quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Zarayland Edição 13

Sejam todos bem vindos a mais uma edição do Zarayland. Acabei de mudar e estou dormindo entre caixas de papelão. Roupas na mala de viagem. Procuro tudo e acho nada. Mas vou tocando a vida. Meu amigo Marlos Degani chega sexta-feira (23/09) para minha felicidade! Saudades do Rio já me bate forte. Hoje tem EnContos, vamos a edição então:

1) Agenda Zarayland ajuda aí na divulgação de eventos que vou ou que gostaria muito ir, mas quem puder, não perca!

2) Conto um pouquinho como foi o fanzine Koisas, que acho uma versão em celulose do Zarayland.

3) A segunda parte de minha aventura e de Jr. Blue no carnaval de 1993.

4) A volta da coluna DEZ PEGUNTAS, desta vez o genial Hyldon respondeu ao Zarayland.

5) Resenha do disco Quem Mais Querem de Robson Gabiru.

6) Conto BIKE de Hugo Guimarães.

Até a próxima edição,
Um beijo um queijo e um beliscão de caranguejo

Zaray

Agenda Zarayland

VI EnCONTOS VS PE
É hoje, é hoje! Quarta-feira (21.09) o VI EnCONTOS no Banquete Bar e Restaurante as 19h. Tema: "Coisas Comuns Que Só Acontecem na Rússia".
Uma singela homenagem ao nosso amigo Salomão Wanderley que acaba de voltar de lá.

Bar e Restaurante Banquete
Rua do Lima, 195 – Santo Amaro - Recife – PE
(ao lado da Igreja e em frente à TV Jornal)
Tel.: (81) 3423.9427

X ENCONTRARTE

A 10ª Edição do Encontro de Artes Cênicas da Baixada Fluminense - Encontrarte acontecerá de 22 de setembro a 01 de outubro e terá quinze espetáculos na programação principal. No roteiro, peças para o público infantil e adulto. Destaque para “DNA - Somos todos Muito Iguais”, do Circo Roda. As apresentações são gratuitas.

Teatro do Sesc de Nova Iguaçu
Rua Dom Adriano Hipólito, 10, Moquetá – Nova Iguaçu – RJ

Espaço Cultural Sylvio Monteiro
Rua Getúlio Vargas, 50, Centro – Nova Iguaçu – RJ

Agendamento para caravanas: 21-8288-6253/ 9747-0599 e 2698-1601
Programação Completa: http://www.encontrarte.com.br/

ROQUE PENSE!
Na Praça de Skate de Nova Iguaçu, sexta-feira 23 de setembro das 18h as 22h vai rolar o 1 ° Circuito Roque Pense! - Mulheres, Guitarras e Novas Idéias por Uma Cultura Anti-sexista! Na programação as bandas Cretina (que lançará seu cd: Babilônia Moderninha) e Catillinárias. Discotecagem by Lê Almeida, Stand de Fanzines Let's Pense!, VJ Paulo China, Sopa de Ervilha, Comida Vegan e o que não pode faltar cerveja barata e geladona. Entrada franca

Uma realização do projeto Let's Pense! em parceria com a Transfusão Noise Records.

Praça de Skate de Nova Iguaçu
Em frente ao Viaduto João Müsch (viaduto da Rodoviária)
Centro – Nova Iguaçu - RJ

VIII BIENAL INTERNACIONAL DO LIVRO DE PERNAMBUCO
A VIII Bienal do Livro de Pernambuco acontecerá entre os dias 23 de setembro e 02 de outubro, no Centro de Convenções - Olinda, com o tema "Literatura e Cidadania".
O poeta recifense Mauro Mota e o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito serão os grandes homenageados.
No site oficial da Bienal você encontra mais informação, e tem até uma indicação de leitura para este blog que vos informa, em: http://www.bienalpernambuco.com/feliz-dia-do-blog

23/09 a 02/10 das 10:00h as 22:00h – R$ 4,00 Inteira
Av. Professor Andrade Bezerra, s/n, Salgadinho - Olinda – PE
Tel.: (81) 3182.8000
 
RECITAL DE POESIA NO PARQUE DA JAQUEIRA
Sábado dia 24 de setembro a partir das 16h, haverá um recital poético no Parque da Jaqueira (entrada principal para reunir os participantes e ouvintes e depois será escolhido um local mais adequado para o Recital). Serão homenageados os poetas que fazem aniversário este mês (1/2 hora) e depois mais 1/2 hora livre. E aí poetas? Simbora?

