Tenho vários motivos para odiar Domingus Sabath Júnior. Mas não lhe mataria por qualquer uma dessas razões. Por tanto, não creio que seja necessária a minha presença em tal interrogatório. Tudo bem, eu estava lá na Gleba Modesto Leal, na reunião anual dos “Formandos de 1989”. Tudo bem, eu não tenho um álibi para testemunhar que na hora do ocorrido eu estava longe. Procurando um lugar que vendesse cerveja. Mas cá entre nós todos ali tinham maiores e melhores motivações para riscar do mapa o Domi Junior. E eu para falar a verdade, até amava o cara.
Claro fiquei indignado com ele um monte de vezes. Não sei se vocês sabem, mas sou um designer com um nome no mercado. Mas comecei copiando desenhos do argentino Boris Valejo no curso Oberg. Quando vi os rabiscos do Domingus no caderno do colégio, sem técnica alguma, usando esferográfica, lhe recomendei o curso. E quem diria, com uma semana ele já era o queridinho do professor que ainda teve a cara de pau de falar para toda turma, que se alguém dali ia ter futuro nas artes plásticas, este seria Domingus Sabath.
Certa ocasião, estávamos todos bebendo no Bar Brasil, era dezembro, antes da primeira individual do Domi e ele estava a zero de idéias. Deprimido, reclamando que estava na entressafra, sofrendo “um branco criativo”. Comecei a rabiscar formas nos guardanapos e a sugerir estudos de cores e tal. Já estávamos bastante chapados, mas lembro-me perfeitamente bem de minhas sugestões. Qual não foi minha surpresa, na vernissage, ao me deparar com todos meus croquis transportados para telas imensas e nenhum crédito ou agradecimento para mim. E a infâmia em dizer, no catálogo, que havia sonhado com aquelas formas e cores. Muita cara de pau!
Nosso grupo já foi maior. Quando nos formamos no 2º grau em 1989 tendo o Professor Ruy Afrânio Peixoto como nosso Paraninfo, juramos que todo ano nos encontraríamos em algum lugar (sempre diferente) para saber como andava a vida, trocar experiências e quem sabe ajudar quem tivesse se dado pior em sua investida. Éramos 30 jovens cheios de vontades e futuros promissores pela frente. O frescor da vida tinha hálito de menta e nossa amizade parecia, então, indestrutível. Mas o tempo foi passando e, pelo menos, desde 1999 mantemos nossas reuniões anuais com os mesmos mirrados oito integrantes.
Mauro Popeye se formou em direito e agora é o Doutor Mauro de Araújo e Araújo, Presidente dos escritórios A&A Advogados Associados com clientes que vão da Marinha do Brasil ao mega traficante Jorginho do Imbariê.
O famoso cirurgião Dr. Percival. No colégio um garoto tímido que gostava muito de queimar uma erva e ler sobre filosofia. Sempre foi um leitor compulsivo. Depois, ao acabar o segundo grau, foi direto para a faculdade de medicina passando em primeiro lugar nas duas maiores universidades federias do país.
Henrique Dubtchenko (Riquinho para os íntimos) entrou para o movimento estudantil numa época em que o movimento já não representava nada. Mas suas camisas surradas do Che Guevara, sua boina, seus charutos e seus discursos inflamados permanecem até hoje em suas aulas de sociologia onde é uma espécie de líder aclamado, deixando seus alunos um pouco mais doidos do que já são.
Marcel Perrier, nosso músico francês. Na verdade ele não nascera na França. Mas filho de uma francesa com um sergipano, tinha dupla cidadania e foi estudar música em Paris, voltando três anos depois de gastar todas as economias de seus pais com vinhos e cortesãs e sem aprender muito mais, sobre música, do que já sabia quando saiu daqui.
O Bid foi o que menos mudou de todos nós. Continua um grande farrista, amante da noite e do álcool, assumiu seu lado poeta, assinando suas odes a musas platônicas e noites enluaradas com o pomposo nome de Alcebíades Rubron. Vive por aí, cortejando as estrelas e gastando a polpuda herança deixada por seu pai.
Loui Koifeer. Vive recluso numa mansão imensa. Afastado de todos, se dá ao luxo de aparecer nesses nossos encontros anuais distribuindo presentes para todos, mas reservando-se ao máximo, deixando escapar pouquíssimo sobre sua vida particular. O que sabemos é que enriqueceu no ramo de rações e produtos específicos para animais.
Motivos todos eles tinham para dar uma paulada na cabeça do pobre Domi, fazendo-o despencar desta ribanceira - se é que foi isso mesmo que aconteceu - se estatelando feito um manequim de louça, tingindo a pedra com seu sangue como sua última obra. A derradeira vermelha pincelada.
Mas quem sou eu para especular sobre os motivos de meus amigos. Sei que não fui eu! E que admirava demais seus trabalhos. Na verdade sou um designer porque não vi futuro nas artes-plásticas. Sabia que como um profissional, teria que suportar pressões de mercado, cumprir datas e horários, conviver com pessoas completamente diferentes que eu, lidar com negócios. Mas ganharia mais. Teria mais dinheiro do que sendo “artista”. E claro que fiquei orgulhoso de ver meu amigo Domingus, um cara que não tinha nada, da noite para o dia ter suas obras vendidas a peso de ouro, disputado por estrelas do mundo pop, expondo nas melhores galerias do mundo e ganhando capas de revistas especializadas e de fofocas. Quem iria imaginar que tanto glamour iria se acabar assim, numa floresta na Baixada Fluminense. Ali, onde nascemos, brincamos e estudamos... em Nova Iguaçu.
