Não me lembro quando fui apresentado ao Marcelo Peregrino. Lembro bem quando o conheci. Ele já tocava as sextas no Bar Raízes de Moduan Matus e Sil, ali ao lado da Prefeitura de Nova Iguaçu.
No fim ou no intervalo de sua apresentação, sentamos e bebemos umas cervejas e falamos sobre música, sobre quadrinhos, cinema e outros assuntos que me surpreenderam bastante, pois há muito não encontrava alguém com interesses tão próximos aos meus. Conversamos sobre autores de quadrinhos, como Allan Moore, Frank Miller, Neil Gaiman (talvez seu predileto); sobre bandas dos anos 80, como The Smiths, Echo and The Bunnyman e The Cure (talvez sua banda preferida) e sobre músicos/bandas pernambucanas, Chico Science, Mundo Livre S.A., Antônio Nóbrega (talvez seu dileto artista) e houve uma sintonia de irmãos como se já nos conhecêssemos há décadas.
Peregrino me disse que já me conhecia e era um admirador de meu trabalho desde quando ainda morava em Duque de Caxias onde os poemas de alguns poetas de Nova Iguaçu eram declamados nos bares da cidade pelos poetas de lá, que tinham o Desmaio Públiko como uma de suas referências.
Marcelo Peregrino pode parecer para muita gente um cara complicado – até para mim – mas sua generosidade se confunde com uma cobrança – nunca para ele próprio – mas exatamente quando as pessoas que ele ajuda se preocupam mais com seus próprios umbigos que com o todo! Com a coisa maior. E Peregrino sempre se preocupa com o todo!
Profissionalismo e dedicação são as marcas registradas de Marcelo, além de sua generosidade e pré-disposição para encarar qualquer empreitada de terceiros, mesmo quando nada tem a ver com seus interesses. E afirmo isso: foi assim com o Cineclube Buraco do Getúlio de BioN! e Lua, com o Poesia na Varanda de Sylvio Neto, com a Radio Rua, o Desmaio Públiko, Manhãs de Outono entre tantos outros eventos que sem a sua boa vontade, tivessem se realizado sim, mas sem tanta riqueza!
Músico talentoso, regala-se mais com o trabalho de terceiros que com seu próprio material. Numa atitude altruísta - que sempre me impressionou muito, num mundo tão umbilical - está sempre disposto a trabalhar pelo sucesso dos outros que pelo seu próprio. Quando entra numa briga por alguém ou por uma causa, está disposto a ir até o fim, mesmo que para isso se sacrifique e se queime com pessoas que nem precisava...
Antes de vir morar em Recife (coisa que ele nunca acreditou que aconteceria de fato, achava que era só falácia) começamos a montar nosso estúdio musical. E estava ducaraio! Mas eu vim para cá...
Ele também foi meu companheiro nas noites do cineclube Mate com Angu em Caxias quando fui convidado para ser DJ durante uma temporada, montando todo o som deixando-me só com a tarefa de tocar. E nunca, nunca se intrometeu em meu set.
No final do ano passado quando o Desmaio Públiko (fanzine que Eud Pestana e eu criamos em 1991) fez 20 anos, vendo que não haveria da parte da Prefeitura de Nova Iguaçu nenhuma homenagem a esta data tão significativa para a gente – poetas que se descobriram com o zine – propôs um projeto ao Governo do Estado do Rio e conseguiu realizar uma linda noite emocionante para todos nós.
Tenho tantas histórias e débitos com este artista/amigo que se fosse falar tudo, daria uma edição do Zarayland inteira somente sobre ele. Uma das pessoas que mais senti falta quando me mudei para Recife. Um dos caras que achava seria o primeiro a vir aqui me visitar, mas até hoje, nunca veio.
Mas entendo o Pererê. Tem tantas outras coisas com que está envolvido diretamente que não sobra espaço em sua agenda. Do trabalho em seu estúdio, hoje em sociedade com o Rodrigo Batata à banda Charanga do Caneco (crossover de rock’n’rol com marchinas de carnaval), do duo de contador de histórias “Baú” a suas investidas em projetos culturais e brigas com a política cultural vigente da cidade.
Marcelo não para. É um guerreiro onde quer que coloque seus pés e suas habilidosas mãos. Caxias deve sentir muito a sua falta. Nova Iguaçu deveria agradecer sua presença. Eu, de cá, sinto muito saudade e agradeço por ser amigo / irmão deste malandro!
4 comentários:
caraca. estou impressionado.
eu ,de fato, nao conhecia esse Peregrino não! =)
que gostoso de ler.
;)
Bela homenagem a este poeta da música, amigo querido!!!!
Com Peregrino no nome, não faz uma viagem física se quer, pois é muito preso às suas raízes. Peregrino mesmo é sua mente que vive viajando com sua ideias geniais !
Bonitaço, eu gosto. Acho mais, os amigos sempre merecem, principalmente aqueles com talentos tão latentes. Eu corroboro e vou te visitar com o Perê!
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