Parque da Jaqueira
Entre as Ruas Rui Barbosa e do Futuro – Jaqueira – Recife PE


LANÇAMENTO DO CLIPE "MOÇA BONITA" DE PENNA FIRME
O primeiro clipe de Penna Firme vai ser lançando no Teatro Sergio Porto, no dia 24 de Setembro. O vídeo da música "Moça Bonita", parceria com Gabriel Moura e Cassius Theperson, foi dirigido por Rabú Gonzales e conta com a participação da atriz e modelo Shai Almeida. Produção de Cris Penido e realização NKP Produções.
Com o nome na lista amiga a entrada fica só por dez reais! Deixe o nome na página de divulgação do clipe no Facebook:

Rua Humaitá, 163 (entrada pela Visconde e Silva)
Humaitá – Rio de Janeiro - RJ
Tel.: (21) 2535-3846

V ENCONTRO DE POETAS E AFINS

Moduan Matus convida todos os poetas e apreciadores de um bom Recital para ver Sérgio-SalleS-oigréS e a trupe da Gambiarra Profana quebrarem tudo na varanda da Biblioteca do Espaço Cultural Sylvio Monteiro dia 29 de setembro as 19h. Poetas de Nova Iguaçu e do entorno, programa imperdível!

Espaço Cultural Sylvio Monteiro
Rua Getúlio Vargas, 50, Centro – Nova Iguaçu – RJ


POESIA ON THE ROCKS
Esta é para quem vai ao Rock in Rio no dia primeiro de outubro. A fusão dos grupos Ellas e O Monstro e A Gang da Poesia vai declamar poemas na Rockstreet na Cidade do Rock. Conheço bem esta galera e já sei que serão bem mais interessantes que muitas atrações do evento. Se você for ao Rock in Rio, dê um pulinho lá e curta poemas hardcore!

Rockstreet, Cidade do Rock – Rock in Rio
Jacarépaguá – Rio de Janeiro - RJ

Koisas

Ainda não contei aqui no Zarayland a história do Fanzine Desmaio Públiko, criado por Eud Pestana e por mim em 1991. Mas, acredito que todos saibam que era um fanzine de poesia. Privilegiávamos os poemas curtos (visto que era apenas uma folhinha A4 frente e verso) e que qualquer texto maior, precisa ser bastante justificável para merecer ocupar espaço onde caberiam vários poemas menores.

Certa vez, li uma crônica de Luis Fernando Veríssimo chamada Meio-poeta e fiquei com aquela necessidade, que algumas pessoas têm, de partilhar o que a faz feliz!

Como quando conversávamos, eu, Blue, Eloy, Moduan, Eud sobre a poesia estar em todos os lugares e nem sempre caber só no poema. E que ela não pertence ao poeta. A poesia é como o perfume das flores. Se espalha no ar, polemiza a vida. E que precisávamos disseminar o belo.

E como não podia publicar o texto para dividir com meus amigos no Desmaio Públiko, precisei criar um novo canal. E assim nasceu o Koisas.

O que era o Koisas? Eram coisas que gostaria de divulgar e que não fossem necessariamente poemas, mas que tivessem a poesia como espinha dorsal. O Koisas foi a semente do Zarayland, pois tinha o mesmo espírito libertário que este Blog tem. Libertar o que acho legal. Era por demais, pessoal. As coisas que eu curtia e tinha a liberdade completa de divulgar, sem as limitações que meu outro fanzine me impunha.

Ali eu publicava contos, crônicas, quadrinhos, poemas longos, humor, divulgação de eventos, micro-biografia de poetas, entre outros.

Recebia muitas colaborações também, principalmente de Moduan Matus e de Alcides Eloy que eram co-editores de honra.

Lembro que meu amigo e professor André Porfiro, certa feita fez um trabalho com a turma em que lecionava com o poema “Infarto” de Jr. Blue, pedindo para os alunos descreverem o que entenderam do poema:

“De repente
Percebi que
o cardiologista
Não entendia nada
de coração.
E me socorri
com o cupido!”

E nasceram tantas coisas curiosas, engraçadas, poéticas, sem noção, que dediquei uma edição completa só com as respostas dos alunos.

