segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Zarayland Vinte!

Queridos amigos, cheguei a vigésima edição do Zarayland! Entre a edição anterior e esta perdi duas tias queridas. Tia Maria (parte de mãe) e tia Virgínia (parte de pai) em menos de duas semanas de diferença. Doeu demais. Esta edição 20 eu dedico a essas duas mulheres maravilhosas que diferentemente e em épocas distintas marcaram a minha existência!

Estou aqui firme e forte para contar para vocês:

1) O que era o encontro de Poetas EMBOSCADA POÉTICA que rolou lá em 1993 no Sabor da Glória – RJ e da apresentação que o Desmaio Públiko fez tranformando nossa presença obrigatória em todos os eventos de poesia do Rio daquela época.

2) A volta da coluna 10 Perguntas. Desta vez para o vocalista Cannibal (Devotos) que nos apresenta seu novo projeto: Café Preto

3) Na coluna MEU POVO falo de um grande amigo, Marcelo Peregrino. Um guerreiro da cultura e mais que isso, um irmão!

4) O grupo do Facebook BURACO VIRTUAL DO DESENROLO FILOSÓFICO desta edição traz o texto do Hugudão (já sócio deste blog) com uma linda história sobre um menino e a poesia.

5) Mais uma coluna que fez sucesso por aqui: Petiscos, Tequinhos e Tiragostos Zarayland dá mais três dicas bacanudas do que rola de mais legal, para mim, na rede.

6) E a tradicional coluna de Marlos Degani, DMV, fala dos disco FAGNER: 10 anos de Música, com direito ao disco (que eu mesmo montei) para você baixar.

E é isso, vida que segue!

Um beijo um queijo e um beliscão de caranguejo!

Emboscada Poética

O poeta Euclides Amaral me chamou para uma reunião no bairro da Glória para a criação de um evento de poesia que rolaria num bar chamado “Sabor da Glória” nos fundos de um brechó ali ao lado da estação do metrô e do CIEP Tancredo Neves.

O Desmaio Públiko bombava nesta época (1993), eu estava com a corda toda, excitadíssimo!! Parti com Eud Pestana para a tal reunião. Entrei mudo e saí calado. O projeto chamado Emboscada Poética era uma idéia dos poetas Genêsis Genúncio e Lúcio Celso Pinheiro (que batizou o encontro). Sugeriram ao dono do espaço, o arquiteto Miguel, uma noite por semana de poesia em seu bar tão escondidinho.

Na terça seguinte eu, J.A. Lima e Alcides Eloy fomos para a primeira noite do evento. Lá estava quase toda a fauna poética do Rio. E nos sentimos - um pouco – peixes fora dágua ainda que conhecêssemos a maioria dela. Lembro que antes passamos por Santa Teresa, bebemos umas no SobreNatural e na volta para casa, fomos andando até a Central do Brasil felizes, declamando poemas pelas ruas desertas do Rio...

O evento foi se organizando e a cada semana era dia de uma apresentação diferente. A primeira foi dos organizadores, ressuscitando seu antigo grupo Panela de Pressão e foi bombástico (com Euclides Amaral e Marko Andrade)!! Rolou apresentações de Samaral, Regina Pouchain, Tanussi Cardoso, Flavio Nascimento entre tantos outros. E com patrocínio da “Mortadela Presunto” o Desmaio Públiko apresentou o recital “A Noite é Feita de Ossos”.

Foi inesquecível.

Fizemos um roteiro com alguns temas, como Amor, Morte, Palhaço, Poesia e nos distribuímos pelo bar. Então, quando um poeta acabava de declamar do palco, outro se levantava do meio do público e declamava, outro aparecia no mezanino, outro na janelinha do segundo andar do brechó e assim fomos pipocando e o público se surpreendendo aqui e ali.

Eu e Laranja (J.A Lima) cantamos “Go Back” dos Titãs, na verdade ele cantou e tocou o violão e eu declamei o poema “Andar Andei” de Torquato Neto.

Lembro que fechei a minha apresentação com um poema assim: “Sem perceber / lá estava Ernesto / Viajando na fumaça / de seu cigarro / Se contorceu no bailado sinuoso / Subiu, Subiu, Subiu / E virou nuvem. / Depois veio / a tempestade de poesia.” E quando eu declamei isso, Moduan Matus e Sandro Murshausen jogaram baldes cheios de poemas recortados de xerox do fanzine, fazendo uma chuva poética cair sobre os presentes.

Fomos ovacionados!

