terça-feira, 28 de junho de 2011

Meu Povo: Euclides Amaral

Lembro-me de Eud Pestana fazendo a capa de um livro chamado Cynema Bárbaro, seu autor Euclides Amaral. Perguntei ao Eud quem era ele, e o sacaninha disse “É um padre. Um padre amigo meu”. Acreditei nisso por um bom tempo.

Ouvia sempre Vavá (Eud) conversar com um amigo que ele chamava de Kibe. Mas não sabia que Kibe, era Euclides Amaral e que Euclides Amaral não era um padre, mas um poeta fodaço! Soube disso quando fui apresentado ao livro “Balaio de Serpentes” de 1984. Um dos livros que pirou meu cabeção. Com este livrinho que era divido em duas partes, poemas e letras de músicas eu descobri mais sobre a possibilidade do poema do que com todos os clássicos que havia lido antes.

Para mim era um livro Rock’n’Roll. Poemas punks. Anárquicos. Tinha muito a ver com aquele moleque de 18 anos que queria ter uma banda de Punk Rock e que acabara de se descobrir poeta.

Pouco tempo depois fui apresentado ao Amaral e viramos amigos. Dormia algumas vezes em sua casa na Penha onde elel me mostrava músicas, vídeos de eventos que havia organizado, declamava poemas novos e ensinava-me como colocar letra numa música (coisa que nunca aprendi). Amaral me influenciou muito em vários setores.

De uma generosidade imensa, nada egoísta, vivia me dando livros, discos, fanzines e jornais. Eu ficava boquiaberto com o seu grau de desprendimento com as coisas materiais. E foi exatamente isso que ele fez quando lançamos o Desmaio Públiko. Nunca ficou com uma cópia. Distribuía as suas e mais, xerocava como um agente multiplicador.

Outra coisa bacana é vê-lo declamando, porque constantemente traz uma novidade. Lembro-me de uma apresentação que ele dividiu com o poeta Chacal no Teatro do BNDS, em que ele entrou por trás do público, cercado por bexigas (balões) vermelhas e veio estourando uma a uma e declamando um poema até chegar ao palco. Ou quando enchia uma sacola com poemas em forma de aviãzinhos e jogava para o público. Chamava-as de gaivotas. Ou quando declamava o poema do gato e do rato, em que trazia dois bonecos dos referidos animais, um em cada mão. Amaral é um performer e tanto.

Além de poeta é contista, letrista, produtor musical e pesquisador da MPB, trabalhou arduamente na confecção de verbetes de vários artistas de vários gêneros para Dicionário Cravo Albin da MPB. Escreveu um ensaio sobre a poesia na Baixada Fluminense, que conta um pouco da minha história, intitulado Centauros da Poesia.Tem vários livros publicados, produziu as coletâneas Conexão Carioca, dando voz a vários músicos e intérpretes. Assim como Marlos Degani, tem uma coluna fixa no site Baixada Fácil. Amaral é um cara do caral!

2 comentários:

Euclides Amaral disse...

Caramba Cézar! parceiro da vagabundagem filosófika! você resumiu, e muito bem, as nossas viagens diáfanas pela madruga carioca, na qual sempre ficávamos a varejo com outros centauros da poesia. Fiquei emocionado. Fiquei feliz em saber de tanta consideração!!! eles passarão... mas a gente passarinho!!!! (como disse um dos nossos gurus) beijão camarada!!! e a gente sempre com a saudade agarrada! amaral

Denise disse...

"Balaio da Serpente"- Eu quero!