Hoje quando olho para a imensidão profunda do céu só consigo lembrar do meu pai. Nunca conheci papai de verdade. Diz minha avó, que só fui sabê-la agora - trinta anos depois - que meu pai não fazia outra coisa se não passar horas e horas fitando o céu em busca de cometas, estrelas cadentes, constelações e - talvez só procurasse isso - disco voador.
Toda vez que ela o chamava: “Henrique! Cadê você???” Lá estava ele, na laje da velha casa em Vila Velha, no bairro de Paul a contemplar o cosmos. O céu era seu lar e sua meta. Acreditava que um dia iriam aparecer marcianos e levá-lo para conhecer as estrelas de perto. Seus gibis prediletos eram os de Buke Rogers e Flash Gordom e ali depositava todos os seus sonhos e imaginação.
Mas, só fui saber deste lado mais romântico da vida de meu pai agora que estou formada e com a vida estável. Antes, toda a informação palpável que tinha, era que havia abandonado minha mãe comigo no ventre. Então cresci ouvindo, dela, os piores adjetivos sobre o homem que a abandonou. Cachorro, vagabundo, mentiroso, covarde e outros que prefiro não recordar, eram comuns ao mencioná-lo. Mas sempre procurei uma resposta para entender por quê papai havia abandonado a gente assim. Minha mãe dizia que até o seu sumiço (um dia depois dela comunicar-lhe seu estado interessante) tudo corria as mil maravilhas. Ele era romântico e cheio de planos. Um verdadeiro poeta sonhador!
Assim que me tornei adulta, iniciei minha saga investigativa. Comecei a juntar todas as peças do quebra-cabeça e a montá-lo vagarosamente. Consumira-me dez anos. Desde os registros policiais de seu desaparecimento até causos de antigos moradores que juram ter visto objetos não identificados em vários pontos de Paul no dia em que meu pai sumiu. Nada me escapava. Meu último grande achado foi encontrar minha avó. Viva e lúcida, morando em Nova Iguaçu - RJ. Ela me ajudou em muito a entender como funcionava a cabeça de seu filho. Sua fixação por seres intergalácticos. Seus livros e estudos sobre ufologia e cadernos e mais cadernos com anotações pessoais sobre o assunto.
De posse disso, voltei a Vila Velha para procurar em antigos jornais da época, o fenômeno dos objetos que iluminaram Paul naquela distante noite de 19 de abril. Gostaria de ter conversado mais sobre meu pai, com minha mãe antes dela falecer. Eu evitava o assunto, pois seu rancor cegava-a e não gostava de vê-la sofrer mais do que já havia sofrido na época. Eu entendo mamãe e gostaria de entender meu pai.
Imaginem aquela moça do interior, sem estudos, sem posses, perdidamente apaixonada pelo bem apessoado e bom partido: Mario Henrique Dantas Cavalcante, ser abandonada um dia depois de informá-lo, amedrontada e insegura, sobre sua gestação indesejada. Desde que foi convencida a ceder seu sonho de casar-se vigem, pela efêmera fome atiçada pela enorme lua que encobria seus corpos na deserta Praia do Pontal, só sentia culpa. Culpa que levou para casa naquele dia e que só foi menor que a descoberta da gravidez. Que só perdeu para o abandono de Henrique alguns dias depois. Primeiro a culpa depois o questionamento. Não podia acreditar naquilo, o homem que amava mais que qualquer coisa, não podia ter feito aquilo. Fugir justamente quando mais precisava de sua presença? Ali a culpa morreu e nasceu o ódio. Eu nasci nove meses depois.
“OVINIS em VILA VELHA - Mais de três dezenas de residentes naquela freguesia, nos arredores da cidade de Vitória, observaram, a partir das 8:30 da noite, e ao longo de mais de meia-hora, objetos metálicos, de forma ligeiramente esférica, achatada no topo e providos de cinco apêndices na vertical. Os objetos moviam-se ora lentamente ora com acelerações, chegando a descer à altura de um sobrado e acabando por subir e desaparecer entre as nuvens, não sem que antes o sr. Manoel Gomes tivesse feito quatro fotografias do artefato voador. Análises feitas nos Estados Unidos, por Richard F. Haines, consultor da NASA, por Jean Jacques Velasco no Centro Espacial de Toulouse e pelo astrofísico francês Pierre Guérin não permitiram, até hoje, identificar positivamente o referido objeto”.