O Koisas era assim, sem compromisso com coerência, sem compromisso com periodicidade, sem compromisso com linguagem. O Koisas era um verdadeiro blog de papel na pré-história internética.

Carnaval 1993 – parte II

Leia antes a primeira parte em:

Chegamos em Angra dos Reis, umas 18h, mas em pleno horário de verão, parecia umas 15h. Molhados, embriagados e surpresos com o tamanho da cidade: “Como vamos encontrar a Josy e o seu pessoal aqui?”. Sem celular (as pessoas carregavam pentes no bolso, não telefones), sem endereço, sem noção qualquer de onde estávamos.

Olhando em volta percebemos que todos estavam arrumadinhos, olhavam para a gente com caras e bocas. Estávamos uns mendigos. Descabelados, maltrapilhos, molhados e doidos. Tão doidos que resolvemos nos trocar dentro da igreja. Não esqueço e sorrio ao pensar em nós peladões dentro da igreja mudando de roupa (no carnaval o único lugar vazio era a igreja) com um medo danado de sermos surpreendidos ali. Saímos de lá transformados, a igreja enfim nos consertou.

Rodamos pelas ruas do centro de Angra na vã esperança de esbarrarmos com Josy por lá. Resolvemos parar em um bar e ficar olhando a rua com o mesmo sentido. Com o passar das horas e o consumo etílico desenfreado, já sem fé em encontrá-la, começamos a cumprimentar todos que passavam na rua. Era um “Boa Tarde!”, “Boa Noite!” para quem quer que fosse. Talvez assim conseguíssemos conhecer alguém que nos desse guarida.

De repente – do outro lado da rua – vimos uns caras correndo e se escondendo entre os carros, todos fantasiados de mulher. Mandamos um alô para eles, que ao contrário de todos com quem falávamos até então, uns respondiam, outros não, uns procuravam na memória se conheciam a gente ou não, outros esnobavam, eles – os doidos – vieram correndo em nossa direção e se sentaram no bar conosco. Nos comprimentaram como se fossemos velhos conhecidos. Vendo nossas bagagens, indagaram-nos onde iríamos ficar. Com nossa resposta de que estávamos quase perdidos, nos convidaram para dormir em suas casas.

Blue ficou cabreiro: “Vamos ser assaltados!” enquanto me via lá na frente já abraçado com os caras, subindo o morro, bêbado, com uma garrafa de vinho embaixo do braço. “Hoje vocês vão desfilar no nosso bloco”. Desfilar? As coisas já começavam a virar um filme. Minha memória começa agora a passear por um território meio surrealista, meio psicoldélico formado por flashes, com cortes rápidos:

Flash1: Eu e Blue indo na casa do carnavalesco buscar nossas fantasias.
Flash 2: Blue rindo de mim, fantasiado com um camisolão preto e uma estrela na cabeça, só se cueca. E depois ele mesmo pensando: “Caraca, estou ridículo também”.
Flash 3: A gente dentro do fusca super apertado e chegando na concentração do bloco.
Flash 4: A avenida iluminada, a bateria comendo solta, o chefe da ala mandando a gente se animar, pessoas sambando, luzes, som, tudo girando.
Flash 5: Eu tirandorápido a fantasia – para não sujar – e vomitando num canto da avenida.... Lembro-me que ainda guardei a fantasia no cantinho de um carro alegórico. Ficando só de cuecas...
Flash 6: Eu e Blue abandonamos o desfile e fomos para a casa dos malucos. Chegando lá, montamos nossos colchonetes e apagamos.

Trágico: acordei com uma puta vontade de vomitar, corri para o banheiro. Blue já estava lá no mesmo processo. Corri para a janela e blarght. Volto para sala e vejo Blue correr para a janela, corro para o banheiro. Passamos mal como nunca havíamos passado até então.

Nosso anfitrião, Charles, preocupado queria nos socorrer sem saber o que fazer. Jr. Blue disse: “Me arrume boldo... por favor, boldo sempre me cura”. Enquanto fazia o chá de boldo ainda explicou: “Boldo é que nem refresco para mim”. Mas ao tomá-lo outra corrida para o banheiro e eu como bom solidário corri para a janela e mais blarghhhttt...

