quarta-feira, 8 de junho de 2011

CADÊ DENISE?

Eu não tinha muitos amigos, parece que as outras crianças não me enxergavam, era comum levar um esbarrão e ouvir piadinhas quando eu reclamava.
- Você ouviu alguma coisa?
- Não, você tá doida...
Elas fingiam que não me enxergavam!

Até que um dia eu conheci a Denise, minha melhor... Quer dizer, única amiga. Lembro quando a conheci, ela veio, sentou-se ao meu lado balançando as perninhas no ar, sem alcançar o chão ainda e começou a fazer um monte de perguntas. O que eu estava fazendo, por que eu estava sentada ali e por aí foi.

De repente ouvimos um barulho vindo da coordenação, parece que alguém havia desmontado a cadeira da coordenadora que levou um tombo enorme, depois passou bufando a procura do delinqüente. Foi gritando “EU PEGO ESTE DELIQUENTE!” que ela passou por nós. Depois disso eu fui com Denise jogar a chave de fenda fora.

Vivíamos aprontando, éramos as chefas das travessuras, os meninos “mais pestes” sempre faziam o que a gente mandava e na verdade - na maioria das vezes - era o que a Denise mandava, eu era respeitada, talvez por ser a melhor amiga dela.

Certa vez eu caí de bicicleta e tive que engessar a perna, ela não sossegou enquanto não tirou o gesso. Eu dizia que se o médico colocou, tinha um motivo. E ela dizia que o motivo era “parar a gente”.

Sempre cuidávamos uma da outra.
Era sempre ela quem me avisava:
- Entramos na academia.
-Temos uma festa hoje.
E era eu quem a avisava:
- Ficamos de Recuperação.
- Temos prova amanhã, vou preparar a cola.
Ela cuidava da diversão e eu dos assuntos chatos.

Mas o que eram simples brincadeiras foram aumentando cada vez mais, com o passar dos anos, Denise começou a fumar, beber, se meter com uma galera barra pesada. Uma vez entrou pela janela do meu quarto as pressas, pulou na minha cama e quando eu ia dizer alguma coisa ela começou a fazer um monte de perguntas: O que eu tinha feito o dia todo, por que estava dormindo tão cedo e mais um monte de questionamentos.

De repente barulho de sirenes – várias - e depois quando foram diminuindo eu me lembrei do dia que nos conhecemos e comecei a me perguntar onde isso iria parar.

Quando o barulho terminou, começamos a discutir como nunca tínhamos discutido. Dissemos coisas horríveis uma para a outra. Lembro da última coisa que ela me disse antes de sair

-Sem EU, você não existe, VOCÊ NÃO É NINGUÉM!

Ela não apareceu durante uns quatro dias, fiquei preocupada e comecei a procurar. Procurava desesperada por todos os lugares! Até me dar conta de que alguma coisa estava errada. Porque sempre que eu perguntava: “Cadê Denise?” as pessoas faziam caras estranhas, que eu não conseguia decifrar. Como até agora eu não consigo entender porque minha família me mandou falar com você Doutora? Por que me mandaram para uma psiquiatra?

Denise Dantas

Denise Dantas escreveu este segundo texto que é muito interessante. Meio "Clube da Luta" meio "Denise Dantas". Ela nem queria publicar, mas que pecado seria isso...

Um comentário:

silvana disse...

Interessante! E a imagem colocada vai de encontro!