sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Carnaval 1993 – Última Parte

Leia antes as partes 01 e 02 desta saga em:
http://zarayland.blogspot.com/2011/08/carnaval-de-1993-parte-i.html


Não lembro exatamente a que horas chegamos a Paraty, mas já era noite e faltava luz nas redondezas da rodoviária. Confesso que fiquei decepcionado. Queria a Paraty turística das fotos, uma São João Del Rey a beira mar. Mas ali eram só casas normais, quase iguais as do Monte Líbano... Mas como que num portal, passamos para o outro lado e chegamos a um lugar mágico.

O choque e minha lembrança, hoje misturada aos sentimentos, tornam aquele momento onírico. Quase como aquela cena de HellBoy quando entram no mundo da magia. Encantados com as ruas, lojas, bares, circulamos meio que captando a poesia do momento, meio que procurando pistas de Shirley (irmã de Blue que estava com casa alugada lá).

Com fome, a ressaca já havia passado, resolvemos comer. Pedimos para deixar nossas bagagens numa tenda da Defesa Civil e partimos para procurar um restaurante que aceitasse CredCard (nossa única moeda) para podermos jantar.

Encontramos um restaurantezinho vazio, simpático e agradável. O garçom veio até nós, nos entregou os cardápios e perguntou: “Uma cerveja estupidamente gelada?” Esquecidos, já, de como havíamos passado mal de manhã por conta da cachaça e diante daquela oferta “Estupidamente gelada” um olhou para a cara do outro e concordamos de imediato salivando como coiotes.

O garçom trouxe o engodo. Estava quente. Não fresca. Quente. Porra que sacanagem é essa? “Garçom, esta cerveja está quente!” Ele trouxe outra. Quente. Na terceira ele já estava sem paciência e insistia que estava gelada: “Põe o dedo na chapinha, olha como está gelada?”. Não entendia que a gente estava bebendo. E sabíamos mais que ninguém que aquelas cervejas estavam quentes! Mas nossa comida chegou, comemos, pagamos e fomos embora procurar Shirley.

O Blue com os sentidos super aguçados, direcionava a gente usando apenas isso: a intuição. Dizia: “Por aqui!” E eu: “ Você sabe que é nesta direção?” E ele: “Tenho certeza! Alguma coisa está me chamando para cá...” Então tá.

Entramos numa das ruas e havia um grupo de pessoas cercando um pequeno show. Era o grupo VientoSur de música latina-americana. Ficamos ali viajando no som daquelas flautas de bambus e melodias peruanas. De repente no meio do público Blue reconhece um rapaz que trabalhava com sua irmã e provavelmente estava na casa. Fizemos uma festa. Primeiro por não estarmos mais náufragos e depois pela sintonia que o Blue estava com o cosmos. Duca!

Em casa, com olhares meio atravessados dos outros mantenedores da casa, eu e Blue nem queríamos saber. Queríamos era mais!! Acampamos na sala e caímos na noite. Dia seguinte, conhecemos a cidade, jogamos pela primeira vez frescobol (sim, levamos raquetes – peso) e bebemos o dia inteiro com dinheiro emprestado por Shirley que ainda disse: “Ninguém pode fazer cara feia para vocês, duas amigas no dia em que chegamos conheceram dois caras e eles estão lá direto, praticamente morando lá...”

A noite cansados e sem disposição para o carnaval decidimos ir dormir. Mas ao chegar à escada da casa, ouvimos a sinfonia violenta e sexual de um casal que sem se importar com a vizinhança cantava alto seus gemidos amorosos. Eu e Blue nos entreolhamos e decidimos não entrar. Ficamos na esquina, sentados numa pedra esperando acabar. E da esquina dava para ouvir tudo. Visto que não iria acabar tão cedo e que já estávamos ficando excitados resolvemos voltar para a cidade para beber umas e esfriar a cabeça.

Dia seguinte bem cedo depois do café-da-manhã Shirley nos chamou num canto e nos disse: “Fizemos uma reunião, votamos e decidimos que vocês vão ter que partir assim como os namorados das meninas. Tomem aqui dinheiro, peguem o ônibus Paraty / Rio – Direto, que meio-dia vocês estarão em casa”. Ok. Obrigado Shirley por tudo, vamos nessa.

Ah se fosse simples assim. No caminho, contando aquela grana, com a aventura correndo forte nas veias ainda. Cansados, mas não querendo que acabasse assim, num ônibus leito, direto para casa, nossa viagem, calculamos: “Ou pegamos este bus, vamos direto para casa e the end ou vamos fazendo baldeação até Nova Iguaçu e ainda sobra dinheiro para irmos bebendo até lá”.

Nem preciso contar qual foi a resolução, né? Dez horas de viagem entre ônibus velhos, tempestades, motoristas que corriam como loucos e paradas, muitas paradas para enchermos nosso tanque e voltarmos felizes com um dos melhores carnavais que já passamos! Onde tudo deu errado e ao mesmo tempo tão certo!


3 comentários:

Denise disse...

Que divertido!

Uma pergunta:
Hoje em dia vocês fariam baldeação??

srrsrsrs

Zaray disse...

Hoje em dia, meu amor? Eu só faço de helicóptero!

Jr júnior disse...

EU FARIA, EU FARIA !!!! rs