Melhoramos e descemos o morro para conhecer Angra dos Reis. Charles nos levou a alguns lugares do centro da cidade, contou-nos de seus sonhos, de como era sua vida ali e já bem melhores resolvemos almoçar (reparem na quantidade de Coca-cola na mesa. E mesa de Cézar Ray e Jr. Blue sem uma cerveja é raridade. Prova como estávamos mal).

Depois que nos despedimos de Charles, ficamos ali pensando no que fazer. O dinheiro já era quase nenhum. Dava para voltar para o Rio decepcionados ou continuar nossa saga e numa resolução louca, e tomada em segundos, resolvemos ir até Paraty onde a irmã de Blue, Shirley havia alugado uma casa com seus amigos de trabalho para passar o carnaval.

Mas a resolução era a seguinte: “Nosso dinheiro só dá para ir para Paraty. Não temos como voltar. Precisamos encontrar a Shirley lá de qualuqer maneira. Mas nem tenho o endereço e nem imagino onde fica, e aí?” E aí? O próximo flash sou e Blue dentro de um ônibus confortável, admirando a paisagem Angra-Paraty, dando sequência a nossa aventura. Paraty aqui vamos nós...

Continua...

Dez Perguntas para: Hyldon

A primeira música que lembro ter ouvido em minha vida foi "Na Chuva, Na Rua e Na Fazenda". Lembro-me bem, nitidamente, apesar dos meus 4 anos de idade. Estava no quintal, minha mãe conversava com Dona Elenita, nossa vizinha de muro. Começou a chuviscar. Minha mãe mandou eu entrar. Estávamos sós em casa. Provavelmente minhas irmãs estavam no colégio e meu pai trabalhando. Ela permaneceu conversando com a vizinha.

Sozinho na cozinha o rádio ligado tocava Hyldon. Foi a primeira vez que percebi uma melodia e letra. Ouvia e entendia as palavras mesmo sem saber o que era "sapê". Sei que já ouvia músicas antes. Meus pais adoravam, mas aquela vez somente eu e ela, foi que percebi pela primeira vez o que era uma música!

Celebrando esta minha memória, as 10 Perguntas desta edição traz o autor e intérprete desta canção maravilhosa que marcou minha vida: Hyldon!

1) Conte para os leitores do Zarayland como foi a história do seu primeiro violão e de seu último relógio:
Meu tio Dermí morava conosco; eu, minha mãe, meu padrasto e seus três filhos; Edinho, Edinha e Elizabeth. Ele estava no exército, mas tinha um trio: Los Panchos, tipo Trio Irakitã, com a formação de vozes / violão/ Maraca/ Tan tan. Eu queria aprender cavaquinho com um senhor que morava perto da minha casa em São Gonçalo, ao lado de Niterói no Estado do Rio de Janeiro. Pedi então para Tio Dermí me ensinar as primeiras lições e ele pegou pesado, apertava meus dedos contra o violão, mas eu segui em frente e breve criei calos. Aprendi a tocar e cantar várias músicas. A primeira foi “Prece ao Vento” do Gilvan, um cara de Natal - Rio Grande do Norte e que fazia parte do Trio Irakitã, meu tio fazia a primeira voz os outros completavam com a segunda e terceira. Era perto do meu aniversário, ganhei um relógio muito bacana de presente dos meus pais, meu tio ficou de olho no meu relógio, ele era muito vaidoso, como ele tinha resolvido voltar para Bahia, me propôs a troca simples do relógio pelo violão. Aceitei na hora. O engraçado é que nunca mais tive relógio de pulso em compensação tive muitos violões.

2) Como foi gravar o Especial Grêmio Recreativo da MTV com esta galera de outra geração, Arnaldo Antunes, Nação Zumbi, Edgard Scandurra, Céu, Karina Buhr, Fernando Catatau e Seu Jorge?
Foi muito bom, a integração dos artistas, da equipe da MTV e da galera do Estúdio. Ficamos um dia todo ensaiando e noutro dia ainda passamos o som, aí sim, gravamos. Só fera! Fizemos tudo de primeira e rolou uma química entre a gente. O Arnaldo virou meu parceiro, algumas semanas depois nos encontramos na casa dele e passamos uma tarde com muito astral onde compusemos uma linda canção. Seu Jorge é um artista que admiro muito musicalmente e tem uma trajetória muito legal, temos uma identificação natural. Rolou clima com a Karina, com a Céu, com o Edgar e os meninos da Nação Zumbi: o Lúcio (Guitarra), Pupillo (Batera) e Dengue (contra-baixo), ainda tinha os irmãos Amabis e o tecladista Dustan Gallas. Mantenho contato com quase todos. Fui nos shows deles aqui no Rio, Arnaldo Antunes, Seu Jorge, Cidadão Instigado, Karina Buhr... inclusive a MTV fez um Vídeo Clipe com a minha música "Estão dizendo por aí" extraída do Programa. E o mais legal de tudo é que a música entrou em meu novo disco como Bonus Track, com lançamento previsto para Outubro.

