quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Quixote, O Dom da Loucura - Luiz Vaz

Quando eu era criança, meu pai comprou uma coleção de discos (compactos coloridos) com histórias infantis. Não existia ainda o advento do vídeo cassete e eu e minhas irmãs viajávamos naquelas narrações como se fossem filmes. Sim, livros existiam, mas mesmo meu pai sendo um grande amante deles, não sei bem o porquê não tínhamos muitos livros infantis. Talvez fosse pela questão financeira. Enfim, o que quero contar para vocês é sobre a minha história com a estória do Mágico de Oz.

Ouvindo, pirralho, aquele conto, imaginei todos os personagens em minha cabeça e nunca mais foram modificados. Claro que não é um dos trabalhos mais criativos imaginar um espantalho ou um leão, a Dorothy e seu cão. Mas o Homem de Lata... Ah esse sim. É só meu e de mais ninguém. Mesmo depois de anos, com filmes, livros que comprei para minhas filhas com suas ilustrações maravilhosas, o Homem de Lata do Mágico de Oz é o meu. O que imaginei com poucos anos de idade e ninguém tirará sua imagem de mim. E afirmo o quanto ele é muito mais bonito e gracioso!

Tudo que disse até aqui se justifica para falar sobre a peça “Quixote, O Dom da Loucura” dirigida por um dos grandes visionários que já tive a honra de conhecer: Luiz Augusto Vaz! Nunca li a obra de Miguel de Cervantes e nem adaptações que a valha. Assisti sim, desenhos animados e sempre soube da história, do nobre de meia idade que enlouqueceu e passou a viver a vida como um Cavaleiro Andante com a missão de salvar a doce Dulcinéia, perseguido por gigantes (moinhos) ao lado de seu inseparável escudeiro Sancho Pança, por osmose. Como se em meu DNA toda a saga deste cavaleiro já me habitasse.

Porém, conhecer de fato sua jornada só aconteceu comigo com a peça dirigida com maestria pelo já citado diretor, que generoso, adquiriu todas as colaborações de seus atores que levaram cada um, seu bocado quixotesco para o espetáculo. Ele foi meu norte e minha pousada para suas aventuras.

Seu primeiro elenco foi o melhor em minha opinião! Era composto pelo ator Marcos Serra (interpretando sublimemente e surpreendentemente o herói (leia mais aqui: http://zarayland.blogspot.com.br/2012/02/meu-povo-marcos-serra.html), Mariana Dias (como um Sancho Pança irônico, engraçado, apaixonante e ainda acumulou a função de narradora da saga), Élida Cândido e Josi Lozada (revezando em todos os outros papéis femininos da peça, como a sobrinha e a criada; como lavadeiras mendigas ou ainda como meretrizes em uma das cenas mais emocionantes da peça), Luiz Vaz (diretor, quebrando um galho como o Castelão, Médico e Amigo entre outros papéis que já não me lembro) e os músicos que criaram todo o clima do espetáculo: Cláudio Lyra (diretor musical e violão) e Rodrigo Wolverine (com sua flauta mágica).

Sua estréia num Café/Livraria/Teatro em Botafogo foi uma das melhores estréias que já assisti em minha vida. Arrancando duas vezes aplausos em cena aberta. Inesquecível a fogueira dos livros criada pelo Luis e pelo iluminador Arnaldo Costa Pano.

O cenário, mais um rebento do diretor que acumulou tantas funções quanto é capaz e tem talento para muito mais ainda, e que em outra oportunidade irei aqui relatar, era majestoso. Não por riquezas financeiras, mas sim por nababesca criatividade. Uma lua, seccionada em duas partes. Uma delas minguante e a outra a sua sobra, quase uma lua cheia que possibilitava a mutação do cenário durante a peça. Coisas que mesmo explicando aqui em palavras, emoções ou matemática falharia desgraçadamente.

Uma obra de arte azulejada e com movimentos perfeitos, que hora virava o portal de uma vila, hora uma fonte, hora levava a narradora a lua, hora era o esquife do De La Mancha. Montar cada cena usando seus improváveis movimentos, mais que árduo, penso que, deve ter sido um trabalho de prodigioso criador. Creio cá comigo que o Luiz incorporou o Quixote que existe nele para nos propiciar o inesperado.

Figurinos deslumbrantes, sacações de palco antológicas, atores afiados entre si, texto azeitado com o melhor do humor, a doçura da poesia e a dor do drama excruciante. Um final apoteótico que tenho pena de contar aqui, pois não quero estragar uma futura possível reencenação – que acho muito válida visto que se comemora – já - uma década de sua primeira apresentação, fizeram desta, uma das melhores peças que já assisti.

Por conta dela, viajei no histórico ônibus FREE DANCE para o Festival de Teatro de Curitiba, onde precisei ser o iluminador a pedido do meu amigo Luiz Vaz, já que tinha assistido umas trocentas vezes e sabia cada fala e cada entrada de atores em cena. Graças a ela pude ver como uma peça pode funcionar de formas completamente diferentes com um elenco ou com outro, ainda que tudo seja igual, menos os atores.

Através desta obra-prima eu voltei a acreditar no teatro “amador” no sentido de amar, de se dar/doar a um projeto. Com entrega, participação, amizade, qualidade, troca, empenho, aprendizado, criação coletiva, diversão, improviso, união. Por fim, acreditar que o Teatro é muito mais que a apresentação, o Teatro é a construção!

Assim, posso afirmar para vocês o seguinte: mesmo que nunca tenha lido o clássico de Miguel de Cervantes y Saavedra, me dou por satisfeito. Pois Dom Quixote para mim, assim como o meu Homem de Lata do Mágico de Oz, será para sempre o do “Quixote, O Dom da Loucura” de Luiz Augusto Vaz e companhia e isso tudo me basta e me orgulha demais!

6 comentários:

Cláudia disse...

Concordo com vc, Cezar Ray! Foi muito legal mesmo, também adorei!!

Nação de Idéias disse...

sioCaro César Ray, que bonita lembrança, e em especial as que ficaram em você como impressões que você generosamente agora divide conosco, toda sorte irmão, continue com essa bela escrita, descrevendo a vida tocando a Zaraya, forte abraço e um ano novinho em folha pra ti e pros seus!

Marcos disse...

Maravilhosa lembrança, maravilhosa publicação.
Me sinto honrado por ambas!

Unknown disse...

Cezar Ray. Tudo Bom!! Feliz por tanto elogio. Achei agora seu blog.
Sou Élida Candido atriz do espetáculo. super bjbj
Quem sabe consigamos remontar a peça? vou tentar, super bjbj
meus contatos: face Élida Candido; elidacandida@gmail.com; 97390-7575

Unknown disse...

Porque foram ocultados a figurinista e o verdadeiro iluminador deste espetáculo?

Unknown disse...

Eu criei a luz deste espetáculo, até o chale que a Elida usa foi feito por mim usando Macramê. Esqueceu a Hélia porque?