sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

DMV: Sítio do Picapau Amarelo

Deve faltar muito pouco para estes DMV’s acabarem virando meu confessionário virtual. É que, na verdade, este disco (na verdade são dois) da minha vida de que vamos falar nesta edição, me remete para um tempo que não existe mais. Sempre combati com veemência, muitas vezes além do que a necessária, esses blábláblás falsamente sofisticados, tergiversantes (e o Cézar sabe bem disso, pois várias vezes nos debatemos sobre este assunto) que em vez informar ou esclarecer, apenas complicam a vida das pessoas. E, de repente, me pego em vergonhoso flagrante, ao escrever “me remete a um tempo que não existe mais.”. Qual seria o tempo que existe mais? Que tempo sobrevive às intempéries do próprio tempo? Que tempo é o presente?

Sabemos todos que esse negócio de “tempo que não existe mais” é um tremendo prato cheio para a Madame Natasha do Elio Gaspari. Mas realmente, este é um DMV recheado de emocionalidades. Ao mesmo tempo também coberto de lembranças boas (nem saudade, nem nostalgia, apenas recordações) daquele momento que o século XXI defenestrou completamente. Foi assistindo ao documentário do Paulinho da Viola, dirigido pela Izabel Jaguaribe, há uns seis ou sete anos atrás, que fui perceber, pela generosidade do Paulinho, que nós podemos lembrar de bons tempos, mas nunca esquecer de que nosso tempo é o agora. Paulinho me ensinou muito neste documentário. Recomendo a todos. Chama-se: Meu Tempo é Hoje, 2003, 83 minutos, Documentário, Izabel Jaguaribe, Brasil.

Tem uma articulista da Revista Época, Ruth Aquino, que chamou a geração que nasceu a partir de 1960, de Geração do Meio. Meio tempo de vida sem internet, meio tempo de vida com internet. Achei bacana essa idéia da divisão de tempos, digamos assim. Até porque a internet foi mesmo um divisor de águas na vida do homem e, cada vez mais, a tecnologia interferirá no modo de o homem se relacionar com os seus pares e também com o planeta. Portanto, com o estilo que vivi a minha infância nas décadas de 1970 e 1980, nunca mais serão possíveis sequer ínfimas comparações; vejam os antagonismos: campinho de terreno baldio e campo de grama sintética; polícia versus ladrão e videogame. Vamos ficar em duas, mas temos muitas outras.

Bem, mas afinal de contas, o assunto aqui é música, não é? E o DMV de hoje versa sobre dois discos que marcaram a minha vida e que ajudaram que eu tivesse uma infância mais iluminada e sonhadora. Faço referência aos dois primeiros discos do Sítio do Picapau Amarelo. No total foram quatro discos, dois relativamente recentes. Mas os dois discos da década de 1970 são, de fato, os melhores, especialmente o segundo, com músicas de Chico Buarque, João Bosco, Ivan Lins, Dori e Dorival Caymmi, Geraldo Azevedo, Paulo César Pinheiro, Doces Bárbaros, Sérgio Ricardo e Jards Macalé. Um discaço. Dorival cantou a moda da Tia Anastácia. Lucinha Lins da Narizinho. João Bosco do Visconde (é uma das minhas preferidas). Sérgio Ricardo da Emília. Doces Bárbaros do Saci. Uma belezura, gente!

O primeiro disco do Sítio foi um trabalho muito intenso do Dori Caymmi. É bom também, pois ele compôs temas do Rabicó, do Garnizé, do Quindim, do Jabuti e da Cuca. Dori é um craque. Vale a pena ter os dois, ouvir alto e mostrar aos seus filhos.

Hoje em dia temos, também, excelentes compositores de música infantil. A Bia Bedran, o Zé Zuca, o Palavra Cantada são bons exemplos. Mas, não sei se uma questão de época, e em minha opinião, nunca chegaram ao patamar das canções compostas para o Sítio. Pode ser defesa de um tempo, tudo bem.

E aí? O que está esperando? Se não brincou, brinque; se não ouviu ouça; se não amou ame.



Marlos Degani é poeta e sente saudade das peladas de fim de tarde com aroma de feijão refogado. Visite o blog do moçoilo em:

Twitter @MarlosDegani

Um comentário:

Denise disse...

Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos
Tempo, tempo, tempo, tempo...