Agora olhando o sangue diluindo-se como a óleo n’água raz, invadindo o verde da floresta com um contraste fascinante, cores e movimentos rápidos, intensidade e suavidade, percebo que talvez ele tenha morrido feliz, pois acabara de participar de seu mais belo quadro. Mórbido. Mas um belíssimo quadro...
Claro fiquei indignado com ele um monte de vezes. Não sei se vocês sabem, mas sou um designer com um nome no mercado. Mas comecei copiando desenhos do argentino Boris Valejo no curso Oberg. Quando vi os rabiscos do Domingus no caderno do colégio, sem técnica alguma, usando esferográfica, lhe recomendei o curso. E quem diria, com uma semana ele já era o queridinho do professor que ainda teve a cara de pau de falar para toda turma, que se alguém dali ia ter futuro nas artes plásticas, este seria Domingus Sabath.
Certa ocasião, estávamos todos bebendo no Bar Brasil, era dezembro, antes da primeira individual do Domi e ele estava a zero de idéias. Deprimido, reclamando que estava na entressafra, sofrendo “um branco criativo”. Comecei a rabiscar formas nos guardanapos e a sugerir estudos de cores e tal. Já estávamos bastante chapados, mas lembro-me perfeitamente bem de minhas sugestões. Qual não foi minha surpresa, na vernissage, ao me deparar com todos meus croquis transportados para telas imensas e nenhum crédito ou agradecimento para mim. E a infâmia em dizer, no catálogo, que havia sonhado com aquelas formas e cores. Muita cara de pau!
Nosso grupo já foi maior. Quando nos formamos no 2º grau em 1989 tendo o Professor Ruy Afrânio Peixoto como nosso Paraninfo, juramos que todo ano nos encontraríamos em algum lugar (sempre diferente) para saber como andava a vida, trocar experiências e quem sabe ajudar quem tivesse se dado pior em sua investida. Éramos 30 jovens cheios de vontades e futuros promissores pela frente. O frescor da vida tinha hálito de menta e nossa amizade parecia, então, indestrutível. Mas o tempo foi passando e, pelo menos, desde 1999 mantemos nossas reuniões anuais com os mesmos mirrados oito integrantes.
Mauro Popeye se formou em direito e agora é o Doutor Mauro de Araújo e Araújo, Presidente dos escritórios A&A Advogados Associados com clientes que vão da Marinha do Brasil ao mega traficante Jorginho do Imbariê.
O famoso cirurgião Dr. Percival. No colégio um garoto tímido que gostava muito de queimar uma erva e ler sobre filosofia. Sempre foi um leitor compulsivo. Depois, ao acabar o segundo grau, foi direto para a faculdade de medicina passando em primeiro lugar nas duas maiores universidades federias do país.
Henrique Dubtchenko (Riquinho para os íntimos) entrou para o movimento estudantil numa época em que o movimento já não representava nada. Mas suas camisas surradas do Che Guevara, sua boina, seus charutos e seus discursos inflamados permanecem até hoje em suas aulas de sociologia onde é uma espécie de líder aclamado, deixando seus alunos um pouco mais doidos do que já são.
Marcel Perrier, nosso músico francês. Na verdade ele não nascera na França. Mas filho de uma francesa com um sergipano, tinha dupla cidadania e foi estudar música em Paris, voltando três anos depois de gastar todas as economias de seus pais com vinhos e cortesãs e sem aprender muito mais, sobre música, do que já sabia quando saiu daqui.
O Bid foi o que menos mudou de todos nós. Continua um grande farrista, amante da noite e do álcool, assumiu seu lado poeta, assinando suas odes a musas platônicas e noites enluaradas com o pomposo nome de Alcebíades Rubron. Vive por aí, cortejando as estrelas e gastando a polpuda herança deixada por seu pai.
Loui Koifeer. Vive recluso numa mansão imensa. Afastado de todos, se dá ao luxo de aparecer nesses nossos encontros anuais distribuindo presentes para todos, mas reservando-se ao máximo, deixando escapar pouquíssimo sobre sua vida particular. O que sabemos é que enriqueceu no ramo de rações e produtos específicos para animais.
Motivos todos eles tinham para dar uma paulada na cabeça do pobre Domi, fazendo-o despencar desta ribanceira - se é que foi isso mesmo que aconteceu - se estatelando feito um manequim de louça, tingindo a pedra com seu sangue como sua última obra. A derradeira vermelha pincelada.
Mas quem sou eu para especular sobre os motivos de meus amigos. Sei que não fui eu! E que admirava demais seus trabalhos. Na verdade sou um designer porque não vi futuro nas artes-plásticas. Sabia que como um profissional, teria que suportar pressões de mercado, cumprir datas e horários, conviver com pessoas completamente diferentes que eu, lidar com negócios. Mas ganharia mais. Teria mais dinheiro do que sendo “artista”. E claro que fiquei orgulhoso de ver meu amigo Domingus, um cara que não tinha nada, da noite para o dia ter suas obras vendidas a peso de ouro, disputado por estrelas do mundo pop, expondo nas melhores galerias do mundo e ganhando capas de revistas especializadas e de fofocas. Quem iria imaginar que tanto glamour iria se acabar assim, numa floresta na Baixada Fluminense. Ali, onde nascemos, brincamos e estudamos... em Nova Iguaçu.
Agora olhando o sangue diluindo-se como a óleo n’água raz, invadindo o verde da floresta com um contraste fascinante, cores e movimentos rápidos, intensidade e suavidade, percebo que talvez ele tenha morrido feliz, pois acabara de participar de seu mais belo quadro. Mórbido. Mas um belíssimo quadro...
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