3) Em seu site oficial, você disponibilizou os álbuns que estão fora de catálogo gratuitamente. Como você vê o comércio de música na era digital?
O importante é o artista ter consciência da evolução do mundo, das novas tecnologias. O conteúdo é o relevante, que é a música, a arte. Independente da mídia, do veículo, ou de como isso vai chegar até as pessoas.

4) Em seu mais recente álbum, o ótimo Soul Brasileiro você reúne um timaço, com Roberto Frejat, Carlinhos Brown, Zeca Baleiro, Chico Buarque em faixas distintas. Porque a escolha que eles apenas toquem e não cantem também?
Eu quis fazer um lance de usar o lado músico deles, que é uma coisa lúdica, quando um músico toca, ele está em comunhão com o universo.

5) Seu primeiro disco de 1975 reúne seus três maiores sucessos “Na Rua, Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê), “ As Dores do Mundo” e “Na Sombra de uma Árvore” além de clássicos como “Acontecimento” e “Vamos Passear de Bicicleta”. Como foi a gravação deste disco inspiradíssimo?
Foi uma longa gestação. Foram 5 anos de preparação, sendo dois anos como produtor para ter domínio de estúdio e poder concretizar as minhas idéias, já que eu quando compunha, fazia os arranjos e imaginava a canção pronta. A outra parte importante foi contar com a participação dos melhores músicos do Brasil, a começar com o Azymuth e Waldir Arouca que orquestrou quase todo disco, me ajudando a transpor minhas idéias para as partituras. Por último as musas Gioconda, Maria Creuza, Eliane, Gheisa e Eleonora, mulheres lindas e maravilhosas que me inspiraram muito.

6) Hoje o Youtube virou a melhor ferramenta de busca para música da internet. Você usa o Youtube para conhecer novidades musicais?
Só uso! Às vezes alguém me manda um link, as vezes eu busco tipo “músicas africanas”, ou coisas que você não ouve no rádio, ou quando dá saudade de grupos ou cantores antigos como Anita Baker, Ohio Players e como ferramenta pra divulgar meus vídeos. Acho bacana quando algum fã posta um vídeo de show por exemplo, tem um vídeo meu com a Black Rio que o cara filmou no celular, muito tosco e está com 43.000 visitas.


7) Qual a possibilidade de Recife receber um show teu ainda este ano?
Em Outubro sai meu Cd Soul Brasileiro - Edição Extra e pretendo viajar com o show pelo Brasil. Espero tocar aí em Recife, aliás tem uma faixa nova com participação do Pupillo, Dengue e Lúcio Maia da Nação Zumbi.

8) Estive num show do saudoso Luis Carlos Batera com sua participação especial lá no Espaço Cultural Sylvio Monteiro em Nova Iguaçú. Conte sobre sua parceria com este extraordinário músico.
Luís Carlos foi um dos maiores bateristas do samba soul. Tocamos juntos no meu segundo disco e em alguns shows. Sempre fomos amigos. E foi na gravação desse disco "Deus, a Natureza e a Música" que foi criada a Banda Black Rio.

9) Existe uma nova geração que só conhece suas músicas através das regravações de Kid Abelha e Jota Quest. Como você se sente em relação a isso?
Acho ótimo! Muitos desses jovens vão pesquisar na internet e acabam descobrindo outros trabalhos meus. Volta e meia eles aparecem no show com os discos originais em vinil, comprados em sebos ou herdados dos pais e até dos avós e levam no show para eu autografá-los.

10) Além de trabalhar com músicas para teatro, músicas para crianças, produção e composição para outros artistas o que mais você anda aprontando?
Tô preparando 3 discos diferentes. Um de parcerias com Mcs (Mano Brown, Marechal, Delegado, Gil Metralha). Um só de baladas e outro com parceiros com os quais tenho composto: Arnaldo Antunes, Céu, Zeca Baleiro, Michael Sullivan, entre outros. Estou com um desenho animado para crianças pronto pra ser lançado em DVD e a produção do disco de HIP HOP da minha filha, a Yasmin. Fora isso, jogar minhas peladas e espero fazer bastante shows pra divulgar o novo disco.