Esta era apenas uma das dezenas de matérias que encontrei sobre o ocorrido naquele 19 de abril de 1975. Houve relatos de testemunhas afirmando que além dos objetos que riscaram o céu de Vila Velha, alguns seres estranhos foram vistos em vários bairros da cidade. E o mais impressionante: além de meu pai, pelo menos mais sete pessoas desapareceram nas redondezas naquela mesma noite. Mas para a polícia, cada um dos desaparecidos tinha suas próprias razões para fugir. Inclusive meu Pai. “Minha filha, assumir a responsabilidade de uma criança, não é para qualquer um, não.” Disse sarcasticamente uma ratazana na delegacia...
A pior coisa que pode existir para uma mulher é o abandono. Ainda mais quando nos sentimos frágeis e indefesas. E por mais que tenhamos conquistado espaços, tornando-nos independentes e donas de nós mesmas, queremos sempre ser amadas. Seja por nossos amados, sejam por nossos filhos, sejam por nossa família. A mulher sempre teve o espírito agregador. Sei como minha mãe sofreu com o abandono de meu pai. De certo modo, mesmo sem conhecê-lo, antes eu me sentia rejeitada e culpada também.
Mas agora eu estava convencida que meu Pai havia sido abduzido e que nos deixara contra sua vontade. E que estava vivendo em alguma distante galáxia experimentando a vida longe da Terra, triste por viver afastado de nós, mas com seu sonho de criança realizado. E que minha mãe também não tinha culpa por injustiçá-lo. Ficou parecendo que ele havia fugido. Todas as evidências levavam a isso. Mas agora está cristalino como água. Meu pai nunca nos abandonou. E eu sei, um dia ele vai voltar e me levar para junto dele. É só esperar, olhando as estrelas, como neste momento, aqui em cima desta velha laje em Vila Velha.
Toda vez que ela o chamava: “Henrique! Cadê você???” Lá estava ele, na laje da velha casa em Vila Velha, no bairro de Paul a contemplar o cosmos. O céu era seu lar e sua meta. Acreditava que um dia iriam aparecer marcianos e levá-lo para conhecer as estrelas de perto. Seus gibis prediletos eram os de Buke Rogers e Flash Gordom e ali depositava todos os seus sonhos e imaginação.
Mas, só fui saber deste lado mais romântico da vida de meu pai agora que estou formada e com a vida estável. Antes, toda a informação palpável que tinha, era que havia abandonado minha mãe comigo no ventre. Então cresci ouvindo, dela, os piores adjetivos sobre o homem que a abandonou. Cachorro, vagabundo, mentiroso, covarde e outros que prefiro não recordar, eram comuns ao mencioná-lo. Mas sempre procurei uma resposta para entender por quê papai havia abandonado a gente assim. Minha mãe dizia que até o seu sumiço (um dia depois dela comunicar-lhe seu estado interessante) tudo corria as mil maravilhas. Ele era romântico e cheio de planos. Um verdadeiro poeta sonhador!
Assim que me tornei adulta, iniciei minha saga investigativa. Comecei a juntar todas as peças do quebra-cabeça e a montá-lo vagarosamente. Consumira-me dez anos. Desde os registros policiais de seu desaparecimento até causos de antigos moradores que juram ter visto objetos não identificados em vários pontos de Paul no dia em que meu pai sumiu. Nada me escapava. Meu último grande achado foi encontrar minha avó. Viva e lúcida, morando em Nova Iguaçu - RJ. Ela me ajudou em muito a entender como funcionava a cabeça de seu filho. Sua fixação por seres intergalácticos. Seus livros e estudos sobre ufologia e cadernos e mais cadernos com anotações pessoais sobre o assunto.
