quinta-feira, 7 de abril de 2011

Daniel's Bar - O Lugar

Minha história com o Daniel’s Bar (que certa vez, no Desmaio Públiko, chamamos de “Bar da Matilha Antenada”) é longa. Lembro do André Eira que na época namorava minha irmã Angela, falar muito bem de lá, mas eu não fui seduzido por seus argumentos. Naquele tempo eu estava mais voltado ao rock’n’roll e não me interessei por um “barzinho” que tocava basicamente MPB. Assim eu achava em minha vã imaginação.

Após andar com pessoas que não me levavam a lugar algum, senti falta de ser quem eu sou hoje. Um ávido amante da arte e da cultura. Da poesia e da música. E acima de tudo – coisas que meus amigos na ocasião não pareciam interessados – das mulheres.

Meu brother e cartunista Miro (Belmiro de Paula, Nego Miro ou como ele queira ser chamado) incomodado com meu desconforto resolveu me tirar daquele mundo destrutivo. Convidou-me numa sexta-feira para ir a um bar chamado Espaço Alternativo. Fracasso. O lugar estava mais vazio que banco de sangue. Fiquei decepcionado. Sorte foi aparecer um camaradinha chamado Luis Barraca que convidou a gente para ir ao Daniel’s Bar.

Nunca vou me esquecer do impacto que aquela casa me causou. Lotado de pessoas bacanas. Diferentes dos playboys com quem eu andava. Ali existia vida inteligente. Ali havia música de verdade. Ali havia a poesia, que eu já quase não mais acreditava. Daniel Guerra no violão e Luisão no saxofone. Uma menina linda, a cara da Marisa Monte, com sua saia cigana, cabelos negros cacheados e sorrisos grátis (coisa que não via nos bares que freqüentava). Me fizeram ficar apaixonado!

Ali aprendi o que é ter amigos (a maioria são meus amigos até hoje, 20 anos depois). Aprendi o que é gozar uma noite inteira sem falsidades e sem poses. Esqueci o que eram relações interesseiras, o que era burrice, o que eram noites vazias e me encontrei. E Nunca mais fui o mesmo.

Meu pai havia tido um derrame um ano antes e estava com problemas de memória. Mas ali eu lembrava de tudo que ele havia me ensinado. Amizade, companheirismo, cultura, possibilidades e acima de tudo, felicidade.

O Daniels Bar foi minha primeira lição de adulto e ao mesmo tempo minha passagem de volta a adolescência. Ali namorei, festejei, tramei, bebi(e olha que era kaiser e quente), conheci todos que hoje são meus cúmplices e de que vale a pena sentir saudades.

Ali, eu e Eud Pestana lançamos o Desmaio Públiko em 1991. Foi naquela botique que conheci Moduan Matus, Prego, Dudu Carwal, Haoa, Laranja, Marcos Serra, André Gonçalves, Gisela, Aline Corssais, Aline Tinôco, Áurea, Cizinho, Negretti, Luciana, Kátia Vidal, Lu, Ronaldo e tantos amigos que se for desfilá-los ficaria horas escrevendo e ainda assim esquecer-me-ia de alguém.

O Daniel’s Bar não foi só para mim, o boteco da minha vida, ele foi para toda uma geração, um divisor de águas. E até hoje penso o que seria de mim sem o Daniels Bar. Obrigado!!

10 comentários:

Vanessa Rodrigues disse...

"O lugar estava mais vazio que banco de sangue." Me arrancou boas risadas..

Esse foi simplesmente o post mais emocionante que já li aqui no Zarayland..

Xero de fã!

Zaray disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
BLOGG DO SYLVIO NETO disse...

Rapá...Sofri pra puder carregar o blogg e ainda pra chegar até aqui...A conexão está péssima, cai e cai...Mas ao fim da investida pesnso ter sahído em lucro, teu blog como eu jah havia comentado anteriormente é um luxo, sem luxúria...

Nada além ou aquém poderiamos esperar vindo desta cabeçona da porra que é composta mais de imaginação e eletricidade que de partes comuns ao seres normais e mortais...O que é bom saber de você é mesmo a capacidade de ir e ir...semeando terrenos todos e quaisquer...

Sem demagogia soul teu fã...

Grande abraço
sn

Arte e Cultura Popular disse...

A transformação que esse espaço sujo, esquisito cerveja Kaiser quente,banheiro que o fedor se espalhava ao passar das horas isso era nada, minha vida ganhou outros sabores, minha vida ganhou poesia, minha vida musicou-se minha vida transformou-se de metalurgico em animador cultural, me tornei um cara de muitos pseudônimos, prego pregolino
pregonauta, pregonight, fora os nome artistico naldo calazans e as comparações carinhosas com Bôsco, Gonzaguinha, Belchior foi uma loucura mais o que de mais relevante este espaço me trouxe foi os amigos que ali fiz e mantenho até hoje...Que saudade!!!

Arte e Cultura Popular disse...

Fecho minha participação com os olhos cheios d'água e muito satisfeito de fazer esse passeio histórico pelos pontos de cultura de minha cidade onde várias vezes fui protagonista não só olhei, tive o prazer de conhecer, conviver e me tornar amigo de fé até padrinho de casamento eu sou, nossa que dias fantasticos vivi...Sou um privilegiado,Obrigado Deus por ter colocado essa galera maravilhosa na minha vida, a todos os poetas, atores, músicos enfim artistas manbembes de minha cidade querida sempre nova Iguaçú.

Ronaldo Paz disse...

Emocionante, digo que é emocionante porque me emocionei mesmo... Muito! Bjs com carinho!!!!
Ronaldo Paz

Roberta.rj disse...

pearCaramba, vc conseguiu traduzir exatamente o que todos que frequentavam o bar gostariam.Poxa,o Daniels bar tb foi meu começo na noite,e indiscutivelmente o melhor bar que eu ja frequentei.Mas, já tem 20 anos? rs Tenho um recorte de jornal e ainda devo ter umexemplar do desmaio publico comigo, aki a 3000km de distancia.Nossa que viagem eu fiz.Agradeço muito, foi realmente emocionante. Abçs

Mary Island disse...

" As lembranças ... Realmente essa boutique cheia de variedades, enriqueceu todos que frenquentaram, se falava, bebia, comia e exercitava CULTURA. Lembro de Cristiane e eu dançando algumas musicas de Daniel coreografadas pelo Auzen, casa cheia de amigos, onde se conversava sobre tudo. Tempo Bom... Otimas recordações...
Parabéns pela rica lembrança.

André Luz disse...

"Tomara que todo ser tenha a oportunidade de frequentar um Daniels Bar na vida"

Unknown disse...

O melhor lugar do mundo é aqui e agora, O melhor lugar do mundo foi lá ... pra quem soube viver o seu Tempo.

Feliz e emocionado. Caramba já fazem 20 anos.

obrigado Cezar Ray

Daniel Guerra