terça-feira, 17 de maio de 2011

DMV (Discos da Minha Vida)

CANTORIAS I e II (Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo)

A única coisa que posso dizer nessa vida é que sou poeta. Nada mais. Gosto muito de cinema e de música também, mas não faço uma coisa nem outra. Nada além de um mero poeta, repito.

Mas há muito tempo gostaria de tecer algumas palavras sobre dois discos que foram de extremíssima importância na minha formação musical e que, como dizíamos naquela época, fizeram a minha cabeça.

Faço referência aos discos Cantoria 1 e 2 da Kuarup Produções de meados da década de 80, século passado. Cantoria foi um projeto que reuniu quatro feras da música brasileira: Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo em dois discos ao vivo separados por um pequeno hiato de tempo. Antes de comentar os discos propriamente ditos, fico incomodado com o fato de gente do quilate artístico de Elomar, por exemplo, apesar de ser um compositor prestigiadíssimo e de ter, por conseguinte, um enorme público, não ser um cara reconhecido nacionalmente. Elomar é um gênio da composição brasileira. Um sofisticado cantador do sertão baiano, nascido à beira do Rio Gavião que desvenda o mistério sertanejo do seu povo e, com isso, de todo o Brasil que conhece e traduz por meio de suas composições absolutamente magníficas.

Cantoria me prestou logo de cara um enorme favor: apresentou o que é música sertaneja de fato, o que é a música do interior do Brasil. Logo em seguida passei e me interessar pelos regionais como Renato Teixeira, Pena Branca e Xavantinho e Almir Sater, entre outros, mas foi Cantoria que abriu os meus olhos, que despertou a poesia do que é simples, entretanto, não simplório.

Além de toda a densidade estética de Elomar, mantida, em contraposição, por sua leveza, Cantoria reúne ainda as maravilhosas participações de Vital Farias e Geraldinho com auxílio luxuoso de Xangai.

Em ambos os discos, Cantoria começa com um desafio. No primeiro, Elomar e Xangai desfilam um apanhado de composições e conversam em música. No segundo os quatro participam do desafio. É coisa fina, Sinhá... Como diria o nosso Ney Lopes.

Pode parecer exagero, mas todas as músicas dos dois discos são irretocáveis. Lindas. Majestosas. Portanto é difícil destacar partes. Sem perder o medo de praticar alguma injustiça, no disco um, as interpretações do Desafio do Auto da Catingueira (Elomar e Xangai) e da Cantiga do Boi Incantado (Elomar) são de arrepiar. Temos ainda o clássico de Jatobá, Matança, que Xangai simplesmente imortalizou. Pontos altíssimos: Saga da Amazônia e Saga de Severenin, belíssimas composições de Vital Farias que o mesmo interpreta emocionadamente e acaba ovacionado pela platéia. Nem citamos Cantiga do Estradar, de Elomar (os quatro interpretam) e Kukukaia, de Cátia de França, que Xangai toca e canta de um modo todo especial.

O dois tem, igualmente, os seus destaques: Quadrada das Águas Perdidas é de fazer chorar! De Elomar com a participação da turma toda. Sussarana, também de Elomar, com participação especial do ceguinho Francisco Aafa e violão do Geraldinho é uma pérola da nossa música. Estampas Eucalol, de Hélio Contreiras, que Xangai defende com muito talento e violão de Geraldinho, que também presenteia o ouvinte com Caravana e Talismã.

Para resumir: dois discos que não podem faltar no seu MP3.
Se não conhece, conheça. Se não ouviu, ouça. Se não amou, ame.
Se não cantou, cante.

Aqui você baixa os dois discos:


Marlos Degani

Marlos Degani participa do grupo de poesia Desmaio Públiko em Nova Iguaçu. Escreve crônicas periódicas no sítio do Baixada Fácil www.baixadafacil.com.br e lançou seu primeiro livro de poemas chamado Sangue da Palavra em 2007 e um CD de poemas chamado MARLOS DEGANI - ATÉ AGORA em 2009, com a sua poesia completa (édita e inédita). Peça o seu CD e seu Livro pelo e-mail: marlosdegani@gmail.com






2 comentários:

Vanessa Rodrigues disse...

Adorei o espaço DMV de Degani (de quem sou tiete).. agora posso enriquecer meu LPfólio..

Parabéns e xero grande Marlos Brando!

Denise disse...

:)