Foram apenas cinco meses de encontros, muitos porres, muita poesia, discussões acaloradas, muitos beijos e muitos abraços!! A Emboscada Poética foi um daqueles grandes momentos da poesia carioca. Uma orgia literária com orgasmos múltiplos!!! Insuperástico!

10 Perguntas para Cannibal

Cannibal formou a banda punk Devotos do Ódio (hoje só Devotos) em 1988 ao lado de Neilton e Celo Brown no Alto José do Pinho – Recife. Em 1997 lançaram o disco “Agora Tá Valendo” e foi quando conheci a banda. Ouvia direto quando estava no Rio ao lado de Quirino e Jorge II. Quando vim para Recife comecei a esbarrar com ele e acabamos nos conhecendo. Agora em agosto Cannibal deu mais um passo em sua carreira, lançou ao lado de Bruno Pedrosa e PI-R o projeto Café Preto, uma onda mais reggae, dub e respondeu ao Zarayland logo após o primeiro show.

1) Seu visual sempre teve muito mais a ver com o Raggae que com o Punk/Hardcore, o Café Preto já era uma idéia antiga de tocar Reggae, Dub, Ragga ou foi um convite inesperado que te pegou de surpresa?

Nos anos 80 já existia uma banda com o visual reggae tocando punk hardcore, a banda Bad Brains, uma das minhas influências. Sempre fui bem eclético em relação ao que escuto. Nasci aqui no Alto José do Pinho e essa comunidade é uma rádio ligada em varias estações! Você escuta de tudo e convive com tudo: Samba, pagode, brega, afoxé, maracatu, punk rock HC, reggae e etc. Eu tenho muitas letras escritas que não coloquei na Devotos e há muitos anos queria musicá-las. Em 2007 tomei coragem e falei para mim mesmo que iria fazer alguma história com influências de Dub e Reggae. Encontrei com o DJ Bruno Pedrosa no Recife Antigo, falei para ele da minha idéia e perguntei se ele queria fazer as bases, ele topou na hora e fez oito bases em parceria de Pierre Leite, um dos melhores tecladistas de Recife. O trampo ficou tão bom que resolvi escrever tudo novamente e guardei as minhas letras antigas. Fiz 7 letras e convidei Oriosvaldo um poeta de Peixinhos para declamar sua poesia (Dos que se Encontram e se Encantam) coisa linda, ficou do caralho.

2) Ras Bernardo participa de “Compre” uma das faixas com maior teor crítico/político do disco. Como você vê esta ponte entre o Alto José do Pinho – Recife e Areia Branca – Belford Roxo, Baixada Fluminense?

Primeiro de tudo, Ras é uma grande influência não só na música, mas também como pessoa! Gosto e respeito muito suas idéias. Quanto ao lugar, só estamos distantes na geografia porque no cotidiano somos muito parecidos com pessoas que querem mudar para melhor. Espero que possamos ter um intercâmbio mais concreto, físico, mostrar como desenvolvemos as coisas por aqui e ver como eles fazem por lá e somar as forças!!!

3) Dandara e Oferenda são belíssimas canções de amor. Como foi encarnar este outro lado mais romântico até então inédito dentro de sua obra?

As pessoas só me conhecem com a Devotos, como falei sou super eclético, tenho muitas letras no estilo de Dandara e Oferenda. Adoro quando me convidam para participar de tributos em homenagem a algum artista que não tem nada a ver com punk hardcore, me amarro em desafios, coisas diferentes do que faço na Devotos.

4) Como serão os shows do Café Preto? Somente com as músicas do primeiro disco ou alguma música da Devotos poderá entrar com uma roupagem nova?

São só músicas do CD! Temos uma cover de uma banda de Recife chamada TRINDADE DUB, a música se chama: “Boa Vista” e é em homenagem ao bairro da Boa Vista no Recife. O baixista Eric Gabinio e o guitarrista Marcus Antônio tocam com o Café Preto. Faremos também uma versão da música “Preciso me Encontrar” do mestre Cartola.

5) Depois de mais de 20 anos tocando sempre com os mesmos caras, como é de repente tocar com uma banda totalmente nova? Como está o entrosamento?

Não é fácil, mas é prazeroso, eles tocam muito bem, mas ainda tem muito que aprender fora dos palcos e isso é muito importante para longevidade de qualquer artista. Pierre é super experiente e o DJ Bruno Pedrosa nunca trabalhou com banda, mas está assimilando bem as coisas.