De posse disso, voltei a Vila Velha para procurar em antigos jornais da época, o fenômeno dos objetos que iluminaram Paul naquela distante noite de 19 de abril. Gostaria de ter conversado mais sobre meu pai, com minha mãe antes dela falecer. Eu evitava o assunto, pois seu rancor cegava-a e não gostava de vê-la sofrer mais do que já havia sofrido na época. Eu entendo mamãe e gostaria de entender meu pai.
Imaginem aquela moça do interior, sem estudos, sem posses, perdidamente apaixonada pelo bem apessoado e bom partido: Mario Henrique Dantas Cavalcante, ser abandonada um dia depois de informá-lo, amedrontada e insegura, sobre sua gestação indesejada. Desde que foi convencida a ceder seu sonho de casar-se vigem, pela efêmera fome atiçada pela enorme lua que encobria seus corpos na deserta Praia do Pontal, só sentia culpa. Culpa que levou para casa naquele dia e que só foi menor que a descoberta da gravidez. Que só perdeu para o abandono de Henrique alguns dias depois. Primeiro a culpa depois o questionamento. Não podia acreditar naquilo, o homem que amava mais que qualquer coisa, não podia ter feito aquilo. Fugir justamente quando mais precisava de sua presença? Ali a culpa morreu e nasceu o ódio. Eu nasci nove meses depois.
“OVINIS em VILA VELHA - Mais de três dezenas de residentes naquela freguesia, nos arredores da cidade de Vitória, observaram, a partir das 8:30 da noite, e ao longo de mais de meia-hora, objetos metálicos, de forma ligeiramente esférica, achatada no topo e providos de cinco apêndices na vertical. Os objetos moviam-se ora lentamente ora com acelerações, chegando a descer à altura de um sobrado e acabando por subir e desaparecer entre as nuvens, não sem que antes o sr. Manoel Gomes tivesse feito quatro fotografias do artefato voador. Análises feitas nos Estados Unidos, por Richard F. Haines, consultor da NASA, por Jean Jacques Velasco no Centro Espacial de Toulouse e pelo astrofísico francês Pierre Guérin não permitiram, até hoje, identificar positivamente o referido objeto”.
Esta era apenas uma das dezenas de matérias que encontrei sobre o ocorrido naquele 19 de abril de 1975. Houve relatos de testemunhas afirmando que além dos objetos que riscaram o céu de Vila Velha, alguns seres estranhos foram vistos em vários bairros da cidade. E o mais impressionante: além de meu pai, pelo menos mais sete pessoas desapareceram nas redondezas naquela mesma noite. Mas para a polícia, cada um dos desaparecidos tinha suas próprias razões para fugir. Inclusive meu Pai. “Minha filha, assumir a responsabilidade de uma criança, não é para qualquer um, não.” Disse sarcasticamente uma ratazana na delegacia...
A pior coisa que pode existir para uma mulher é o abandono. Ainda mais quando nos sentimos frágeis e indefesas. E por mais que tenhamos conquistado espaços, tornando-nos independentes e donas de nós mesmas, queremos sempre ser amadas. Seja por nossos amados, sejam por nossos filhos, sejam por nossa família. A mulher sempre teve o espírito agregador. Sei como minha mãe sofreu com o abandono de meu pai. De certo modo, mesmo sem conhecê-lo, antes eu me sentia rejeitada e culpada também.
Mas agora eu estava convencida que meu Pai havia sido abduzido e que nos deixara contra sua vontade. E que estava vivendo em alguma distante galáxia experimentando a vida longe da Terra, triste por viver afastado de nós, mas com seu sonho de criança realizado. E que minha mãe também não tinha culpa por injustiçá-lo. Ficou parecendo que ele havia fugido. Todas as evidências levavam a isso. Mas agora está cristalino como água. Meu pai nunca nos abandonou. E eu sei, um dia ele vai voltar e me levar para junto dele. É só esperar, olhando as estrelas, como neste momento, aqui em cima desta velha laje em Vila Velha.
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