Assim que o fanzine Desmaio Públiko ganhou corpo, conheci vários artistas iguaçuanos e percebi uma carência de espaço para que eles pudessem mostrar seus trabalhos autorais. Músicos sempre tocavam em bares o sucesso dos outros, vários encaixavam em seus repertórios, uma ou outra composição própria. Os poetas eram salvos uma vez por mês pelos Encontros com a Poesia, promovidos pelo poeta Moduan Matus e apresentado pelo poeta J.A Lima.
Criamos o Projeto Desmaio Públiko que consistia numa noite dedicada ao “autoral”. Poesia, Música, Teatro, Dança e Artes Plásticas definia o que se tratava a “festa”. Este tópico Projeto Desmaio Públiko será um dia esmiuçado aqui nas páginas negras da Zarayland. Por hora basta saber que esses eventos lotavam, tanto de público como de artistas que queriam cantar, declamar, apresentar suas esquetes coisa e tal. O que nos obrigava a montar uma programação apertadíssima. Apresentávamos o músico avisando: “Canta só três músicas!” ou ainda, aos poetas: “Declame somente três poemas” e assim administrávamos a fuzarca.
Por mais bacana que fosse o Projeto Desmaio Públiko, acabei me cansando e deixando de realizá-lo, mesmo sendo constantemente solicitado para que voltasse a editá-lo. Havia desistido do formato. Era trabalhoso demais e dava pouco resultado. Achava eu (o bambambam do sabetudismo).
Quando Roberto Lara (que estava há alguns meses com um estúdio no Colégio Afrânio Peixoto, teve que se mudar de lá, posto que exatamente ali onde era o estúdio, defronte de uma área verde linda cercada por construções antigas viraria um condomínio de espigões) me sugeriu que fizéssemos uma festa de despedida, topei. Roberto também não gostava do formato corrido do Projeto Desmaio Públiko. Então pensamos em algo diferente. Nasceu o Catatau. Nome sugerido pelo Laranja que de pronto aceitamos.
Poucas atrações. Mas com dignidade. Um espaço ao menos de uma hora para cada músico. Um peça de teatro de até uma hora também. E um espaço menor, porém suficiente para a poesia (meia-hora). Nesta época, Jorge Cardozo e Marlos Degani criaram um projeto chamado POESIA DE MESA, que se encaixou perfeitamente no Catatau. Eu queria uma produção organizada e busquei patrocinadores. Mesmo sem receber conseguimos montar uma noite mágica que ficou tatuada na lembrança de todos os presentes.
Convidei o iluminador Marcelo Sampa e com Marcelo Peregrino, Marlos Degani, Domi Júnior, Roberto Lara e Ilton Manhães (que gentilmente emprestou o som) transformamos o local num espaço belíssimo, com luzes indiretas, iluminando só as árvores e os arbustos. No fundo do palco (um nível elevado, porém natural e gramado) colocamos faixas de tnt em algumas cores que tremulavam ao vento. Em um espaço contíguo uma exposição com quadros do Projeto Manhãs de Outono. Eu e Mario Coutinho fizemos lanternas (com velas) para cada mesa e o lugar ganhou uma aura mágica.
Lembro-me perfeitamente da emoção que senti ao chegar no Afrânio Peixoto naquela noite. A entrada do antigo colégio já é linda, com suas palmeiras imperiais, mas com a iluminação do Sampa ficou soberana. Ele conseguiu guiar as pessoas até o local do evento somente com a iluminação. E lá, as mesas arrumadinhas, as lanternas acesas, o som rolando (DJ Lúcio BNH) era o prenúncio de uma noite soberba.
O bar ficou a cargo do André Eira, que feliz igual pinto no lixo, depois de recuperar o investimento, começou a distribuir as cervejas gratuitamente. E o pior, depois do evento detonamos toda a grana. Mas fez parte da festa!!!
Disponibilizamos um celular para que fossem pedidas as pizzas. Esquecemos completamente deste quesito, comida. E com o povo feliz e deslumbrado e com muito muito muito frio, começamos os shows:
Marcelo Peregrino e Heraldo HB tocaram composições de ambos, num show conciso porém eficiente, onde Peregrino me confessou mais tarde: “Nunca fiquei tão nervoso como fiquei naquele show”.
O Projeto Poema de Mesa era o seguinte, no palco uma mesa e quatro poetas (Marlos Degani, Jorge Cardozo, Moduan Matus e Luiz Cantalice) conversando sobre vários assuntos e assim, iam lembrando-se de poemas e os declamando, enquanto sorviam tranquilamente suas cervejas.
Logo depois veio o show da singer Haoa Afrânio (a anfitriã) acompanhada do músico Claúdio Camilo iluminando ainda mais aquela noite com seu timbre de voz único, desfilando belas canções de Camilo e de outros compositores.
A peça “A Mais Forte” dirigida por Gil Machado e com Josy Lozada interpretando as duas personagens da história, uma ao vivo, vestida de noiva, com maquiagem gótica (que deu calafrios em alguns) e a outra na tela de uma TV (gravada anteriormente) arrancaram aplausos efusivos.
Fechando a noite o show de Roberto Lara que fora prejudicado pelo intenso frio que fazia naquela noite, obrigando parte do público a ir embora para se refugiar em local mais quente. Foi um showzaço que ficou reservado para os poucos que agüentaram a maratona até o fim.
Uma noite encantada, que jamais se repetirá, foi um adeus merecido aquele espaço tão querido do Colégio Afrânio Peixoto!
2 comentários:
Caraca!!
Já havia ouvido todas essas histórias contadas por pessoas diferentes, pessoas que chegavam e falavam“ Ei Cézar lembra aquela vez que tu fez uma festa e ...”Só não tinha me ligado que tudo aconteceu No mesmo evento.
Realmente deve ter sido muito bom, pois sou a prova que muita gente lembra até hoje!
Pois é Denise, este evento entrou para a história!
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