6) Deixando um pouco o Café Preto agora, tem saudade do Rock Gol da MTV onde você sempre foi uma figura marcante?

Adoro o Rock Gol! É a confraternização dos artistas. E o mais legal é que somos tratados como jogadores de futebol, só falta o salário (risos) mas o resto é perfeito!! Tenho todas as camisas 10 dos meus primeiros jogos com Dado e o Reino Animal de 1997. Vai ser meu cachê quando eu leiloá-las na internet!!! (risos) Tenho Saudades!!!

7) Conte um pouco sobre o livro 20 Anos da Devotos que acaba sendo mais um livro sobre o Alto José do Pinho, sua revitalização e seus personagens.

O livro é uma pequena historias das bandas do Alto José do Pinho escrito por Hugo Montarroyos. Fala diretamente das bandas, mas a cultura do “Alto” é muito rica! Outras pessoas tentaram fazer um livro sobre a cultura geral do “Alto” e ficou uma merda porque fizeram sem nos deixar revisar, aí já viu a merda que já estava feita começou a feder!!! Mas o livro do Hugo é perfeito e verdadeiro, indico para todos!!!

8) O que você recomenda para os leitores do Zarayland ouvirem além do seu novo projeto? Alguma banda ou projeto novo anda te chamando atenção?

Banda Plugins:

Dona Baga:

Vitor Pirralho e Unidade:

Ras Felipe e China:

Jerivá:

Sierra Leone's Refugee All-Stars:

Sambatuh:

Arcanjo Ras:

Jimmy Luv:

Easy Star All-Stars:

Marcelo Santana:
Inner Terrestrials:


Bongar Grupo:

9) Sua foto com a bandeira de Pernambuco com as cores do Santa Cruz é clássica. Ícone da torcida tricolor. Muita fé de que o Santinha suba para a segundona?

Sou apaixonado pelo SANTINHA, o refrão da música “Nem Si nem Dó” é pra ele:
“Vamos esquecer isso
Esse papo é um improviso
Vamos para o Arruda
Ver o Santinha vencer

O lateral é avançado
O centroavante é um golaço
Meio de campo e o zagueiro
Tranqüilizam o Goleiro”

Estamos na maior torcida para isso, mas a minha paixão pelo SANTINHA não tem divisão!!!! Jah Bless

10) Deixe uma mensagem para os leitores do Zarayland:

Façam melhor ou pior, mas nunca faça igual, porque o óbvio não se comenta!!! CAFÉ PRETO – Jah Bless

Você baixa o disco do Café Preto aqui: http://cafepreto.mus.br/

MEU POVO: Marcelo Peregrino


Não me lembro quando fui apresentado ao Marcelo Peregrino. Lembro bem quando o conheci. Ele já tocava as sextas no Bar Raízes de Moduan Matus e Sil, ali ao lado da Prefeitura de Nova Iguaçu.

No fim ou no intervalo de sua apresentação, sentamos e bebemos umas cervejas e falamos sobre música, sobre quadrinhos, cinema e outros assuntos que me surpreenderam bastante, pois há muito não encontrava alguém com interesses tão próximos aos meus. Conversamos sobre autores de quadrinhos, como Allan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman (talvez seu predileto); sobre bandas dos anos 80, como The Smiths, Echo and The Bunnyman e The Cure (talvez sua banda preferida) e sobre músicos/bandas pernambucanas, Chico Science, Mundo Livre S.A., Antônio Nóbrega (talvez seu dileto artista) e houve uma sintonia de irmãos como se já nos conhecêssemos há décadas.

Peregrino me disse que já me conhecia e era um admirador de meu trabalho desde quando ainda morava em Duque de Caxias onde os poemas de alguns poetas de Nova Iguaçu eram declamados nos bares da cidade pelos poetas de lá, que tinham o Desmaio Públiko como uma de suas referências.

Marcelo Peregrino pode parecer para muita gente um cara complicado – até para mim – mas sua generosidade se confunde com uma cobrança – nunca para ele próprio – mas exatamente quando as pessoas que ele ajuda se preocupam mais com seus próprios umbigos que com o todo! Com a coisa maior. E Peregrino sempre se preocupa com o todo!

Profissionalismo e dedicação são as marcas registradas de Marcelo, além de sua generosidade e pré-disposição para encarar qualquer empreitada de terceiros, mesmo quando nada tem a ver com seus interesses. E afirmo isso: foi assim com o Cineclube Buraco do Getúlio de BioN! e Lua, com o Poesia na Varanda de Sylvio Neto, com a Radio Rua, o Desmaio Públiko, Manhãs de Outono entre tantos outros eventos que sem a sua boa vontade, tivessem se realizado sim, mas sem tanta riqueza!

