segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Emboscada Poética

O poeta Euclides Amaral me chamou para uma reunião no bairro da Glória para a criação de um evento de poesia que rolaria num bar chamado “Sabor da Glória” nos fundos de um brechó ali ao lado da estação do metrô e do CIEP Tancredo Neves.

O Desmaio Públiko bombava nesta época (1993), eu estava com a corda toda, excitadíssimo!! Parti com Eud Pestana para a tal reunião. Entrei mudo e saí calado. O projeto chamado Emboscada Poética era uma idéia dos poetas Genêsis Genúncio e Lúcio Celso Pinheiro (que batizou o encontro). Sugeriram ao dono do espaço, o arquiteto Miguel, uma noite por semana de poesia em seu bar tão escondidinho.

Na terça seguinte eu, J.A. Lima e Alcides Eloy fomos para a primeira noite do evento. Lá estava quase toda a fauna poética do Rio. E nos sentimos - um pouco – peixes fora dágua ainda que conhecêssemos a maioria dela. Lembro que antes passamos por Santa Teresa, bebemos umas no SobreNatural e na volta para casa, fomos andando até a Central do Brasil felizes, declamando poemas pelas ruas desertas do Rio...

O evento foi se organizando e a cada semana era dia de uma apresentação diferente. A primeira foi dos organizadores, ressuscitando seu antigo grupo Panela de Pressão e foi bombástico (com Euclides Amaral e Marko Andrade)!! Rolou apresentações de Samaral, Regina Pouchain, Tanussi Cardoso, Flavio Nascimento entre tantos outros. E com patrocínio da “Mortadela Presunto” o Desmaio Públiko apresentou o recital “A Noite é Feita de Ossos”.

Foi inesquecível.

Fizemos um roteiro com alguns temas, como Amor, Morte, Palhaço, Poesia e nos distribuímos pelo bar. Então, quando um poeta acabava de declamar do palco, outro se levantava do meio do público e declamava, outro aparecia no mezanino, outro na janelinha do segundo andar do brechó e assim fomos pipocando e o público se surpreendendo aqui e ali.

Eu e Laranja (J.A Lima) cantamos “Go Back” dos Titãs, na verdade ele cantou e tocou o violão e eu declamei o poema “Andar Andei” de Torquato Neto.

Lembro que fechei a minha apresentação com um poema assim: “Sem perceber / lá estava Ernesto / Viajando na fumaça / de seu cigarro / Se contorceu no bailado sinuoso / Subiu, Subiu, Subiu / E virou nuvem. / Depois veio / a tempestade de poesia.” E quando eu declamei isso, Moduan Matus e Sandro Murshausen jogaram baldes cheios de poemas recortados de xerox do fanzine, fazendo uma chuva poética cair sobre os presentes.

Fomos ovacionados!

Foram apenas cinco meses de encontros, muitos porres, muita poesia, discussões acaloradas, muitos beijos e muitos abraços!! A Emboscada Poética foi um daqueles grandes momentos da poesia carioca. Uma orgia literária com orgasmos múltiplos!!! Insuperástico!

3 comentários:

Denise disse...

Cézar,
Adorei!

Lendo agora um trecho de "Ernersto Jatobá" Lembrei que digitei ele todinho pra você!

Lembra?

silvana disse...

"Eu Fui"!!!!!! Ao menos em um, só não me lembro se declamei! (amnésia alcóolica???) rsrsrs e bjs

Unknown disse...

q belo texto! boas lembranças deste dia e dos outros também. Lembro do Cézar declamando Torquato.. ficou muito legal. parabéns pela memória!! putz!! valeu poeta Cézar!!! Kib (euclides amaral)