quarta-feira, 16 de maio de 2012

DMV – PARIS – SUPERTRAMP



Meu saudoso pai era meio metido a comunista. Coadunava o seu pensamento com os grandes homens da esquerda. E protagonizava episódios do tipo: quando nos mudamos para São Paulo, corria o ano de 1972/1973, fomos morar na Vila dos Remédios, numa rua que, depois, passou a se chamar General Ernesto Geisel. E, coitado dos caras da prefeitura, inventaram de colocar uma placa com o novo nome da rua justamente na casa do José Marcos Coutinho. Meu pai simplesmente não permitiu e, aos borbotões, dizia que na casa dele rua com nome de general não podia, que isso, que aquilo. Seu Marcos ficou uma arara. E quem disse que colocaram a placa?

Devo toda a minha formação intelectual ao meu pai. Foi por meio de seus discos e livros que pude ter os primeiros contatos com o mundo das artes. Foi lendo o jornal que religiosamente trazia todos os dias do trabalho, é que pude me familiarizar com a informação e, também, ler os grandes articulistas daquele tempo de ouro do jornalismo brasileiro. Hoje em dia, honrosas exceções feitas cá e lá, o cardápio é de se lamentar.

Portanto, vocês podem imaginar que tudo o que eu ouvia na minha vida era música brasileira. Cresci com Ataulfo Alves, Nélson Gonçalves, Nilo Amaro, Dilermando Reis, Juca Chaves, Ângela Maria e outros do tempo do meu pai. Poucos devem se lembrar, mas naquela época as editoras lançavam MP’s (um disco que ficava entre o tamanho de um LP e o de um compacto) em bancas de jornais. Além do MP, havia um portentoso encarte com a história do artista daquela semana ou quinzena. Meu pai comprava essas coleções e foi por meio delas que pude ter acesso, na ocasião, a compositores mais modernos, quais sejam, Chico Buarque, Caetano Veloso, Nara Leão, Paulinho da Viola, Ivan Lins, Gilberto Gil, Milton Nascimento e intérpretes como Clara Nunes, Gal Costa, Maria Bethânia, Elis Regina e outros.

Demorou um bocado de tempo para que eu me aventurasse em searas internacionais, não obstante o auge da música americana na década de 1970 no Brasil, dos grandes grupos de rock e dos concertos ao ar livre mundo a fora. Bem que se diga, até hoje 70% do que ouço é de música brasileira. Noves fora um pouco de Beatles, o primeiro disco internacional que comprei e curti à vera foi o Paris do Supertramp, ao vivo de 1980.

O DMV desta quinzena versa sobre este discaço do Supertramp: Paris, Live, A & M Records, 1980, produzido por Peter Henderson e Russel Papa, álbum duplo.

Paris é considerado um dos melhores discos ao vivo já gravados no mundo, em todos os tempos. E a música do Supertramp me conquistou desde que ouvi pela primeira vez. Este disco é um registro da turnê do Breakfast in America, álbum lançado em 1979 e que vendeu mais de 6 milhões de cópias. O Paris foi gravado em 29 de novembro deste ano, porém só foi lançado em setembro de 1980.

A complexidade sonora do Supertramp sentiu-se à vontade neste disco. Bem tocado, bem sonorizado, fez com que canções de muito sucesso ganhassem outra roupagem e ficassem novamente fantásticas.

E a incrível jornada começa: School, Ain't Nobody But Me e não consigo esquecer aquele fervor do público e a voz de Hodgson: − Bonsoir Paris... quando começa a tocar The Logical Song. É de arrepiar!! Depois Breakfast in América, Hide In Your Shell. Segura que vem Dreamer e a minha preferida: Take The Long Way Home. Um disco de mais de uma hora e meia que você ouve sem perceber que o tempo passou de verdade. O único senão deste disco é o fato deles não terem gravado Goodbye Stranger. Não entendi o porquê até hoje. Mas de cabeça de juiz e de bunda de neném, podemos esperar qualquer coisa...

Ouvir o Paris é como estar numa suíte musical. Uma acomodação de sons que percorrem seus melhores sentidos. Paris representa o auge de uma banda que sempre evitou o sensacionalismo, que fez muito sucesso (até mais do que os Rolling Stones, por exemplo, mas não fazia disso uma marca e não criava fatos midiáticos artificiais) e que soube preservar a si própria e, por conseguinte, aos seus integrantes.

Roger Hodgson, Bob Siebenberg, John Helliwell, Rickie Davis e Dougie formaram um banda da pesada com um som original e sonoridade rica e bem arranjada. O tom singular da voz de Hodgson é marca registrada do Supertramp.

Quem não amou, ame. Quem ainda não deu, dê vexame.


O álbum duplo Paris de Supertramp você baixa aqui:


Marlos Degani é poeta e cronista, espalhou letras por aí e em breve teremos algumas músicas de peso de sua autoria em parceria com músicos do primeiro quilate de nossa MPB (Música Popular da Baixada). Para conhecer suas andanças, sintonizem em:

O poeta está no My Space http://www.myspace.com/marlosdegani
O poeta está no YouTube http://www.youtube.com (digitar Marlos Degani)
O poeta está na página do Desmaio Públiko do Orkut http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=3247729
O poeta está no Baixada Fácil http://www.blogger.com/goog_1741428297
O poeta está no Twitter @MarlosDegani

E assim foi o Zarayland 18! Merci beacoup!

Um comentário:

Jr júnior disse...

Rapaz...tem um tempo que não ouço. Desde que minha vitrola quebrou. Mas vou resolver isto antes do meu aniversário (17/06) e vamos juntos ouvi-lo lá em casa. Tenho o meu Vinil guardadinho, zeradão ! Aliás isto já me deu uma ótima idéia para minha festa deste ano Marlinhos: Vamos passar o Dia ouvindo vinis e Poetando ! marca aí pra não ter furo !! beijão !