Músico talentoso, regala-se mais com o trabalho de terceiros que com seu próprio material. Numa atitude altruísta - que sempre me impressionou muito, num mundo tão umbilical - está sempre disposto a trabalhar pelo sucesso dos outros que pelo seu próprio. Quando entra numa briga por alguém ou por uma causa, está disposto a ir até o fim, mesmo que para isso se sacrifique e se queime com pessoas que nem precisava...

Antes de vir morar em Recife (coisa que ele nunca acreditou que aconteceria de fato, achava que era só falácia) começamos a montar nosso estúdio musical. E estava ducaraio! Mas eu vim para cá...

Ele também foi meu companheiro nas noites do cineclube Mate com Angu em Caxias quando fui convidado para ser DJ durante uma temporada, montando todo o som deixando-me só com a tarefa de tocar. E nunca, nunca se intrometeu em meu set.

No final do ano passado quando o Desmaio Públiko (fanzine que Eud Pestana e eu criamos em 1991) fez 20 anos, vendo que não haveria da parte da Prefeitura de Nova Iguaçu nenhuma homenagem a esta data tão significativa para a gente – poetas que se descobriram com o zine – propôs um projeto ao Governo do Estado do Rio e conseguiu realizar uma linda noite emocionante para todos nós.

Tenho tantas histórias e débitos com este artista/amigo que se fosse falar tudo, daria uma edição do Zarayland inteira somente sobre ele. Uma das pessoas que mais senti falta quando me mudei para Recife. Um dos caras que achava seria o primeiro a vir aqui me visitar, mas até hoje, nunca veio.

Mas entendo o Pererê. Tem tantas outras coisas com que está envolvido diretamente que não sobra espaço em sua agenda. Do trabalho em seu estúdio, hoje em sociedade com o Rodrigo Batata à banda Charanga do Caneco (crossover de rock’n’rol com marchinas de carnaval), do duo de contador de histórias “Baú” a suas investidas em projetos culturais e brigas com a política cultural vigente da cidade.

Marcelo não para. É um guerreiro onde quer que coloque seus pés e suas habilidosas mãos. Caxias deve sentir muito a sua falta. Nova Iguaçu deveria agradecer sua presença. Eu, de cá, sinto muito saudade e agradeço por ser amigo / irmão deste malandro!

Buraco Virtual do Desenrolo Filosófico

ALFREDINHO

Alfredo tinha 10 anos de idade e uma vontade completamente atípica, era sede de mundo que seus amigos da mesma idade não tinham muito não. “Alfredinho” como era chamado por todos, era bem quieto, observava os amigos jogando bola e participava, do lado de fora, com seus gritos e total ironia das coisas. Nunca gostou muito de esportes e por aquela idade já estava certo de que não iria se aventurar em nenhum outro, embora só conhecesse os mais praticados no seu país. Um dia Alfredo estava na sala de aula e sua professora falou sobre poesia, ficou ele ali, quieto, olhos vidrados na lousa, enquanto a professora escrevia.

“POEMINHA DO CONTRA”
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

Alfredo leu, leu novamente e releu mais umas 10 vezes, algumas crianças ao seu lado riam, ele ali fomentado a entender o que a coisa queria dizer. Não sabia o significado de poesia e se viu confuso naquela escrita “com duplo sentido” que Mario Quintana eternizou.

- Alfredo, gostou? Entendeu? – perguntou a professora enquanto ajeitava os óculos na face.

O menino quieto, com os olhos na janela, procurava nas árvores do colégio, uma resposta.

- Professora, ser um passarinho é ser poeta? Tipo assim, um passarinho é o próprio poeta? Porque se as pessoas ‘passarão’ e ele passarinho, ele passa devagar ou ele é um passarinho?

A professora deu um pequeno engasgo, fez tossir, olhou novamente pra Alfredinho e disse:

- Sim Alfredinho. Se você entender que a mente de um poeta pode ter asas e associar que pássaros também as tem, você pode ser um poeta.
- Professora, ele é um passarinho ou ele passou devagarzinho? – insistiu o menino.
- Eu não sei te responder isso. Disse a mulher com tom de insegurança.