Robson Gabiru – CD Quem mais Querem

Gabi Gabiru é como chamo este meu amigo, compositor e intérprete de Nova Iguaçu – RJ que exemplarmente lançou seu disco ao vivo “Quem Mais Querem”.

Gabiru sempre foi um incansável artista, compositor e intérprete único. Tanto que obras de sua autoria se confundem com as que somente interpreta, tamanha a destreza em colocar sua digital em cada realização.

Seu disco (distribuído gratuitamente) mostra exatamente quem é Robson Gabiru. Suas composições ganham força quando interpretadas ao vivo. Sua empolgação faz as canções ou versões crescerem muito quando ele bate violentamente em seu violão e em nossas emoções.

Estão aqui todos os clássicos de Gabiru: “Quem mais querem” - hit mor - mais conhecido como “A música do trem”, “O Zé foi Fudê”, “Mato a Cobra” e “Cansei” que encerra o disco num verdadeiro carnaval.

Ouça o que o disco grita. Verve. Talento. Público emocionado e querendo mais. Ouvi meu amigo Jurandir, que há pouco veio a Recife, desfilar elogios sinceros e pragmáticos sobre um trabalho feito com amor e tesão.

Sei que o disco de estúdio do Gabiru vem por aí. Ele é cercado de gente de talento. E um dos músicos mais habilidosos que eu conheço. Quem ainda não se deliciou com o disco, deixo um link para baixá-lo aqui. Quem não conhece o Gabiru vale à pena conhecer.

Ouça. Perceba que o que vem por aí, é coisa muito fina. E Gabiru é um exemplo de dedicação e determinação no que faz. Seja como amigo, seja como músico, seja como parceiro, seja como Rádio Relógio ou como filho de Dona Lurdes! Evoé Robson Gabiru!

Meu Gato Bike – Por Hugo Gumarães (Hugudão ou Gudinho)


Chegava eu por volta das 7:15h da manhã daquele ano de 1999, daquela quarta-feira na famigerada academia de musculação, Jiu-jitsu, Kung-fu, Boxe, MMA e outros bicho’ mais, do famoso dono e lutador Jorginho.

Encostei minha bicicleta - que havia pego num rolo 3 domingos antes na famosa Feira de Areia Branca - na mureta, acomodada junto às demais dezenas de bicicletas do pessoal que frequentava a academia.

Entrei com disposição naquela manhã:
- Fala rapaziada! Fala aí, Jorginho... Seu morto!
- Morto tá tu, seu FRANGO!!!

Era, de fato, um relacionamento muito ‘amoroso’ que esse dono, professor, instrutor, esse ”tudão” da academia, tinha - e ainda deve ter - com seus alunos.

Fazia comentários do tipo: “Sai daí, seu merreca!” - aos risos - comentando que o camarada não tinha músculos. Ou ainda: “Tá deitando na agulha e se cobrindo com a linha rapá, vai se alimentar primeiro que tu “tá morto” – novamente aos risos.

Fiz um rápido alongamento e, como dizíamos na época, “chamei nos ferros”, bebi água, voltei pra bicicleta ergométrica, fiz mais uma sessão “puxada” nos ferros, 1 hora e 1/2 de academia e FIM! Passei a toalha no rosto, joguei-a nos ombros e fui saindo e me despedindo:
- Valeu aí, Jorginho!
- À noite tem Jiu Jitsu, hein, “MERRECÃO”! Vê se tu vem!
- Deixa comigo, venho sim.
- Traz aquele teu kimono pra fazer rolo, aquele teu A3 QUE TU SABE QUE NÃO CABE MAIS EM TU? (A3 é o tamanho do kimono, que vai de A1 a A5).
- Tá tranqüilo feião!

Saindo então da academia virei para a esquerda, e olhando para a mureta, procurei minha bicicleta que para minha surpresa simplesmente não estava lá! Olhei de um lado, de outro... Haviam várias outras, menos a minha!

Ainda sem querer aceitar que tinha sido roubado, olhei uma por uma, dos dois lados do muro, e simplesmente não achei.

