terça-feira, 28 de junho de 2011

Engenharia de Aviãozinho – HB

Minha amiga Rogéria Freitas abriu uma livraria super aconchegante ali na Getúlio Vargas em 2000 com seu sócio Rafael Quirino, quase em frente onde hoje em dia é o Espaço Sylvio Monteiro em Nova Iguaçu. Infelizmente meses depois, faliu. Uma pena. Mas enquanto estava aberta, fizemos uns bons barulhos por lá.

Numa ocasião criamos um projetinho pequenininho como era a livraria. Eu iria declamar uns poemas, André Eira montou um trio de violões para cantar músicas de Radiohead, Pixies, Cake com carinha acústica e tal. Todo mundo sentadinho, cervejinha de leve, petisquinhos light.

Quando cheguei no espaço, um cabeludo veio falar comigo. Na verdade veio me perguntar se eu era o Cézar Ray. Apresentou-se: “Sou Heraldo Bezerra”. Ainda não era o HB. Contou-me que era de Caxias e que tinha ido especialmente naquele evento conhecer a galera do Desmaio Públiko, que já conhecia somente pelo fanzine, disseminado gentilmente pelo poeta Euclides Amaral em suas investidas à Duque de Caxias.

Anos se passaram, Heraldo virou HB, um dos fundadores do Cineclube Mate com Angu (referência em cineclube nacional), fundou o portal Baixada On e é um dos maiores agitadores culturais do Rio de Janeiro. Ícone em Caxias e em Nova Iguaçu, lançou seu primeiro livro Engenharia de Aviãzinho no final de 2009. Tive o privilégio de receber o livro em minha casa aqui em Recife via Correios, autografado e com uma dedicatória toda especial para o Desmaio Públiko que me emocionou deveras.

Engenharia de Aviãozinho é uma antologia dos poemas de HB. Tem sabor de coletânea. Em seus poemas se percebe a clara influência que sofreu de poetas da geração maldita e de poetas do subúrbio como Euclides Amaral, Genêsis Jenúncio, Eud Pestana entre tantos. Quem fez HB começar a escrever foi Quintana e dele herdou as imagens doces que freqüentam vários poemas, o outro responsável, Rubem Fonseca deixou seus poemas com cara de cinema. E é isso, um monte de referências jogadas num liquidificador e servido com cachaça.

A preocupação do livro é a Não Preocupação. É poesia. E isto é muito em tempos de poses e falta de honestidade em ser você mesmo. Engenharia de Aviãozinho é Baixada Fluminense, mas poderia ser também Paris, Bruxelas ou Recife. É HB. São poemas de um homem de verdade sem firulas e sem máscaras.

Resumindo, virei fã de um cara que era meu fã. Hoje tenho HB como um espelho das coisas boas que a cultura e arte podem oferecer ao mundo. Fico feliz em apresentar este poeta que representa muito o espírito do Desmaio Públiko. E que foi muito, mas muito além! Salve Poeta!

Aprender o mar é preciso.
No seu mistério sem palavras
No conspirar das suas ondas...
Quiçá mirá-lo até o êxtase
E Depois, embriagado de azul,
Afogar o medo
Em toda sua imensidão.

Heraldo HB

5 comentários:

Denise disse...

Quando a gente acha que você já disse tudo sempre tem mais uma história super maneira para descobrir da sua vida ou das pessoas especiais que te cercam.

Bjs

Vanessa Rodrigues disse...

Bom, posso dizer que li o livro (o exemplar de Cézar inclusive) e recomendo a vera..

É uma poesia sincera, sabida e muito gostosa de ler. É o tipo de livro que gosto, de bolso, com poemas curtos e saborosos. Vale a pena embarcar nesse aviãozinho de papel..

"embaixo do chapéu tinha um homem
e embaixo do homem um sapato
e embaixo do sapato tinha um chão.
embaixo do chão, subsolo
e embaixo desse, ah, é o japão."

Tem um link para quem quiser conhecer mais a obra de HB em pdf.

http://www.relinkare.com.br/engenharia/engenharia_de_aviaozinho_web.pdf

HB tem minha admiração!

Vanessa Rodrigues disse...

Ahh esqueci de mencionar que adorei as ilustrações, expressam muito bem a essência da obra.

Parabéns Thiago Venturotti!

Flor Baez disse...

É Cezar, sua vida é um baú cheio de histórias maravilhosas!

Henrique Silveira disse...

Heraldo HB é um dos meus mestres. Homem simples e complexo. Um filósofo do mundo com a elegância de um boêmio, com calça de linho e chapéu branco.

Figura singular que irradia uma bela luz.
Luz traduzida em belas palavras.
Palavras que alimentam nossa alma.
Alma que expande em contato com a poesia de HB.