terça-feira, 17 de maio de 2011

O Nós Pós

Certa noite duma sexta-feira, nos primeiros meses aqui em Recife, fiquei em casa bebendo umas cervejas esperando o Bar Garagem abrir (ele só abria depois da meia-noite) e era difícil ficar acordado até a meia-noite, pois aqui escurece bem mais cedo, as pessoas dormem mais cedo e não conhecia ainda outros bares e nem tinha amigos com quem pudesse ficar conversando vendo a hora passar.

Denise havia desistido de ir comigo, vencida pelo cansaço e pelo sono. Fiquei então colocando música, bebendo e olhando a hora de minuto em minuto.

Meia-noite peguei um taxi e me mandei para lá. Tive que esperar ainda até as 2h quando Nilson (dono do bar) resolveu abrir. Eu e uma matilha esperávamos no posto de gasolina consumindo latinhas e conversando. Mas quando abriu o bar, cada um foi para o seu lado, cuidar de seus interesses.

Como não conhecia ninguém, fiquei nos banquinhos do balcão do bar ouvindo o som que Nilson colocava e tentando – muitas vezes em vão – puxar papo com o nem sempre simpático faz tudo e proprietário da casa.

Cansado de conversar com minha cerveja, peguei mais uma e fui lá para fora olhar as pessoas. Mas ficar segurando uma garrafa na mão (lá só vendia garrafa de 600ml) e um copo na outra e ainda querer fumar não era uma das mais confortáveis situações. Pedi então para apoiar minha cerva na mesa de uma galerinha que foi muito simpática e me convidou para sentar.

Estava no Nós Pós.

Contando que era novo em Recife, que era poeta e tal, me comunicaram que tinham um grupo de poesia, que faziam apresentações, que tinham um fanzine e pediram para eu esperar para conhecer Alexandre. Um guerreiro hasteando a bandeira da resistência e da poesia. Convidou-me para participar da próxima edição do Nós Pós no Burburinho o que aceitei de imediato. Ficamos bebendo e conversando até umas 9 horas da manhã.

O Nós Pós no Burburinho foi dez. Era a primeira vez que eu ia no bar e já gostei de cara de lá. Vi os poetas sentados juntos numa mesona (como acontecia comigo e com meus comparsas do Desmaio em Nova Iguaçu), vi um poeta novinho com rabo de cavalo, todo de preto que disse logo: “Olha o meu filho ali”. Poetas com forte teor político. Poetas com tão sensíveis que pareciam pétalas de rosas. Poetas performáticos. Enfim, poetas para todos os gostos. E acho que gostaram de mim também.

Meses depois no aniversário de 1 ano do grupo fui novamente convidado a declamar, desta vez, na livraria Cultura. Vinha de um churrasco e já cheguei trêbado. Esqueci um poema no meio (Sídrome de Sandrinhoooo) e me justifiquei: “Gente, eu estava num churrasco!” e o teatro em uníssono: “Ahhhhhhhhhhh”. Foi lindo. Lindo também foi reger as pessoas com o poema de “Nas Mãos em Conchas do Meu Amor” de Ivan Odara.

Depois participei de eventos literários do Nós Pós em outros locais, como as edições de verão numa sorveteria nos Aflitos.

O Nós Pós é muito mais que um grupo de poetas ou um evento. O Nós Pós desenvolve ações - desde projetos, planejamento de eventos e projetos gráficos até manutenção de terminal de divulgação - que visam contribuir para o desenvolvimento das artes, focando na nova geração de artistas contemporâneos.

Fiquei muito honrado em participar de sua história!

http://nospos.blogspot.com/

3 comentários:

Vanessa Rodrigues disse...

Porraaaa! (desculpe a empolgação)

Que história do caralho!! (sorry again)

Vou te contar um segredinho: quando recebo o email de atualização do seu blogg, separo no mínimo 1horinha para ler e comentar porque sei que "lá vem história".. e como gosto de escrever..

Aí começo com todo o gás.. depois dos dois primeiros posts a vista vai cansando e dá aquela preguiça.. mas persisto na leitura, pois sei que vem coisa muito boa pela frente..

E Boss, cada história que você compartilha, cada pensamento seu, cada frase e paráfrase da sua vida narrada aqui é como uma talagada de cerveja encorpada.. é muita emoção tragada de uma vez só..

Suas palavras germinam na imaginação dos zaraylandeiros..

Oa, próxima vez que você declamar na livraria cultura (ou for para um churrasco) me chama!

Xro de fã

paola disse...

Sua história foi contada de uma forma que parecia até que eu estava lá!
Muito bom!

Denise disse...

Até hoje quando alguém que estava na livraria te reconhece faz a pergunta:
"Não foi você que tava no churrasco?"
kkkkk...
E nem precisa explicar a gente já sabe o que é.
Bjs