terça-feira, 23 de agosto de 2011

Casa de Cultura de Nova Iguaçu

Um convite serigrafado com uma bela gravura da Fazenda São Bernadino era a passagem para conhecer os artistas de minha cidade. Onde? A inauguração da Casa de Cultura de Nova Iguaçu em 1989.

Na época eu não estava tão interessado em cultura assim, mas sim em alguém que queria impressionar. Uma amiga de minha irmã (por quem meu coração batucava naquele tempo) e a levei para a inauguração.

Lembro-me que estava quente e que ficamos do lado de fora conversando. E depois fui embora e não voltei tão cedo.

Em 6 de dezembro de 1991 lançamos o Desmaio Públiko e aí tudo mudou. Conheci o poeta Moduan Matus que publicava no fanzine e, numa das edições, não havia me passado seu poema. Pediu-me para ir até a Casa de Cultura – onde trabalhava então – para que pudesse me entregar seus versos. O advento email ainda não era popular.

Na hora do almoço eu e Eud Pestana fomos até lá e adoramos tudo que vimos. Da inauguração para aquele dia passaram-se poucos anos, mas eu já era outra pessoa e enxerguei aquela Casa como um espaço onde poderia encontrar pessoas com os mesmos interesses que o meu. Onde poderia viver a arte profundamente. Nova Iguaçu não tinha uma Casa de Cultura do município! Os equipamentos culturais eram parcos e abandonados!

Viver a arte profundamente! Foi isso que aconteceu nos meses seguintes. Não saíamos de lá. Dormíamos lá. Sob a direção de Raimundo Rodrigues a casa ganhou a galeria Walmir Ayala com exposições de arte contemporânea, aulas de yoga com a poeta Líriam Tabosa, aulas de teatro e mímica com Alexandre Ribeiro, diversos shows musicais, cineclube, clube de tapioqueiros, aulas de esperanto, tai-chi-chuan, oficina de arte, Encontros com a Poesia, entre outras manifestações artísticas.

A Casa de Cultura me propiciou também conhecer algumas pessoas especiais de minha vida. Foi lá que conheci a já citada Lirian Tabosa, Almeida dos Santos (o Bolão), Demétrio Oli, Fernanda Morais e o grupo Elementum, o próprio Raimundo Rodrigues e Julio Sekigushi, Pão com Ovo (Mega), Fátima do Rosário o criador e financiador da casa Emanoel Emir e tantos outros caros amigos que até hoje brilham em meu peito e lembrança.

Várias histórias que só poderiam acontecer em determinada época, foram vividas por lá também, como a vez em que depois de termos fechado o Daniels Bar ficamos bebendo e declamando poemas para nós mesmos até tarde no bar da Casa de Cultura e acabamos dormindo por ali.

Quando acordamos na manhã de domingo, o Raimundo Rodrigues estava furioso coma bagunça porque o pessoal do Tai-Chi estava para chegar e precisávamos arrumar aquela tudo. Limpamos o que pudemos, mas na hora de acordar o poeta Moduan Matus, quem disse que conseguimos? Ele deitado no palco sonhava lindamente com musas platônicas.

A saída? Pegamos o poeta pelas mãos e pelos pés, fizemos um cercadinho com os cubos praticáveis que montavam o palco e o colocamos lá e o cobrimos com o pano de fundo do palco. Pronto! Imagino o susto que Moduan tomou quando acordou horas mais tarde dentro daquele “caixão”.

Com problemas financeiros – a Casa não recebia quaisquer subsídios municipal e era praticamente bancada pelos cursos e pelo seu “dono” Emanoel Emir – chegamos a fazer algumas manifestações para arrecadar fundos para a Casa, como a “Vaquinha” pelas ruas do Rio e ato na Cinelândia, mas não foi suficiente e infelizmente, meses depois d’eu redescobrir a Casa de Cultura de Nova Iguaçu, ela encerrou suas atividades deixando um vazio que até hoje, nem com o Espaço Cultural Sylvio Monteiro foi ocupado.

6 comentários:

Demetrio Oliveira disse...

A casa da Cultura foi um divisor de águas em minha vida. Estava eu lá perdido pela baixada, expulso de casa e com uma filha pequena para criar. Naqueles dias, tudo era novidade, descoberta. Muito mais do que entender a história da arte, ou o significado da poesia, eu buscava esperança, aceitação, direção. A casa era a bússula e os habitantes o Norte magnético. Hoje habito novas casas. Mudei de rumo e direção. Mas o coração, permaneceu estacionado por ali.

Zaray disse...

E vc Demétrio criava polêmicas essenciais numa época em que a brodagem era tanta que acabava se tornando até indulgente. Valeu por tudo que aprendi com vc!

Teste disse...

Boa Materia, parabens. Moduam continua na casa rs.

Anderson Batata

Zaray disse...

Valeu Batata, falo de vc lá nos Cineclubes.

Arte e Cultura Popular disse...

Achei caralho de asa essa parada me deixa nervoso estava doido para falar sobre a casa que me apaixonei e comecei a minha vida de mambembe cara participei do pedágio para arrecar grana vi alguns namopros começar ali e permanecer até agora conheci uma porrada de gente que me ajudou a ser o preguinho estou na animação cultural apartir desse movimento que foi brotar lá no bar do Daniel engraçado que não me dava conta que esses dois movimentos foram quase que paralelo haja visto que iriamos fazer o calidoscópio lá acabou se transferindo pro bar do Dani, uma oficina que o saudoso Cicinho deu lá dentre tantas e que me é inesquecível foi um exercicio tipo regressão e não me lembro a pessoa mais sei que a figura não queria voltar mais a realidade eu começando no teatro pirei morri de medo a figura parecia que tava morta mais ela estava em transe e então casa de cultura Emi querido pra mim pois já o conhecia antes da casa, enfim adorável lembrança!!!

André de Oliveira disse...

Belo artigo camarada, pena que não cheguei a conhecer a casa.