quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Carnaval 1993 – parte II

Leia antes a primeira parte em:

Chegamos em Angra dos Reis, umas 18h, mas em pleno horário de verão, parecia umas 15h. Molhados, embriagados e surpresos com o tamanho da cidade: “Como vamos encontrar a Josy e o seu pessoal aqui?”. Sem celular (as pessoas carregavam pentes no bolso, não telefones), sem endereço, sem noção qualquer de onde estávamos.

Olhando em volta percebemos que todos estavam arrumadinhos, olhavam para a gente com caras e bocas. Estávamos uns mendigos. Descabelados, maltrapilhos, molhados e doidos. Tão doidos que resolvemos nos trocar dentro da igreja. Não esqueço e sorrio ao pensar em nós peladões dentro da igreja mudando de roupa (no carnaval o único lugar vazio era a igreja) com um medo danado de sermos surpreendidos ali. Saímos de lá transformados, a igreja enfim nos consertou.

Rodamos pelas ruas do centro de Angra na vã esperança de esbarrarmos com Josy por lá. Resolvemos parar em um bar e ficar olhando a rua com o mesmo sentido. Com o passar das horas e o consumo etílico desenfreado, já sem fé em encontrá-la, começamos a cumprimentar todos que passavam na rua. Era um “Boa Tarde!”, “Boa Noite!” para quem quer que fosse. Talvez assim conseguíssemos conhecer alguém que nos desse guarida.

De repente – do outro lado da rua – vimos uns caras correndo e se escondendo entre os carros, todos fantasiados de mulher. Mandamos um alô para eles, que ao contrário de todos com quem falávamos até então, uns respondiam, outros não, uns procuravam na memória se conheciam a gente ou não, outros esnobavam, eles – os doidos – vieram correndo em nossa direção e se sentaram no bar conosco. Nos comprimentaram como se fossemos velhos conhecidos. Vendo nossas bagagens, indagaram-nos onde iríamos ficar. Com nossa resposta de que estávamos quase perdidos, nos convidaram para dormir em suas casas.

Blue ficou cabreiro: “Vamos ser assaltados!” enquanto me via lá na frente já abraçado com os caras, subindo o morro, bêbado, com uma garrafa de vinho embaixo do braço. “Hoje vocês vão desfilar no nosso bloco”. Desfilar? As coisas já começavam a virar um filme. Minha memória começa agora a passear por um território meio surrealista, meio psicoldélico formado por flashes, com cortes rápidos:

Flash1: Eu e Blue indo na casa do carnavalesco buscar nossas fantasias.
Flash 2: Blue rindo de mim, fantasiado com um camisolão preto e uma estrela na cabeça, só se cueca. E depois ele mesmo pensando: “Caraca, estou ridículo também”.
Flash 3: A gente dentro do fusca super apertado e chegando na concentração do bloco.
Flash 4: A avenida iluminada, a bateria comendo solta, o chefe da ala mandando a gente se animar, pessoas sambando, luzes, som, tudo girando.
Flash 5: Eu tirandorápido a fantasia – para não sujar – e vomitando num canto da avenida.... Lembro-me que ainda guardei a fantasia no cantinho de um carro alegórico. Ficando só de cuecas...
Flash 6: Eu e Blue abandonamos o desfile e fomos para a casa dos malucos. Chegando lá, montamos nossos colchonetes e apagamos.

Trágico: acordei com uma puta vontade de vomitar, corri para o banheiro. Blue já estava lá no mesmo processo. Corri para a janela e blarght. Volto para sala e vejo Blue correr para a janela, corro para o banheiro. Passamos mal como nunca havíamos passado até então.

Nosso anfitrião, Charles, preocupado queria nos socorrer sem saber o que fazer. Jr. Blue disse: “Me arrume boldo... por favor, boldo sempre me cura”. Enquanto fazia o chá de boldo ainda explicou: “Boldo é que nem refresco para mim”. Mas ao tomá-lo outra corrida para o banheiro e eu como bom solidário corri para a janela e mais blarghhhttt...

Melhoramos e descemos o morro para conhecer Angra dos Reis. Charles nos levou a alguns lugares do centro da cidade, contou-nos de seus sonhos, de como era sua vida ali e já bem melhores resolvemos almoçar (reparem na quantidade de Coca-cola na mesa. E mesa de Cézar Ray e Jr. Blue sem uma cerveja é raridade. Prova como estávamos mal).

Depois que nos despedimos de Charles, ficamos ali pensando no que fazer. O dinheiro já era quase nenhum. Dava para voltar para o Rio decepcionados ou continuar nossa saga e numa resolução louca, e tomada em segundos, resolvemos ir até Paraty onde a irmã de Blue, Shirley havia alugado uma casa com seus amigos de trabalho para passar o carnaval.

Mas a resolução era a seguinte: “Nosso dinheiro só dá para ir para Paraty. Não temos como voltar. Precisamos encontrar a Shirley lá de qualuqer maneira. Mas nem tenho o endereço e nem imagino onde fica, e aí?” E aí? O próximo flash sou e Blue dentro de um ônibus confortável, admirando a paisagem Angra-Paraty, dando sequência a nossa aventura. Paraty aqui vamos nós...

Continua...

5 comentários:

Jr júnior disse...

Rapaz... por onde andará CHARLES (gente finíssima) e seu irmão ??

Zaray disse...

As vezes fico me perguntando isso, Blue, quem fim levaram aqueles doidos. Aliás qual o nome do irmão do Charles?

Denise disse...

Essa parte da história eu não conhecia...

Será que esse Charles era padre da igreja que vocês se trocaram?

rsrsrsrs

Zaray disse...

hehehehehe Era o sacrsitão!

Jr júnior disse...

cara... o Nome vem a mente e some ! acho que vou lembrar !! vou ficar tentando !