As demais crianças riam da cara de Alfredinho como se tivessem pena e achassem graça nas perguntas ‘sem sentido’ do menino quieto, tímido e observador. Naquela tarde ao chegar em casa foi a primeira coisa que perguntou ao seu pai:

- Pai, me explica o que é poesia?
- O que você quer saber filho? Perguntou o pai enquanto deitava no sofá.
- Queria saber o que é poesia e se o senhor tem alguma? Um tal de ‘Mario Mintana’ tem uma que a professora nos mostrou hoje.
- É Mario Quintana filho. Corrigiu rápido sorrindo.
- Isso! Esse Mario disse na poesia dele que era um passarinho. Mas e se ele é poeta, então, um poeta pode voar pai?

O pai ficou mudo, os olhos se voltaram para o teto por alguns segundos e ele disse:

- Não tem quando você está deitado, na hora de dormir, e fica se imaginando lá na casa de campo da vóvó? Quando você fica se imaginando lá, correndo, brincando, tomando banho de piscina, consegue lembrar com detalhes como é o sítio, o cachorro Rex da vó e até aquele cheiro que ele tem quando se molha?
- Sim pai, claro, claro, consigo! Dá até saudade.
- Pois então, mas você não esta deitado na cama filho? Como pode sentir tudo isso?
- Acho que é porque eu amo a casa da vovó e minha mente voa até lá, caraca!
- E quem voa é quem meu filho?
- Passarinho pai. Disse todo sorridente.
- Passar seu pensamento pra escrita em um papel, na hora em que você voa em pensamento como um passarinho, que te leva a alguém ou algum lugar que ama, te faz feliz, isso é poesia filho, acho que isso é a poesia.

Explicou meio aliviado e confuso.
- Pai, posso te falar uma coisa?
- Claro Alfredinho!
- Eu sou um Poeta então? Esticando o braço entregando um papel ao pai.

O pai meio sem entender, pega, ajeita o olhar e lê:

“Poeminha Da poesia”
Na janela da escola
tem árvores que são casa de passarinho
Lá o pensamento dorme,
O Mario Quintana voa,
O mal passa e a poesia
é um pensamento cheio de graça.”

- Que isso meu Alfredinho, meu filho, você é um poeta! Maravilhoso sabia?

O menino se pegou a sorrir enquanto abraçava o pai.

- Mas posso te falar uma coisa? Disse o pai com os olhos d’gua:
- Você é minha melhor Poesia.
- Ué pai, eu sou poeta ou sou POESIA? Ih, coisa mais confusa – disse ligando a TV.
- É filhão, vamos deixar pra amanhã, a gente continua essa conversa, meu poeta-poesia.
- ham?

Hugo Mendes Guimarães (Hugudão) Hugo é poeta desde pequenininho. Seu pai um poeta que não precisa escrever sonetos. Respira poesia. Mora lá em Búzios só para ficar perto do mar. Do amar. Da brisa e da musa. Tá sempre me surpreendendo com seus textos que me emocionam para caramba!

Conheça o Buraco Virtual do Desenrolo Filosófico aqui:

 Quer ler mais textos do escritor Hugudão?

Petiscos, Tequinhos e Tiragostos Zarayland

UM SORRISO TODO DIA

É mais um blog do meu amigo Marton Olympio! Marton é escritor, roteirista, diretor, flamenguista e cometeu esta pequena obra-prima: “Um sorriso Todo Dia” é uma forma dele trazer um sorriso para quem o acompanha. Com pequenas crônicas do dia-a-dia, cheio de poesia – tanto nas fotos como nos textos – uma proposta super do bem, Marton mais uma vez me surpreende com sua alegria e doçura, que nem sempre é vista ao vivo!! Recomendo muito uma olhada, sempre de manhã, neste blog, para você começar o dia sorrindo.


CASCA GROSSA HC

Esta é para quem gosta de hardcore, punk rock e músicas rápidas. É a rádio 24h do amigo vocalista da banda Os Cachorros HC aqui de Recife, Ajax Lins. A porrada rola bonita! Conheço Ajax só do Facebook, mas é um cara jóia. Hora estou de olho na guitarra Les Paul hora estou de olho do aparelho de som com vinil que está vendendo. Sua rádio é um energético dos melhores. Como disse meu amigo Giva: “É bom para curar dor de cabeça!”. Então é o seguinte, se você não for um iniciado é bom começar devagar!


BLOG DO ANDRÉ LUZ: De tudo, hum pouco! As vezes mudo toda hora.


