domingo, 24 de abril de 2011

MANHÃS DE OUTONO

Quando Moduan Matus e Sil assumiram o Raízes, quadros, esculturas e objetos decorativos criados por seus freqüentadores pintaram por lá. Fiquei surpreso em saber que alguns daqueles camaradas - com quem bebia - também eram afeitos as artes-plásticas. Desde criança desenho e pinto (amadoristicamente, como quase tudo que faço) e muitos daqueles amigos também exerciam tais hobbys com discrição ou ainda em segredo.

Então me lembrei de uma história que Lafayette Suzano me contou anos antes. Disse-me que há tempos atrás, ele, sua esposa Luciana, Henrique Souza, Luisa Sant’Anna, Mauro Almeida (J.Marujo) contrataram o artista plástico Orlando Rafael para ministrar um curso de pintura que realizavam todos os sábados em seu apartamento. E que depois dos quadros pintados, deitavam-se no chão da sala e ficavam olhando para a parede repleta com as criações daquela aula. Avaliavam então a obra de cada um. Uma por vez.

Fiquei com aquilo na cabeça por anos, até que numa noite bebendo com Lafa e Domi Júnior sugeri a recriação deste evento para os artistas anônimos do bar. Começou ali o que veio a ser um dos grandes momentos da minha existência.
O outono sempre foi minha estação preferida do ano, pois não é quente como é o verão e nem frio como é o inverno. E as cores ficam muito, mas muito mais vivas nesta época do ano (pelo menos em Nova Iguaçu). Depois de alguma objeção quanto ao nome MANHÃS DE OUTONO realizamos a primeira edição na praça em frente ao Raízes.

O vereador Carlos Ferreira (Ferreirinha) patrocinou as 20 primeiras telas e as tintas para o evento. Moduan entrou com a feijoada e nós com a vontade de pintar. Teve outra proposta ainda, que pintássemos sempre ao som de música clássica. Lembro-me do momento em que começou a tocar “Primavera de As Quatro Estações” de Vivaldi e todos voltarem a pintar com tamanha paixão que fiquei emocionado.

Foram lindas manhãs (muitas delas, tarde ou até mesmo noite) onde a música clássica, as pinceladas, a temperatura, os amigos, a cerveja gelada (sempre ao lado de nossos cavaletes) se misturavam num amálgama etéreo.

Os transeuntes sempre paravam para uma espiada, puxar uma conversa, opinar, elogiar ou nos olhar com aquela típica expressão: “Esses caras são muito loucos!”

Depois de pintados tínhamos uma espécie de vernissage instantânea, pois pendurávamos imediatamente todos os quadros nas paredes do Raízes e ficávamos ali olhando a produção, discutindo cada obra com sorrisos largos, olhares marejados e a sensação de dever cumprido.

O Manhãs de Outono aconteceu em bares (Raízes, Sucata’s, LeMustache,etc) em praças (de Tinguá, de Cabuçu, etc), casa de amigos (Carlinha, Mauro Coutinho, Eira, Henrique Souza, etc), escolas, centros culturais. Algumas edições foram inesquecíveis como quando pintamos na Reserva da Gleba Modesto Leal em Nova Iguaçu onde tinha artistas plásticos até nas pedras da cachoeira.

Terminávamos sempre fazendo uma grande roda onde dançávamos a “música do índio” uma canção tribal que virou nossa marca para o encerramento numa espécie de catarse coletiva.

O “Manhãs de Outono” não foi, ainda é (pois ainda está vivo) um evento de artes-plásticas. É muito mais que isso. É a comunhão descompromissada entre amigos se comunicando através da arte e do amor. E tenho dito!

16 comentários:

Vanessa Rodrigues disse...

Muito lindo. Dá para sentir o gostinho da saudade nas suas palavras e imaginar o quão era bom, Sebastião.

É de deixar qualquer um marejado.
Xero!

silvana disse...

Caramba, Cézar! Você conseguiu mesmo passar a sua emoção! Também marejei! (como comentou a Vanessa).Bjs

Hugo Mendes Guimarães disse...

Isso é LINDO.
=)
Voce consegue passar mesmo a energia daquelas manhãs nas palavras saudosas.
Maravilhosooooo

Vanessa Rodrigues disse...

Seria um sentimento indescritível ter um desses na parede da minha sala (indireta).

Meu aniversário está chegando. Pode deixar que faço cara de surpresa.

Bjos!

paola disse...

Nossaaa!!! É muito bom esse evento!!!
Quero mais!!!

Paola.

Liliane Amorim disse...

Amei conhecer a verdadeira história da origem do Manhãs de Outono... Participei de alguns, maravilhosos. Pódexá que vou passar pro Ferreira, ele vai adorar. Saudades estupidas de você. Grande beijo e da próxima vez que resolver aparecer, avisa... a gente só fica sabendo qd vc já voltou pra terrinha... sdd

Jimy Lage disse...

Ainda rola aonde?

Jimy Lage disse...

Ainda rola?
ONDE?

Jimy Lage disse...

AINDA ROLA?
ONDE?

Jimy Lage disse...

AINDA ROLA?
ONDE?

Jimy Lage disse...

AINDA ROLA?
ONDE?

Liliane Amorim disse...

Amei conhecer a verdadeira história da origem do Manhãs de Outono... Participei de alguns, maravilhosos. Pódexá que vou passar pro Ferreira, ele vai adorar. Saudades estupidas de você. Grande beijo e da próxima vez que resolver aparecer, avisa... a gente só fica sabendo qd vc já voltou pra terrinha... sdd

Eliane Gonçalves disse...

Que delícia !!! Não sou artista plástica, mas amo as Artes em geral e as diversas formas de expressão. Quando acontecer outro encontro vou arriscar pintar alguma "coisa". Vocês fazem parte da História da Cultura de Nova Iguaçu. Parabéns !!!

Hércules Dias disse...

— Digamos que transito por várias expressões artísticas, mas a proposta do "Manhãs de Outono" (Sem e com "confinamento), me faz cada vez mais acreditar na capacidade humana de transcender — sempre! — de forma constante, assertiva, proativa e Humanamente evolutiva pelas vias do afeto!!

#Muito_MASSA, visse!?...

Unknown disse...

Saudades! Muita saudade, pintei minhas figuras, paisagem, abstrato como era bom ,sem esquecer da troca de pintura que hoje abrilhantando vem minha casa.

Hércules Dias disse...

— Valeu Zaray pela explicação, show ter sido regada por Vivaldi, parte dessa catarse coletiva!!...