Certa feita eu disse ao poeta e amigo Luis Cantalice (com um livro na maternidade) que ele é um poeta do caralho! Mas, mais que isso, que ele me inspirava a escrever. Talvez com uma típica arrogância minha: “Você escreve bem, mas falta alguma coisa em seus textos que eu quero resolver.” Ou escrever melhor. Talvez hoje não ache mais isso. Aprendi com o tempo e a estrada que resolvi seguir, a humildade. Demorou e nem sei se posso expiar minha culpa quanto a este pecado capital (arrogância é um deles?)
Mas sei de um que sempre me ajudou. A Inveja. Não aquela inveja cheia de rancor que as pessoas que nunca fazem nada, sentem. Porque não querem, não tentam (preferem o conforto e a segurança de suas vidas como estão) seguem denegrindo quem realiza ou tenta, o que elas gostariam ou desejariam fazer, mas não fazem. Minha inveja sempre me guiou de forma positiva. Como inspiração. “Porra, fulano está fazendo isso e é muito bom, vou fazer também”. Foi assim seguindo pessoas que invejava (ou admirando, sendo hipócrita ou usando de eufemismo) que sou quem sou.
Sem vergonha em admitir isso.
Roberto Lara na orelha do livro “Sangue da Palavra” de Marlos Degani admite esta inveja com sua elegância e é genial. Pois bem, eu invejo Marlos Degani. Não só pelo seu talento adquirido em labutas severas atrás do poema, mas pela sua inteligência, sagacidade, humor, beleza e também pelas suas ranzizices e erros.
O Zarayland surge meio que como uma inveja de seu Blog (Sangue da Palavra) e de Hugudão (Tirando da Gaveta - Muita Manobra). Surge daquele raciocínio: “É do carai, e quero ter também! “ Surge tão descarado que até a foto rindo em alto astral - roubei do Blog dele - onde aparece Momo sorrindo com um exemplar do Desmaio Públiko nas mãos, imitei em minha imagem gargalhando em clique de Marcos Serra quando esteve aqui em Recife.
Marlos é o tipo de artista que dá gosto invejar. Começou lá atrás, comigo, no Desmaio e foi crescendo, aprendendo, reciclando, até chegar ao que é hoje (que ainda não é seu ponto ideal) um dos maiores poetas da história de Nova Iguaçu. Com imagens espertas, rimas bem construídas (nada óbvias), com poemas que estão sempre entre o ser poema e o nada. Com crônicas poéticas, ou cheias de raiva e escrotidão, texto ágil e tantas vezes embaçados por uma lente que quer dizer muito, mas que pondera por ter dúvidas (ser humano). Outras é faca na goela.
Seu Blog merece ser visitado para desvendar não o artista. Mas sua busca pela “quem sabe arte!”. Caminho que tantos grandes antes já percorreram tentando encontrar sua voz exata. Acompanhe a trajetória inquieta, de uma pessoa em plena ebulição criativa, e verá que vale a caminhada. Sigam o poeta!
De brinde um poema que fizemos juntos numa manhã, viradaços!
Ábaco
Todo dia sempre
Desisto de alguma coisa:
Foice, lâmina, excremento.
Todo dia sempre
Nunca termino a dia sem
O grito de um arrependimento.
Todo dia sempre
Meço a distância amargurada
Entre o que pode ser e o nada.
Todo dia sempre
Não sei bem se estou
Numa curva ou numa reta:
Não sei bem se é o fim
Ou se é um poema que começa.
Marlos Degani é poeta formado na generosa vertente do movimento Desmaio Públiko em Nova Iguaçu no início dos anos 90 do século passado. Tem 42 anos, um livro publicado – Sangue da Palavra em 2007 (que concorreu ao Jabuti em 2008) e um audiobook (Marlos Degani – Até Agora 1992/2008) com a sua poesia completa até 2008. É jornalista-colaborador e integra a equipe de colunistas do sítio do Baixada Fácil (http://www.baixadafacil.com.br/).
http://www.sanguedapalavra.blogspot.com/
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