André é músico. Percussionista. Mas compõe no violão. Faz parte da bateria de duas Escolas de Samba: Grande Rio e União da Ilha. Mas aqui ele escreve poemas. As vezes delicados, como quem faz origami as vezes violento como quem bate num tambor! Poemas e idéias e desabafos – mas tudo com bom molho – Antes ele usava imagens achando que ajudaria a ilustrar suas idéias. Atrapalhava. Agora sim, seus textos ganharam a liberdade, voam sem cercas nem arames farpados. E nós voamos juntos

DMV – Fagner 10 Anos



A angústia do mundo, aliada ao costume de se trabalhar com palavras, faz com que as oportunidades de exercitar as idéias num texto, acabem em confissões públicas. E não é diferente com o DMV. Às vezes uso a paciência de vocês para despressurizar o meu coração.

O DMV desta quinzena versa sobre um disco, para a minha vida, paradoxal demais: ao mesmo tempo especial e um tanto difícil porque me remete de forma direta à lembrança do meu pai, já que foi este o presente dele em algum longínquo Dia dos Pais. Talvez seja o único disco que eu e ele ouvimos juntos algum dia, na mesma sintonia. E lembro desse dia feito se fosse hoje: tarde de domingo, sala, e ele já meio chapado a elogiar a canção Años que o Fagner canta em parceria de Mercedes Sosa. Lembro da expressão dele com os olhos rasos d’água, feito os meus agora. Que saudades de você, meu velho...

Pois que este DMV continua a navegar nos mares das coletâneas e elege o disco comemorativo Fagner – 10 anos, Columbia, 1984. Um disco comemorativo presume-se de sucessos e este não é diferente. Os maiores destaques da carreira de Fagner até 1983 estão neste disco realmente fabuloso.

Antes de falar especificamente sobre o disco em questão, permitam-me comentar algo que faz do Fagner alguém muito especial: ele coloca música em poemas. Vários poemas já foram musicados por Fagner de maneira brilhante, pois ele o preserva integralmente, sem modificá-lo uma vírgula sequer. São vários os exemplos: o primeiro se tornou logo o maior sucesso da carreira dele, Canteiros, poema de Cecília Meireles em 1973. Depois voltou a musicar Cecília em Epigrama nº. 9, no disco Orós de 1977. Continuou em Cecília e seu lindíssimo Motivo, no disco Eu Canto de 1978. Em 1980 musicou Fanatismo, poema da portuguesa Florbela Espanca e Traduzir-se de Ferreira Gullar, que também batizou o disco. Em 1982, logo dois de Florbela: Fumo e Tortura. Em 1983, Me Leva de Ferreira Gullar. Além do raro hábito de ler poemas, Fagner os reconstruiu por meio da música de maneira competente. É muito difícil, digo com experiência própria, esse negócio de musicar coisas prontas. Difícil demais. O que acontece muito em parcerias é a liberdade que o letrista dá para que pequenas modificações sejam feitas ao longo da composição. Mas o nosso Fagner não podia fazer isso, não é mesmo?

A primeira música já diz ao que o disco veio: Revelação, de Clodo e Clésio, é uma daquelas músicas inesquecíveis que juntaram Fagner e Robertinho do Recife (onde andas, Robertinho?). Eternas Ondas, de Zé Ramalho, se tornou um clássico do Fagner. Depois seguimos com Años, As Rosas Não Falam (Cartola), Pensamentos, Joana Francesa (Chico Buarque), Mucuripe, Fanatismo, Noturno (uma das canções mais bonitas que o Fagner gravou de outros compositores), Traduzir-se e Último Pau de Arara. Um disco, enfim, de grandes sucessos que não registra a obra grandiosa do Fagner, mas que dá uma excelente pincelada.

Tenho a impressão que este disco, ao ouvi-lo, com 13/14 anos, abriu outras possibilidades na minha formação musical. Um disco comemorativo, porém denso, de muita qualidade. Coincidência ou não (não é), este disco sintetiza um divisor de águas na carreira do nosso Fagner. Na minha opinião, após esta comemoração, pouco fez e pouco acrescentou à sua rica discografia.

Fagner, Fagner mesmo é este aí. A maioria do que virá adiante são deslizes, apenas deslizes de um cara genial feito ele. Fagner é um dos grandes da MPB.

Quem não ouviu, ouça. No volume máximo. No poema máximo.

Quer conhecer o disco, baixe aqui:

Marlos Degani: Poeta e cronista. Amigo explosivo. Acabou de voltar de Buenos Aires cheio de histórias para contar. DMV é mais uma cria deste incomparável e inquieto artista!

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