Enquanto tentava, em vão, achá-la, um senhor do outro lado da rua gritou:
- Aaah grande! Não sabia de quem era... Passou um doido aí, lá do bairro “Tropical”... Ele tava com um saco na mão, com uns gatos pra vender... Sei que ele montou numa bicicleta aí e meteu o pé!

Pensei comigo, só pra variar:
- Um maluco com um saco vendendo gatos, dentre as mais de dez bicicletas, rouba JUSTAMENTE A MINHA? E afirmo, não era um camelo bonito, chamativo, enfim... Coisa que só acontece comigo!!!

Enquanto o senhor falava isso, eu andava exatamente pra posição onde antes estava minha bicicleta, e, naquele espaço agora vazio, havia um saco (dessas sacolas de pano antigas, de “sacolão”) e lá, PASMEM, havia um gatinho!

Gritei pro cara do outro lado da rua:
- AÊ SENHOR, tem um gato aqui dentro de um saco!
- Aaaahh, então foi isso... Péra aí! Vou aí ver!

Falou chegando, atravessando a rua. Olhou o saco, olhou pra minha cara:
- É, ele tava com esse saco aí tentando vender uns gatos. Acho que ele só não conseguiu vender esse aí... Sei não grande, ele deve de ter largado isso aí e meteu teu camelo...
- Porra, como assim??? Roubar uma bicicleta e largar um gato?
- Aí eu já não sei, grande, sei que é fácil encontrar esse safado rapá! Nêgo tá doido pra quebrar esse vagabundo. Ele vive roubando coisa aqui no bairro, dando volta nos outros... Diz ele aí que “esses gato” era tudo de raça... Porra nenhuma! É tudo vira-latão!

E eu pensando comigo: “Nessa altura do campeonato, arrumar um gato vira-lata, que trocaram à força na minha bike...”

Agradeci o coroa, que já ia se direcionando pra padaria, e peguei o gato, olhando pra cara dele...
- É parceiro, vou te levar pra casa um pouco, porque se eu chegar contando isso ninguém vai acreditar em mim!

E lá fui eu, subindo a avenida do meu bairro, suado, a pé, com um gato no colo pensando:
- Eh, tem coisas que só acontecem comigo...

Virei à esquina e entrei na minha rua. Vieram duas crianças:
- Ai, que lindo! Posso ver?
- Lindo? O que? Esse gato? - perguntei, espantado.
As crianças brincaram um pouco com ele e perguntaram:
- Qual o nome dele?
- Boa pergunta! ...Não, não... no caso... O nome dele, né? AH! É BIKE!!!

As crianças brincaram mais com o “Bike”, começaram a puxar o rabo dele e o bicho foi ficando “estressado”...
- Chega, chega! Tenho que levá-lo pra comer. Tchau!

Metros à frente cheguei em casa. Entrei por trás, pela cozinha. Minha mãe fazia algo no fogão. Meu pai sentado à mesa, comendo pão, disse:
- Que isso na tua mão?
- Isso é um gato, pai!
- É, no caso graças a Deus eu percebo isso!
- Pois é, que bom...
- De quem é esse gato?

Quando comecei a contar o que havia acontecido, meu pai aumentou a voz e chamou minha mãe:
- “Neguinha”, vem ouvir essa aqui!

Continuei a contar tudo, os detalhes do caso, o que o moço havia falado do ladrão, localização, bairro, etc, etc... Eles ouviram atentos, todo o desenrolar e meu pai perguntou:
- Hugo, pode falar... VOCÊ TROCOU A BICICLETA NESSE GATO?
- Como assim, pai?
- ROLO! Você FEZ ROLO com a bicicleta nesse bicho?
- ‘Coé’, pai? Tá de sacanagem? Eu vou trocar minha única bicicleta num raio de um gato?
- Não sei... É possível, né? Dá uma injeção de B12 nele! Vai que ele cresce e vira uma onça? Daí tu sobe nela e sai “vuado” por aí! – disse, rindo.

Eu já estava um pouco puto com a situação quando minha mãe falou:
- Ele é bem gordinho, né? Me dá ele aqui! - pegando da minha mão –
Minha mãe brincando, olhando pra barriga dele... - É, não é fêmea não, pensei que tivesse ‘de barriga’, mas é macho.

