A Ana Oliveira havia me avisado: “Este filme é para chorar”. Não deu outra. Difícil para mim não ficar transtornado com o filme. Ele é de uma delicadeza extrema. Algumas vezes me lembrou “De Alguns Poetas da Terra da Laranja” de Tigú. Fotografia maravilhosa (vejam as silhuetas dos meninos com a bóia e a “Palmirolândia”), entrevista heróica (“Tudo bem Manoel era só um sonho”) e direção e roteiro expertíssimos de Pedro Cézar (meu xará).
Mas sobre do que o filme trata é que me levou as lágriams prometidas pela Aninha. Não quero desvalorizar a película, longe de mim, mas existem filmes que valem tanto pela história que fica difícil colocar na balança o que é melhor.
Quero justificar todo este preâmbulo, porque tive que mudar toda a edição 17 do Zarayland por conta de tê-lo assistido. Mexeu demais comigo vê-lo na terça-feira de carnaval em minha casa. Já meio chapado e emocionado com a “desbiografia” de um poeta que conheço há tanto tempo e que só veio reafirmar tudo que sabia ou o que achava que sabia sobre ele: sua humilde genialidade.
Conheci os poemas e o poeta Manoel de Barros muito antes deste filme. Comprei uma penca de seus livros e emprestei vários e dei outros na minha ansia em repartir o belo. Não tenho um, sequer, hoje. Vê-lo na tv (Canal Brasil) me trouxe tudo de volta, a alegria da poesia pela palavra, o parque de diversão do verso, a construção só possível pela poesia pura e nada mais.
Por muito tempo andei divagando em constuções poéticas métricas que não me levaram muito longe. Manoel de Barros foi tão além que me emociono ao escrever sobre sua desconstrução. Mais uma vez fiquei surpreso com sua dedicação a poesia livre de amarras e fórmulas matemáticas, a poesia que pode voar pousar nadar ser, em função do belo.
“A poesia é o belo trabalhado” diz ele a certa altura do filme.
Manoel de Barros conta que “comprou seu ócio” para dedicar tempo integral a poesia. E explica que há várias maneiras sérias de não dizer nada, mas que só a poesia é verdadeira. Ou ainda que “tudo que não inventa é falso”! E isso junto a questão de que só viveu até hoje a infância nos faz reolhar o mundo. Ou melhor transver, como escreveu muito bem: “O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transvê o mundo!”
Mesmo escrevendo de forma completamente diferente do meu amigo e poeta Marlos Degani, lembrei deste várias vezes durante o filme, quando: “Me procurei a vida inteira e não me achei. Pelo que fui salvo!” ou ainda “A poesia é uma armação de palavras, com um canto dentro!”. E por aí foi.
Com imagens bonitas, quase somente giffs, com a narração do diretor, Manoel de Barros desfila simpatia e bom humor. O time de depoentes é bacana, destaques para a observação empolgante da jornalista Bianca Ramoneda sobre como o poeta nos dá a possibilidade de olhar as coisas com outros olhos, deixando o mundo imenso: “Isso é libertador!”, ou quando a escritora e roteirista Adriana Falcão diz que descobriu Manoel de Barros muito tarde, mas mesmo assim foi uma das coisas poderosas que aconteceram em sua vida, comparando o evento ao nascimento de seus filhos ou mesmo a morte da mãe.
Os personagens que alimentaram Manoel de Barros com suas histórias e suas incompletudes são um caso a parte. Como o faz tudo da fazenda Palmiro e o conhecido (para quem acompanha a obra do poeta) Bernardo, além de seu filho João de Barros que atirava pérolas para o caçador de incorreções. Stella Barros, sua esposa contando como descobriu que ele era poeta é um achado que me fez lembrar a crônica “Meio-Poeta” de Luis Fernando Veríssimo. Muito bom.
Tentei comprar o filme na Livraria Cultura, eles me garantiram por telefone que tinham o DVD e fui até lá. Não encontraram. Pedi então para a minha amiga Marina Gargantini baixar para mim. Ela baixou, mas não consegui abrir de jeito nenhum. A saída foi revê-lo em partes no Youtube o que fiz com prazer e deixo os links aqui para que vocês possam também saborear e quem sabe chorar com este documentário primoroso sobre um homem que nasceu com uma anomalia incurável: Nasceu Poeta!!! Boa sessão!
“O tempo só anda de ida
A gente nasce cresce amadurece envelhece e morre.
Para não morrer tem que amarrar o tempo no poste.
Eis a ciência da poesia:
Amarrar o tempo no poste.”
Manoel de Barros.
Parte II (http://www.youtube.com/watch?v=LoEJlfpK0kk)
Parte III (http://www.youtube.com/watch?v=EjeeReGxqEQ)
Parte IV (http://www.youtube.com/watch?v=8PVpj_ogLkU)
Parte VI (http://www.youtube.com/watch?v=F1-jPmFWfzo)
Site oficial do filme: http://www.sodez.com.br/
Um comentário:
pqp ja estou baixandoooooooo
=D
vamos discuti-lo
=D
bj grande
sempre otimas dicas
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