sábado, 27 de outubro de 2012

Uma Noite em 67


O poeta Marlos Degani sempre, em nossas reuniões, nos pergunta: “E quando esta geração morrer? Gil, Caetano, Chico, Roberto? Como vai ser?” Eu sempre achei um tanto exagerada esta preocupação de meu amigo. Afinal, os grandes da minha geração já se foram há tempos. Renato Russo, Cazuza, Chico Science. Então, para mim esta pergunta nunca teve tanta relevancia.

Acabei de ver o filme “Uma Noite em 67” no Canal Brasil e fiquei muito emocionado e dei muito mais valor a pergunta insistente do poeta.

O filme (segundo seu próprio slogan: sobre um festival que revolucionou a música brasileira), trata-se de um documentário que conta a história daquela noite histórica em que – hoje – grandes da MPB se aprensentaram numa noite emocionante no Teatro Paramount (ou da Record, hoje Abril) no dia 21 de outubro de 1967.

Ver os depoimentos hoje em dia dos personagens envolvidos, mesclados com seus depoimentos captados na própria data é de uma emoção féuladaputa!

Assistir aos depoimentos sobre uma passeata contra a guitarra elétrica, como se ela fosse o agente americano do mal, é olhar a ingenuidade que persegue até hoje alguns xiitas de nossa cultura!!!

Sérgio Ricardo sobre uma torrencial vaia, querendo enfrentar o público que cada vez reage pior ao seu discurso provocativo, inclusive não permitindo que ele consiga se ouvir, tendo um final decisivo para sua carreira ao quebrar o violão no palco. Decisivo, pois naquela época a Record mandava na mídia.

Gravadoras, programas de auditórios (musicais) e os próprios músicos tinham vínculos com a TV. É uma história que merece um capítulo a parte, mas ver seu depoimento – do Sérgio – hoje é fundamental!!

Chico Buarque aos 23 anos (todos estão na faixa dos 20 e poucos anos e todos já tinham cara de velhos como todo mundo tinha antigamente) mais tímido que hoje acaba uma entrevista com a frase – sorrindo: “Estou meio atrapalhado para responder esta pergunta” é impagável. E ainda melhor vê-lo dizer que Caetano afirma que ele esteve em várias reuniões para discutir – não a criação da Tropicália, mas sim de – uma nova forma de se fazer música no país e que em todas as reuniões ele estava bêbado, por isso não se lembra. É demais!

Assim como é demais ver o diretor da Record afirmar que manipulava os festivais. Não com os resultados, mas sim influenciando o público forçando personagens. Como num Telecatch. Manequeísticamente. Incitando a criação do mocinho, do bandido, do pai da mocinha, da mocinha.

Falar mais do filme é tirar mais prazer que já tirei. Deixo aqui somente a dica para vocês. Peguem este filme. Deve ter como baixá-lo. Assistam e conheçam parte da história da música brasileira. Que jamais morrerá. Mas como questiona muito bem meu amigo Marlos Degani, seus personagens uma hora deixarão de estar entre nós, e aí como é que vai ser?

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