Meu pai em tom de deboche:
- Trocou uma bicicleta num gato gordo!
- Pai, EU NÃO FIZ ROLO! ROUBARAM A BICILETA E DEIXARAM ISSO NO LUGAR!
- Qual o nome dele, Hugo?
- Nome? Por quê? Eu não pensei em ficar com ele... Eu...

- Ah! Mas ele é tão bonitinho... - disse minha mãe, com tom de ternura.
- É, mãe, não sei não, falei pros meninos na rua que o nome dele era ‘Bike’, me referindo à minha bike que foi roubada...
- Ótimo nome! - Disse ela.

Aí meu pai, pra “fechar com chave de ouro”:
- Bike Barrigudinho, é esse o nome desse bicho? - disse, rindo.
- Pô, pai! Bike Barrigudinho?

Minha mãe levou o bicho próximo a meu pai, uma vez que ele não queria por a mão no gatuno, ela disse:
- Olha Fernando, como ele é bonito! Gordinho e bonito!

A essa altura eu já tinha colocado um café no meu copo. Sentei, puto, e comecei a comer um pão.
- Gudinho! - como meu pai me chamava.
- Pai, não quero mais falar nisso, na moral.
- Não, sério! Agora é sério... Você reparou nesse gato?
- Pai, eu não quero mais falar! Na boa...
- Gudinho, esse gato é VESGO!!!
- Porra pai, pára de aloprar!
- OLHA AQUI! O GATO É VESGO!!!
- Vai querer botar o nome do bicho agora de “Bike Vesgo Barrigudinho”?
- Não... Claro que não... Bike Barrigudinho tá ótimo, mas que ele é vesgo... ele é sim!

Minha mãe colocou Bike no chão enquanto procurava um pote para pôr leite para ele no canto da sala, em baixo da escada. E ainda esticou um paninho... E Bike Barrigudinho “caiu dentro” do leite, enquanto eu terminava meu café da manhã.

Meu pai abria o jornal enquanto tomava café. O gato tomava seu leite. E minha mãe já contava a novidade pra vizinha da frente, que varria a calçada.
- O Hugo arrumou um gato lindo, vou te mostrar. (E eu, lá de dentro de casa, pensando ao ouvir isso: “Porra mãe, o gato é barrigudo e vesgo e você chama de lindo?”)

Bike Barrigudinho ficou conhecido na rua, todos gostavam dele, era um gato divertido, brincalhão, ”um pouco” vesgo, confesso... Vivia no beiral do terraço e comia bastante. Engordou ainda mais nos primeiros meses. Minha família e as crianças da rua o adoravam. Muitas fotos foram tiradas... Bike virou “membro familiar”, como todo gato. Abusado, deitava e dormia no meu travesseiro, no sofá, via TV, escalava cortinas, deitava na cama dos meus pais – meu pai odiava isso!

Bike Barrigudinho se tornou um doce gato de estimação, lembrança viva até hoje nas conversas de família e entre amigos. E pra variar, eu, motivo de chacota!
- Lembra quando o Hugo trocou uma bicicleta por um gato?
- EU NÃO TROQUEI! ROUBARAM! QUE SACO...
- Aaahhh... Tá bom! Foi um “rolo forçado” né? – todos diziam, aos risos.

Na academia fui zoado durante dias, semanas, meses a fio...
- Cadê o Bike Barrigudo??? Traz ele pra malhar aqui cara!
- Vai SE F...!!!
- Fala, Hugão! O Bike tá estacionado aí na frente??? Cuidado pra não roubarem ele e deixarem um “sanhaço sem bico e com asa quebrada” pra tu!
- Aaahh maluco, vai pro INFERNOOOOOOOO!!! - dizia eu, irritado.

Por falar em sanhaço - já foram tantos, não no valor da palavra passarinho em si, mas na gíria, referindo-se a problemas que – bom...

Isso é papo pra outros contos.

Saudades do Bike Barrigudinho, dos rolos da Feira de Areia Branca, e juro, saudade daquela antiga academia!

Hugo Guimarães ou Hugudão ou ainda Gudinho é poeta, cronista, contador de causos, mora em Búzios no Rio de Janeiro, filho de Gudo e Gudinha, irmão de Jr Blue, Jan, Shi e Nika. Seu blog “Tirando da Gaveta Muita Manobra”  (http://manobradaspalavras.blogspot.com/) é um dos meus preferidos da rede e esta história do gato Bike é impagável!