grande que me sinto tão pequeno ao seu lado que volto a ser uma criança que precisa sempre de sua proteção. Dona Mira mais que seu filho eu sou seu fã!

Buraco Virtual do Desenrolo Filosófico

MEU CASACO VELHO.

Era um mês tipicamente de inverno. Aquele Siroco soprava assustadoramente rumo ao oeste. Trazia consigo vozes desconhecidas, cheiro de flores e um punhado de poeira densa.

Em baixo do coqueiro, observava o ir e vir do tempo, que marcava cuidadosamente a rotação da Terra num compasso mais que perfeito da natureza.

Juntei pequenos gravetos secos e ateei fogo para amenizar aquele frio intenso. Eram 18h e a noite chegava lentamente. No céu limpo, estrelas despontavam majestosas, surgiam discretamente e logo se abria uma janela universal maravilhosa.

Eram constelações inteiras, desenhos imaginários, e lá no alto uma Lua única, dessas que permitia que víssemos, ainda que a olho nu, toda sua atmosfera, cavidades e montanhas lunares.

Aquele instante mágico soava como poesia do próprio Deus. Uma leitura ao avesso de Macunaíma. Aquela bola iluminada no espaço me parecia "Muiraquitã". A vontade era de ir até lá e recuperá-la. Certamente é lá que mora a Rosa, na redoma de vidro descrita na obra "O Pequeno Príncipe". Estava ali toda personificação do amor e seus mistérios mais profanos.

Sentia que o vento mudava de densidade e se chamava agora "Áquilo". Trazia o sol consigo e vinha do norte, do hemisfério boreal.

Não existiam mais poeiras nele, apenas o perfume deixado da noite anterior. Era Bia que me cobria, como se fosse meu casaco velho, tão valoroso e cheio de histórias próprias.

Fomos andando pela areia, abraçados, eu com meu casaco velho e Bia, agora, em forma de nuvens. Era o amor me provando mais uma vez sua imortalidade.

Allima

Alllima é Anderson Lima Leite poeta e entusiasta de tudo que é feito de bom no mundo. Seus textos tem encantado quem se aventura por sua seara. Estava escondido mas agora resolveu privilegiar o mundo com suas criações poéticas e seus movimentos positivos por aí. Sou fã.

Conheça o Buraco Virtual do Desenrolo Filosófico aqui:

Quer ler mais textos do poeta Allima?

DMV – COMETA LOUCURA


Jamais imaginaria por onde as velas do DMV poderiam me levar (e levaram).
Jamais imaginaria que pudesse eleger disco da minha vida um que fosse coletânea de vários artistas. Mas...

Antes de citar especificamente o DMV da quinzena (tenho impressão que vocês vão adorar conhecer pela variedade e riqueza das canções) quero dizer que se trata de um disco de 1983, feito outros até mais velhos que já foram recomendados aqui neste espaço. Tinha 14 anos. E ter 14 anos naquela época, meu caro jovem, era muitíssimo diferente do que ter 14 hoje em dia. Não vou entrar no mérito se melhor ou pior, mas uma das maiores diferenças era a de que tínhamos mais tempo. O dia parecia mais longo. Depois da escola de manhã, almoço e... Música, música, música... Abria-se um novo mundo da mesma forma que o Brasil abria-se para a liberdade. As FM´s passavam a ocupar um espaço maior do que simples tocadoras de músicas modulares. A comunicação estava entrando no ar.

Depois do rádio (tem uma crônica que escrevi sobre este assunto no sítio do Baixada Fácil e o link está registrado abaixo) e da minha vitrolinha, restava pescar na TV programas que privilegiassem a música. Um desses programas que passavam nas tardes de sábado (e que não durou muito) era o Cometa Loucura, uma atração comandada pelo saudoso Lauro Corona. Lauro foi uma das primeiras vítimas conhecidas da AIDS no Brasil. Não sei ao certo, mas acho que o programa acabou tão rapidamente por conta deste fato.

O DMV desta quinzena versa sobre a coletânea em LP Cometa Loucura, 1983, Som Livre, produção de Sérgio Motta que pretendeu, e presumo com relativo êxito, fotografar aquele momento do rock brasileiro, o que se torna bacana, porque se trata de um registro anterior ao do Rock in Rio, que aconteceu em 1985, já com outro cenário musical. É óbvio que algumas canções do disco em nada têm a ver com rock. Mas a maioria tem. Começamos por “Rio Babilônia” (quem se lembra?) cantada pelo Lincoln Olivetti (coisa rara) e Robson Jorge: Rio Babilônia, uououou, uouuouôôô... Rio Babilônia... Demais... A seguir uma gravação daqueles grupos de uma só canção: Sangue da Cidade com “Brilhar a Minha Estrela”, rock purinho e do bom... Seguimos na ocasionalidade da Blitz (que já estava estouradaça) com “Geme Geme”. Depois, uma das músicas que mais gosto do Lulu Santos até hoje em dia: “Tudo Com Você”. Não poderiam faltar duas podridões: “Mintchura” da Neusinha Brizola e “Pra Você Me Amar” do Herva Doce. Pulemos essas partes...

Chegamos em “Linda Juventude” musicaço do 14 Bis com arranjos fenomenais daqueles, então, garotos mineiros de cabelos compridos. Show de bola. Aliás, eu amo o 14 Bis. E sempre vou amar. Depois de outro lixo “Dentro Do Coração”, chegamos na colaboração do Lauro cantando “Não Vivo Sem Meu Rock” um singelo rockzinho; e depois “Ponto Fraco” do Barão Vermelho, rock puro, quase inocente do Cazuza e do Frejat bem no comecinho da carreira deles. Temos ainda de destaque Celso Blues Boy em “Caminhando” e a hilária “Meu Primo Zé” do Camisa de Vênus.

Vale a pena conhecer esta amostragem. Tenho certeza de que você vai gostar. Na minha vida há outras coletâneas que gosto muito, tipo Globo de Ouro, sem contar (e futuramente será tema de um DMV especial) os discos dos festivais MPB Shell da Rede Globo no começo da década de 80 do século passado. Muitas, muitas emoções.

Quem não ouviu, ouça. Quem não amou, ame. Quem nunca deu, dê vexame.

P.S.: Recentemente fui ao show do Roupa Nova na Fundição Progresso, aqui no Rio. E, surpresa, descobri que foram eles que gravaram vários temas famosos: Esporte Espetacular, Jornal Nacional e o das vitórias do Ayrton Senna. E também a abertura do Cometa Loucura...

Você sabia? Tic, tic, tic...

Não achei o disco para Download, a única coisa que encontrei foi este sítio que tem a relação das músicas e um pedacinho de cada só para dar o gostinho:


Marlos Degani é poeta e quando fui ao Rio não deu para ele me ver. Mas fazer o que? Sou fã do cara...

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