terça-feira, 23 de agosto de 2011

Carnaval de 1993 - Parte I

Vivíamos toda a intensidade de uma época a flor da pele. Respirávamos poesia, nossa existência se baseava em transformar tudo o que nos cercava em mais intenso e belo. Olhávamos o mundo pelas lentes lisérgicas do verso não escrito. Da magia viva da poesia. Viver cada segundo como se fosse o mais bonito já vivido.

Eu e Jr. Blue e Alcides Eloy havíamos passado a virada do ano de 92 para 93 em Visconde de Mauá (Maromba), numa espécie de transe visceral. Ou num sonho Kurosawa. E queríamos repetir a dose de aventura lírica no carnaval. Tinha começado a namorar minha ex-esposa Josy Lozada no ano anterior e seus parentes tinham uma casa em Angra dos Reis e achamos que seria genial passar o carnaval por lá.

Levaríamos nossas barracas de camping e acamparíamos na praia dando sequência a nossa aventura iniciada no reveillon. Planejamos como planejam os românticos. Sem mapas ou bússolas. Sem dinheiro ou guias. Acreditávamos que nada poderia estragar nossa viagem. Partimos.

“Na sexta de carnaval a gente pega um ônibus. Chega à noite em Mangaratiba, acampa na Praia do Saco. De manhã cedo tem ônibus para Conceição de Jacareí. De lá pegamos outro até Angra, encontramos a Josy. Vamos para a casa de seus parentes. Montamos nossas barracas. E o resto é festa!”

Assim seria se não tivesse sido assim:

Chegamos em Mangaratiba umas 23h e fomos caminhando em direção a Praia do Saco com nossas pesadas mochilas (barracas de ferro) nas costas como se a praia fosse logo ali, não era. Depois de caminhar um pouco, descobrimos a proibição em acampar na praia. E agora? Tudo deserto onde pensávamos ter festas, lual, fogueiras, violões, bebidas, poesia. Tinha escuridão e medo. “Se vocês quiserem acampar, é com vocês mesmo, mas é perigoso!” – Disse um morador.

Voltamos para a rodoviária por segurança. Chegando lá, havia uma família “acampada” esperando o dia amanhecer também. Eu e Blue em nossa verve de “viva o momento” não nos abatemos. Jogamos nossos colchonetes no chão. Mochilas como travesseiros. E dormimos ali mesmo. Não sem antes aceitar uma vasilha de pipoca que nossos “vizinhos” nos ofereceram.

Acordamos com uma tempestade de areia. Uma ventania doida encheu a gente de areia. Meio bêbados de sono ainda acordamos assustados com nosso busão já – ali - parado indo para Conceição de Jacareí. Era muito cedo ainda. Umas 5h da matina. Chegamos em Conceição com fome e ainda cansados da noite mal dormida. Mas nada como um marzão lindo a nossa frente numa manhã quente de verão para dissipar qualquer dúvida de que nossa viagem estava apenas começando!

Ao contrário da Praia do Saco, Conceição estava tão cheia que era difícil ver areia. Porém todos dormiam ainda em suas barracas, os vestígios de que a noite havia sido boa estavam por todas as partes. Queríamos mergulhar, explorar o lugar, mas precisávamos deixar nossas mochilas em algum canto seguro e pedimos informação a um rapaz parado contemplando a manhã.

“Aê mermão, bom dia, sabe nos dizer se aqui é tranqüilo?” perguntamos ao desconhecido. “Aqui é limpeza! Vocês são lá do Monte Líbano, né? Você é o Cézar filho de Dona Mira e você é o Xande (um dos apelidos de Blue), né?” – Caralho! Estávamos há quilômetros de casa. Numa praia enorme, com milhares de barracas e justamente resolvemos parar e pedir informação a uma pessoa que nos conhecia!! E mais, ele nos informou que a barraca de Antônio Carlos (vizinho do outro lado de rua de Blue) era exatamente ali onde estávamos parados!! Muita coincidência? Sei lá. Só sei que depois de acordar Antônio, com festa, deixamos nossas mochilas ali e fomos explorar a praia.

Atravessamos a parede de pedra que separa Conceição de Jacareí de Garatucaia e curtimos aquela praia cheia de casarões, toda organizada, mansões e limpeza contrastando com o clima povão de Conceição. Tomamos umas cervas por lá, mas decidimos almoçar onde era mais a nossa cara e o nosso bolso. Com a galera de CDJ. Depois do almoço, resolvemos ir tomar um banho e pegar o ônibus para Angra. Chegar lá bonitinho e cedo, para encontrar a Josy, armar nossas barracas e curtir a noite.

No caminho da rodoviária onde iríamos tomar nosso banho, passamos em frente a um trailer que tocava alto Down Under de Men at Work e começamos a dançar, com toalhinha nas costas, sabonete na mão e como o som era bom resolvemos parar para uma cerveja. O dono nos mostrou sua coleção de vinil que ficava embaixo do balcão e ficamos ali escolhendo discos e músicas e ele colocando. Apresentou-nos um amigo músico chamado Alexandre e deixamos o tempo passar curtindo aquela onda.

Alexandre nos lembrou que o último ônibus para Angra sairia às 17h o que nos fez correr para o banho. Mas fomos convencidos antes, conhecer a cachoeira. Ficamos lá tomando banho gelado em comunhão total com a natureza e quando fomos ver estava em cima da hora do ônibus partir. Resumindo: pegamos o bus ainda molhados, porém felizes como pinto no lixo e fomos de Conceição até Angra declamando poemas no ônibus sobre aplausos, vaias e curtições do coletivo lotado e em fim chegamos a Angra dos Reis.

Continua...

2 comentários:

Jr júnior disse...

MEMÓRIA DE ELEFANTE !!! RSRS
CARACA BROTHER QUE FOTO É ESSA ?? RSRS O VERDADEIRO GRILO FELIZ ! RS

Zaray disse...

Éramos Magros! Tem mais fotos aí? Preciso ilustrar a Parte II